Resiliência brasileira
Gonçalves Dias escreveu, em “Canção do Exílio”, que “nosso céu tem mais estrelas, nossas várzeas têm mais flores, nossos bosques têm mais vida”.
Há bem mais tempo, Pero Vaz de Caminha já sinalizava para o Rei Dom Manuel I, de Portugal, as riquezas da nova terra que viria a ser conhecida como Brasil: “...em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.” O principal, já dizia Caminha, era a sua gente inocente e ávida pelo saber: “O melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.”
Passados séculos da “descoberta do Brasil”, experimentamos mazelas na educação, saude e segurança, mas principalmente a falta de confiança nas instituições e nas leis. Temos um Estado “gigante”, ineficiente e extremamente “caro”, que caminha no ritmo letárgico de processos legislativos complexos e com grilhões excessivamente burocráticos.
Por que um país tão rico como o Brasil apresenta crescimento pífio na economia? Como pode um país, com um mercado consumidor interno superior a 200 milhões de habitantes, apresentar um ambiente de negócios hostil para a iniciativa privada? Com tantas riquezas naturais, minerais, históricas e culturais, o que impede o Brasil de desenvolver-se amplamente na economia e no bem-estar social?
Segundo o Banco Mundial, em um ranking de ambiente de negócios que avalia 190 países, o Brasil encontra-se na 109ª posição. O relatório Doing Business é divulgado anualmente pela instituição, apresentando como indicadores o impacto de leis, regulações e da burocracia no funcionamento das empresas em cada um dos 190 países estudados. Este resultado foi divulgado no final de 2018. A vida do brasileiro em geral pode ser analisada diante desses números.
Um emaranhado de normas tributárias, administrativas, trabalhistas e ambientais tornam o cidadão ainda mais dependente do poder estatal e muitas vezes incapaz de resoluções até mesmo em sua esfera íntima e privada. A esmagadora maioria da população sente-se despreparada, insegura e desconfiada. Há medo de empreender e até de manifestar-se inclusive entre seus familiares sobre diferentes temas do cotidiano.
Vive-se, na atualidade, uma certa violência branca. Não se tira o sangue, mas a capacidade de compreender a realidade e a vontade de influenciá-la positivamente. Há milhares de pacientes crônicos do Estado como alvos fáceis para líderes populistas.
Ao invés de o Estado atuar como alavanca para o desenvolvimento econômico e social e tornar o cidadão emancipado, através de uma política pública afinada aos valores da história brasileira, conferindo-lhe legitimidade, os governos aperfeiçoam-se cada vez mais no papel de Big Brother. Reduz a liberdade individual com normas técnicas nas atividades econômicas, reconhece ao Judiciário a função às avessas de legislador, mitiga a privacidade e os conceitos de sigilo telefônico, fiscal e financeiro, desacredita a imprensa e o controle social, enfraquece lideranças empresariais e entidades associativas, dentre outras ações bastante reprováveis.
Sobre tais intervenções estatais, não se está a fazer referência à quaisquer partidos ou governos, sejam eles de esquerda, direita ou o que for. Trata-se de postura governamental que acompanha a República brasileira desde o golpe de 1891 com diferentes “graus de contribuição”.
Em meio a paixões, hoje, os partidos e também os governos (o que é muito pior) apregoam ideologias de “cores” para que seus ocupantes (ou candidatos) encontrem eco nas dores de seus seguidores. Temos o retrato perfeito de um país dividido por expectativas frustradas com a política, iniciativa privada, administrações públicas e organizações não governamentais. Parece, a todo instante, que continuamos a viver em um eterno período eleitoral.
Diante de tantos problemas, a história, a literatura, as artes e os currículos escolares em geral passam a ser elementos essenciais para resgatar o orgulho e a resiliência do brasileiro. A história da imigração no Brasil é outra revelação importante para que o povo apresente-se resiliente, firme o bastante para superar suas dificuldades e exigir a transformação que as gerações presentes e futuras precisam.
Nossos ascendentes das Américas, África, Ásia, Europa e Oceania, dentre eles libaneses, sírios, israelitas, portugueses, italianos, alemães, japoneses e de tantas outras origens, traduzem amor, força, tolerância e alegria capazes de tornar a cultura brasileira uma pintura verdadeiramente global em um mundo sem fronteiras.
O brasileiro é verde, amarelo, azul e branco. A opção política, religião, raça, sexo, idade, opção sexual, poder econômico ou grau de instrução, não devem ser utilizados para práticas sectárias ou para fundamentar paixões cegas.
O reconhecimento das diferenças de cada um que compõe o povo e a tolerância mútua são atos que reafirmam a proteção da dignidade do ser humano e do direito de ser individualmente considerado em um país plural e democrático.
Através da educação e do estimulo ao empreendedorismo, o brasileiro há de despertar novamente a sua brasilidade. Lembrar-se de suas origens, conhecer e valorizar as suas riquezas tangíveis e intangíveis. Deve ser continuamente estimulado a empreender, resistir, superar desafios, gerar riquezas e raizes em solo tupiniquim. O estimulo não decorre apenas de ações governamentais, mas do esforço solidário dos diferentes atores sociais.
A resiliência deste povo saltará das páginas da história e, “nesta terra de Palmeiras, onde canta o Sabiá", o gigante estampará novamente a fraternidade que respeita e acolhe as diferenças.
Aluno na IPUC - Instituto Politécnico da Universidade Católica de M.G.
5 aParabéns. Boa reflexão