Resiliência: o disfarce das empresas tóxicas
Momentos de alegria e sucesso se intercalam com desafios e obstáculos, nos altos e baixos da vida. Por isso, a resiliência é fundamental para sobrevivermos pelas complexidades da “selva de pedra” e nos ajudar a construir uma trajetória de crescimento e aprendizado.
O termo resiliência vem da física e é definido como a capacidade de voltar ao estado original sem danos ou ruptura após sofrer uma deformação elástica. Já no campo da psicologia, resiliência pode ser considerada como a habilidade de uma pessoa desenvolver-se a partir da ressignificação de uma adversidade, ou seja, ela não voltaria ao estado original, mas minimizaria os danos causados pelo fato adverso.
Na prática, quer dizer que pessoas resilientes diante de uma adversidade, conseguem utilizar sua força interior para lidar com as situações de forma mais leve, preservando a sua saúde mental.
O termo resiliência no contexto do trabalho nas organizações refere-se à capacidade de se adaptar a mudanças, superar desafios e manter a produtividade em meio a situações adversas. No entanto, é preciso ter cuidado para que a resiliência não seja utilizada como disfarce para ambientes de trabalho tóxicos.
Empresas que cultivam culturas de medo, assédio moral, sobrecarga de trabalho e falta de reconhecimento frequentemente mascaram esses problemas sob a falsa bandeira da resiliência. Frases como "não leve para o lado pessoal" ou "vocês precisam olhar por outra perspectiva" são usadas para pressionar as pessoas a aceitarem situações inaceitáveis e manterem uma falsa positividade.
Chega a ser cruel exigir que as pessoas sejam fortes e felizes o tempo todo, é como negar toda a complexidade que constitui o ser humano. Algumas pessoas já nascem com um potencial de resiliência mais elevado, em função de traços de personalidade que são favoráveis, como autoestima, comunicação e inteligência emocional. Porém, outras em situações adversas até tentam conversar com os colegas de trabalho para aliviar a alma ou relatam a questão com seu gestor, mas boa parte acaba desistindo por sempre ouvirem para serem fortes e “não ligar pra essas coisas”.
Contudo, é preciso acender um sinal de alerta! Com o passar do tempo, a depender da situação, os sentimentos que foram minimizados e sufocados podem virar uma ansiedade crônica, um burnout ou até mesmo uma depressão.
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É importante lembrar que a resiliência não significa tolerância ao abuso. Ser resiliente não significa se submeter a humilhações, jornadas insanas sem descanso ou a um ambiente de trabalho hostil. Significa ter a capacidade de se recuperar de situações adversas, mas isso não implica em aceitar que certos cenários sejam colocados como normais ou saudáveis.
Não existe receita de bolo, mas ao invés de mascarar problemas com a retórica da resiliência, as empresas devem buscar criar ambientes de trabalho saudáveis, onde as pessoas se sintam seguras, respeitadas e valorizadas. Isso se traduz em:
Ao criar um ambiente de trabalho seguro e acolhedor, as empresas não apenas retêm talentos, mas também aumentam a produtividade, a criatividade e a inovação. Desenvolver a resiliência individual é importante, mas não deve ser utilizada como desculpa para manter ambientes de trabalho tóxicos. As empresas devem se responsabilizar por criar culturas organizacionais que promovam o bem-estar das pessoas e o sucesso do negócio, preservando a relação saudável entre o ser humano e seu trabalho.
Lembre-se: se você está em um ambiente de trabalho abusivo, não se sinta obrigado a permanecer. Existem leis trabalhistas e especialistas que podem te ajudar. Você merece um trabalho onde possa se sentir valorizado e feliz. Acredite!
LEI Nº 14.612 DE 3 DE JULHO DE 2023
I - assédio moral: a conduta praticada no exercício profissional ou em razão dele, por meio da repetição deliberada de gestos, palavras faladas ou escritas ou comportamentos que exponham o estagiário, o advogado ou qualquer outro profissional que esteja prestando seus serviços a situações humilhantes e constrangedoras, capazes de lhes causar ofensa à personalidade, à dignidade e à integridade psíquica ou física, com o objetivo de excluí-los das suas funções ou de desestabilizá-los emocionalmente, deteriorando o ambiente profissional;