Respeito não deveria ser benefício laboral

Respeito não deveria ser benefício laboral

Jesus era bissexual e não-binário”. Essa frase foi dita recentemente por uma criança em um vídeo publicado no Tiktok (que você pode ver clicando na frase acima ou aqui). Sacrilégio para uns, progressismo para outros, a questão que abordaremos aqui não tem nada que a ver com se pensa da figura histórica/mítica de Jesus Cristo, mas sim como esse raciocínio está ligado ao futuro do trabalho. 

“Aff, lá vai o progressista forçar a barra enorme para associar uma coisa à outra”. Se você pensou assim, sinto muito, mas você não está preparado para entrevistar a geração Z. Muito menos para liderá-la ou trabalhar com ela. Quem dirá para a geração que vem depois desta.


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Isso porque, um estudo do instituto Gallup, reproduzido pela plataforma de insights Statista, mostra que o percentual de pessoas da geração Z nos Estados Unidos que se identifica abertamente como membro da comunidade LGBTQIA+ é quase o dobro da geração anterior (os famigerados Millennials - só clicar na imagem para ver o estudo completo).


Uma vez aberta a porta do armário, é difícil fechá-la. Desse modo, aprender desde cedo a reconhecer que existe diversidade nas pessoas é algo que a criança do vídeo fez muito bem, mas que ainda falta ao mercado brasileiro. Não faz tanto tempo assim, em 2015, ficamos horrorizados em ver que 7% das empresas brasileiras não contratariam homossexuais em hipótese alguma e que 11% dos recrutadores apoiavam contratação de pessoas LGBT apenas para cargos de pouca visibilidade ou baixo mando hierárquico.

A questão que se põe aqui é: quanto de talento - e consequentemente quanto de revenue - essas empresas deixarão de ter, atrair ou acumular? Qual o custo de oportunidade que se tem em não integrar todos na cadeia econômica com oportunidades iguais?


Eu já discuti o tema neste outro artigo, mas vale reforçar essa reflexão e levá-la mais adiante: o que companhias e seus líderes estão fazendo para atrair essas pessoas, até pouco tempo atrás literalmente rejeitadas por parte do empresariado? A resposta para essa questão não está APENAS em fazer um processo seletivo inclusivo, mas sim em GARANTIR UM AMBIENTE COPORATIVO EM QUE O RESPEITO impere para todos. 

Aqui vale aplicar em Recursos Humanos a máxima dos “Momentos da Verdade”, muito conhecido em marketing. Enquanto em marketing esses elementos se ligam a consumidores, os momentos da verdade em RH garantem a fidelidade e a “recompra” da empresa por parte de seus colaboradores cotidianamente durante toda sua jornada na empresa. 

O tema de benefícios é um excelente exemplo. Uma experiência pessoal aparentemente banal, mas com grande significado: em um dos meus empregos anteriores, era vendido como benefício o fato de que a empresa alugava uma quadra para os homens jogarem futebol em determinado dia da semana. Benefício bom se você não é mulher, PCD, ou homem gay com traumas das aulas de educação física do colégio - sabe-se que, em média, 92% dos atletas apresentam homofobia moderada (77%) ou extrema (15%).

A questão não é acabar com a alegria de alguns, mas sim adotar benefícios que possam ser gozados por diferentes grupos o máximo possível, ter alternativas plausíveis para que outros colaboradores não se sintam excluídos.

Se eu ainda não te convenci que benefícios são um importante momento da verdade, vamos extrapolar: as políticas de licenças maternidade/paternidade da sua empresa consideram famílias homossexuais ou monoparentais? Qual o impacto disso na vida desses colaboradores e de seus filhos?

Entretanto, nenhum benefício vai superar o fato de simplesmente ser quem você é livremente. Outro exemplo pessoal: ao entrar no LinkedIn, foi maravilhoso ver que meu chefe não apenas era assumidamente gay no trabalho, mas que lutava pela inclusão de outros como nós nessa esfera. Isso me fez amar o LinkedIn à primeira vista. Saber que a minha empresa não faz parte daqueles 11% intolerantes que abordei anteriormente faz com que eu me dedique ainda mais todos os dias. Feliz por ser respeitado como pessoa, avaliado e recompensado pelos meus resultados.

RESPEITO deveria ser o básico, mas para mim foi um benefício.

E ainda o é. Não só para mim, mas para muitos como eu. Enquanto houver empresas com mentalidade excludente, respeito seguirá sendo o melhor benefício que poderia haver para os trabalhadores, especialmente para os que ostentam orgulhosamente algum tom da diversidade. Estes se revelam em quantidade cada vez maior. Cada vez mais frequente. São também cada vez mais jovens. Mais exigentes. Com habilidades cada vez mais essenciais para o mercado. Eles ocuparão pouco a pouco cada vez mais as cadeiras de liderança. Em menos de 15 anos, a criancinha que acha que Jesus poderia ter sido não-binário vai estar entrando na sua empresa, fazendo a parte dela para garantir um futuro mais aberto, acolhedor e colorido. Ajudando a colocar o respeito no centro de todas as relações. 

E você, onde estará até lá? Onde você está agora?

Jaqueline Stecanela Mandelli 🏳️🌈

Global Strategic Partnerships @ Uber for Business Brazil

3 a

Eu estava ansiosa por esse texto! Amo o jeito com que você consegue reunir tuas vivências com dados e projeções super embasadas! Concordo que temos que avançar muito nos benefícios e que respeito deveria imperar dentro do mundo corporativo :( uma pena pensar que ainda estamos distantes dessa premissa mas rever o vídeo dessa criança acendou a luz da esperança de que essa geração que chega ao mercado de trabalho reivindicará cada vez mais por isso!

Angel Quezada

Senior Corporate Account Director @LinkedIn

3 a

Mis respetos y mi apoyo para la comunidad LGBTQIA todo el año (no solo en el mes Pride) :)

Gabriel Joseph

Account Management | Relationship Management

3 a

Amigo, muito obrigado por compartilhar tua história e tua perspectiva. O futuro vai ser diverso SIM! E as gerações que entram agora no mercado de trabalho não vão permitir nada menos que isso!

Marcelo Nunes

Fostering relationships to achieve business goals

3 a

Amigo, sempre cirúrgico. O benefício do futebol society ainda se vê muito por aí, viu? É da mesma geração do video game na sala de convivência. Podem até ser ações interessantes, mas só funcionam pra uma parcela muito específica dos funcionários. Já passou da hora de repensar as políticas para que sejam mais inclusivas e diversas.

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