Responsabilidade Afetiva: na carreira?

Responsabilidade Afetiva: na carreira?

Muito tenho lido, visto e ouvido sobre responsabilidade afetiva. É certo que em 99% das vezes que me deparei com o assunto estava sim direcionado para com as relações e relacionamentos (inclusive virtuais). Mas será que uma temática tão importante, que inclusive envolve responsabilidade, não se aplica na carreira?

Uma rápida busca sobre a definição dessa expressão na internet — aquela clássica do Google e seus primeiros resultados — não retornou algo de extrema relevância científica. Contudo:

"Responsabilidade afetiva é querer e se responsabilizar pelo sentimento e pela expectativa que você cria em outro coração. É saber se colocar no lugar do próximo, entender o que ele espera de você, e retribuir porque é o que você também quer.”. (BORTOLO, Ana Carolina Faria; 2018).
"Responsabilidade afetiva é quando tratamos os sentimentos das pessoas com quem nos relacionamos com empatia, seriedade e respeito.”. (Grazie, 2018).

Separando as palavras em seus significados isolados:

Responsabilidade

1. obrigação de responder pelas ações próprias ou dos outros.

2. caráter ou estado do que é responsável.

Afeto

1. sentimento terno de afeição por pessoa ou animal; amizade.

Ou seja: a responsabilidade afetiva é a OBRIGAÇÃO em responder pelas ações que podem ser causadas afetivamente e/ou sentimentalmente em alguém. 

É ser claro, ser transparente com o sentimento alheio, não usando de joguinhos ou de oportunidades de interesse unilateral.

OK! Até então, onde isso pode refletir na carreira?

Estamos lidando com novas gerações: X, Y, Z, millennium, alfa, beta, gama, theta e sabe-se lá quais nomenclaturas ainda estão por vir. Cada nova geração carrega suas qualidades, aptidões, defeitos e limitações. São essas gerações que se misturam, formam e formarão o ambiente empresarial, o mercado de trabalho. É a mesma geração que hoje usa das redes sociais para externar sobre a responsabilidade afetiva.

Tá. Então agora a empresa deve se preocupar também com a saúde da vida amorosa de seus funcionários? A princípio, não exatamente para o propósito desse artigo.

As novas gerações estão crescendo em ambientes tecnológicos, exigentes, onde desde muito cedo são cobradas a aprender e deter uma enorme gama de conhecimento. O ambiente corporativo, se valendo disso, cada vez mais se torna exigente em seus processos seletivos para contratação, deixando muitas vagas em aberto, em alguns casos.

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Os futuros colaboradores das empresas já estarão chegando com uma alta carga de cobrança, senso de responsabilidade e conhecimento agregado. Se a organização não se preparar para lidar com o emocional de seus funcionários, tende a entrar em um ciclo de rotatividade constante, em que, não será ela [a empresa] a desligar os funcionários, mas eles próprios tomarem a iniciativa.


Ambientes de cobranças, em que gestores exigem e apenas pensam no bem da organização, tomam decisões equivocadas ou paliativas — literalmente para o momento, apenas — tende a fracassar na sua missão, a curto prazo. Estarão submetendo seus funcionários (emocionalmente frágeis) a cumprirem metas sem sentido ou impossíveis, a se espelharem em outros (os tais 'cases' de sucesso), a minimizar virtudes e qualidades, ao ponto que irão maximizar as fraquezas (muitas vezes ínfimas para o real desempenho do colaborador) — é o potencializar os defeitos de seres humanos extraordinários em função de comparações injustas ou irrelevantes.

Uma promoção nunca conquistada, uma bonificação nunca ganha, um reconhecimento, um elogio nunca verbalizado ou recompensado, uma resposta vaga em um processo seletivo (sem um Feedback real -- textos prontos). É frustar, sobrecarregar um funcionário produtivo, exatamente pelo fato dele ser capaz de acumular funções — ignorando o fato de também reprimir o tempo de criatividade, de pensamento, de desenvolvimento de novos conhecimentos — tornando quem era produtivo em regular, ou mesmo improdutivo. É desmotivar alguém com potenciais chances de crescimento pessoal e profissional por escolher manter-se na zona de conforto, de não arriscar, de não recompensar aquele digno de merecimento.

"Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. (Mateus 22:21)

Responsabilidade afetiva é saber, conhecer e considerar o que a empresa tem feito para manter seus funcionários motivados e alinhados com propósitos pessoais. É saber o que as pessoas que impulsionam a empresa desejam para esse relacionamento entre organização e colaborador. Responsabilidade afetiva, sem dúvida, se encaixa perfeitamente para com relacionamentos. Contudo, 

já parou para pensar que o maior relacionamento de uma pessoa pode ser com a própria carreira? 

Sim. Já presenciei vários casos de abdicação de relacionamentos e até da família constituída (marido e filhos) em prol da própria carreira. 

(E antes que possamos julgar essas pessoas, lembramos que temos livre arbítrio para fazermos o que quisermos — e focar naquilo que mais faz sentido para cada um de nós. Não devemos compactuar da mesma opção ou opinião; nem mesmo aceitar. Cabe a nós respeitar, mas sem julgar).

Se a carreira é tudo para essas pessoas, um casamento com uma organização, então por qual motivo a empresa estaria liberada da preocupação com a responsabilidade afetiva para com seus funcionários? Para que as coisas funcionem, será necessário cada vez mais importante o fortalecimento da relação empresa-colaborador e colaborador-empresa. Decisões equivocadas, atitudes errôneas, ordens impróprias podem gerar desestabilizam em qualquer (ou em ambos) os lados. Uma organização, pessoa jurídica, não tem sentimento emocional, por via de regra; retire um departamento por completo em um único dia da empresa (e não substitua tal função). A organização pode não responder emocionalmente, mas sentirá (sentir, de sentimento) e muito a ausência daqueles que são vitais para o seu funcionamento — principalmente se isso gerar queda de lucratividade.

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Vivemos em um país onde o desemprego só aumenta, a crise econômica instaurada não cessa, e quem está empregado tem medo da concorrência e de uma instabilidade. Mesmo que esteja sacrificando seu emocional, seu psicológico; mesmo que corpo e mente esteja em desequilíbrio. Mas a realidade de hoje não será a mesma para o amanhã. A nova geração poderá sim ser mais ousada, corajosa, determinada — alçar voos além das fronteiras do país, substancialmente em maior número do que já ocorre hoje — e os poucos qualificados que aqui restarem serão tão exigentes que empresas podem não estar mais adequadas a eles; empresas essas que vão padecer no seu próprio fracasso hoje alertado, mas ignorado. Um jogo nunca é jogado sozinho; um relacionamento de uma única pessoa não é relacionamento; uma empresa de uma só cabeça é apenas um ser humano brincando de super-herói.

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Deixe seu comentário. Nada deve ser uma verdade absoluta. Muito nada mais é que apenas impressões de uma realidade.

Parabéns Renan... vc foi perfeito!!! É fato que nas empresas há uma mistura de todas essa gerações... porém, qndo há a geração Zerinho com a Alpha (sei lá) de hj em dia o conflito é uma bomba atômica. É um falando que o outro não sabe de nada e mesmo não sabendo articula processos melhores que a geração cabelos grisalho (O que me inclui tbm) porém, a minha geração Y deve entender o tempo E a rapidez de pensamento da nova geração. O grande problema é a imagem errada que passam ... pois só dialogam por aplicativo... não conseguem conversar no café sem olhar o instagran primeiro, não focam se percebe o cel sem bateria... e isso chama a atenção dos demais, que comentam... "fulano não sai do celular..." até dirigindo" "até andando" "até comendo" "até se relacionando" As empresas precisam se adequar para as gerações tecnológicas sim... mas como lidar com sentimentos tecnológicos? Síndrome de Bounier ... solidão... amores de aplicativos... Sim sim, as organizações precisam ter um olhar mais cuidadoso com essas mentes criativas que de tão criativas concorrem entre si mesmos.

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