A responsabilidade da visão dos fatos
Fiquei muito chocada com o trágico e inesperado episódio em plena passarela de São Paulo Fashion Week, sábado, último dia de evento desta edição N47. Eu não estava na plateia, não tenho ido às temporadas já há alguns anos, mas nunca deixo de acompanhar. Vi esse movimento nascer, fiz parte dele desde o início e conheci Paulo Borges, o idealizador, muito antes disso.
A notícia da morte de um jovem modelo, bonito, promissor, com certeza deixou muita gente tão chocada quanto eu. Ver as críticas pesadas com relação à continuação do evento também. Bom, por um lado, preferi acreditar que ainda existe um pouco de humanização, que as pessoas ainda estão pensando como pessoas, que se sensibilizam, se emocionam, se entristecem... Mas também se precipitam...
Na mesma hora me veio à cabeça a cena em que Ayrton Senna espatifava o carro na sua derradeira corrida... Que continuou, dando a vitória a Michael Schumacher, com direito a comemoração e tudo entre os pilotos no pódio e suas escuderias. O brasileiro, àquela altura, já havia morrido.
Hoje assisti emocionada ao vídeo postado por Paulo Borges, o cara sensível e visionário, que colocou o Brasil na vitrine das temporadas de moda do mundo. Mas, mais que isso, sempre abriu grandes portas e possibilitou muitas oportunidades a tanta gente. E aquela vontade que tive de escrever sobre isso, ainda no final de semana, voltou com mais intensidade.
Sou do tipo que preza pelo respeito, que prefere ouvir as duas versões e que não gosta de apontar defeitos nem culpados. Somos todos vulneráveis e, quando expostos, ainda mais suscetíveis aos ataques. Vendo Paulo como Paulo falar sobre o que houve, do que se seguiu, das dúvidas, das difíceis decisões que tiveram que ser tomadas em estado de choque, das dores que envolveram tudo isso, tive ainda mais certeza de que não, não podemos, não temos o direito de crucificar, talvez nem de opinar quando não se conhece os dois lados da história. A minha impressão pode não ser a sua. Assim como a responsabilidade, que também é de cada um.