Responsabilidade social e diversidade e inclusão levadas a sério pelas empresas
Freepik

Responsabilidade social e diversidade e inclusão levadas a sério pelas empresas


O debate sobre a responsabilidade social das empresas, em especial suas políticas de diversidade e inclusão, não é novo. Ouvimos falar do tema faz bastante tempo, mas sempre me pareceu que a discussão não estava em sintonia com um movimento franco das grandes empresas, bancos, escritórios de advocacia etc. em reestruturar sua visão institucional e suas formas de recrutamento para a efetiva inclusão e aumento expressivo da diversidade nos seus quadros de empregados e colaboradores. Até víamos pessoas negras e representantes de outras minorias pelos corredores do escritório, mas muito raramente em posições de liderança ou subindo rapidamente na hierarquia.

Como uma mulher branca, nascida do lado privilegiado deste grande muro da desigualdade social no Brasil, sei bem como as relações pessoais e redes formadas desde a infância, nos colégios particulares do centro expandido de São Paulo, que avança pelo clube, condomínio na praia, faculdade, até as principais empresas e organizações, exclui quem é diferente e vem de outro background, mesmo que de forma sutil.

Infelizmente, o déficit educacional desde o ensino infantil, entre os que tiveram acesso a tudo que eu tive para poder chegar à vida adulta capacitada profissionalmente, e a maioria de brasileiros que não puderam usufruir disso que deveria ser direito de todos, é inegável. Sempre me incomodou empresas promoverem campanhas de diversidade e inclusão sem pensarem que também é responsabilidade delas completar a formação profissional deste jovem que entra como estagiário ou aprendiz. Sabemos como a proliferação de cursos superiores de qualidade duvidosa, combinada às falhas estruturais do nosso ensino básico – que inclusive causam a entrada de muitas pessoas na vida adulta com diferentes graus de analfabetismo funcional –, faz com que estagiários e jovens profissionais ingressem muito “crus” no mercado de trabalho.

Poucas empresas se propõem a encarar verdadeiramente essa questão e oferecer capacitação para fazer esses talentos diversos se desenvolverem e avançarem em suas vidas enquanto contribuem para que a sociedade diminua suas desigualdades. Mas tenho visto que isso está mudando para melhor nos últimos anos, na esteira de um movimento mais amplo para levar a sério as externalidades sociais, ambientais e de governança que as empresas geram no planeta.

Com o chamado ESG (Environmental, Social & Governance), as ações de responsabilidade socioambiental das organizações estão finalmente fazendo parte integral da estratégia, impactando nos resultados. A grande procura e boa valorização dos fundos ESG no mercado financeiro mostram que investir nisso traz retorno e as empresas estão realizando ações mais efetivas nas diversas frentes que formam a sigla, inclusive na inclusão real de pessoas de todos os perfis nas equipes e em uma mudança de cultura para permitir que elas se desenvolvam plenamente e subam na carreira.

Hoje estou em um ambiente profissional que leva a responsabilidade social muito a sério, com políticas que se alinham ao que eu acredito. O Mattos Filho foi pioneiro entre os escritórios de advocacia a falar do tema e a agir efetivamente. Há duas décadas atuamos com o pro bono de forma estratégica, impactando a sociedade em três aspectos: defesa e promoção dos direitos humanos, fortalecimento das organizações da sociedade civil e melhoria das políticas públicas. Em 2018 foi criado o Instituto Mattos Filho, projeto inédito no meio jurídico brasileiro, que promove o Direito e fortalece o acesso à Justiça para uma sociedade mais livre, diversa e democrática. Totalmente independente do escritório, o Instituto é mantido pelas sócias e sócios.

Entre as ações do Instituto Mattos Filho estão as bolsas de estudo e mentoria para estudantes de Direito com alto potencial acadêmico, mas economicamente desfavorecidos. Os objetivos são reduzir a desigualdade no acesso à educação superior de qualidade em uma área ainda bastante elitizada, e impulsionar a carreira de universitários que pretendam atuar futuramente no campo dos direitos humanos, da cidadania e do acesso à Justiça, contribuindo para a diversificação de profissionais no meio jurídico brasileiro.

Outro dos pilares do ecossistema social do Mattos Filho é a área de Cidadania Corporativa, responsável pelo Programa de Diversidade e Inclusão, que atua em cinco frentes, cada uma com seus respectivos grupos de afinidade: equidade de gênero, com os grupos 4Women e EmFamília; direitos LGBTQIAP+, com o Mfriendly; direitos das pessoas com deficiência, com o EmFrente; equidade racial, com o Soma; e liberdade religiosa, com o Lire. 65% do quadro de profissionais do escritório participam ativamente de um desses seis grupos.

Um desdobramento do Soma é o programa Soma talentos, criado em 2019 como uma ação afirmativa voltada para estudantes autodeclarados negros e negras cursando os dois primeiros anos da faculdade de Direito, do qual tenho muito orgulho de ser mentora. Menos de 1% de advogadas e advogados são negras e negros, segundo o Censo da Diversidade realizado pela Aliança Jurídica pela Equidade Racial em 2018, dado que por si só mostra a necessidade desse tipo de iniciativa. O Soma talentos oferece aulas de inglês e “português jurídico”, além de trilhas de capacitação e mentoria com sócios e advogados sêniores do escritório.

Teria muito mais a falar sobre a responsabilidade social no Mattos Filho, mas para não me alongar, recomendo a visita ao site especial do "Relatório Social Mattos Filho 2019-2020", que detalha todas as ações, além da publicação "Pessoas e Práticas: Como as Ciências Comportamentais podem promover a Diversidade e a Inclusão nas organizações". Só posso finalizar dizendo que minha admiração por esse escritório de advocacia com DNA social só cresce a cada nova iniciativa, sempre comprometida com a geração de impacto real. 

Roberta Fagundes Leal Andreoli

Sócia Fundadora do Leal Andreoli Advogados - Presidente da Comissão de Direito Aeronáutico da OAB/SP - Advogada especializada em Direito Aeronáutico, Mobilidade Aérea Urbana, Regulatório e Infraestrutura Aeroportuária.

2 a

Pontos muito bem colocados! Parabéns pelo artigo!

Camile Eltz de Lima

Sócio na Alexandre Wunderlich Advogados

2 a

Pauta importante

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos