Responsabilidade social, sustentabilidade ou ESG?
Em tempos de ESG, ressurgiu em mim a necessidade de clarear alguns conceitos que há tempos desafiam a minha habilidade de operar. Mesmo trabalhando com esses temas há mais de 10 anos, por vezes sinto alguns vazios epistêmicos que precisam ser fortalecidos para permitir a construção dos nossos diálogos e estratégias. Responsabilidade social e sustentabilidade sempre me desafiaram. Imagino que por haver tantas referências, experiências, ferramentas e fontes de informação. São conceitos transdisciplinares e complexos que estão associados ao viver, ao contexto e, portanto, dinâmicos.
E hoje, por sincronicidade, abri um video do Professor Daniel José da Silva (meu orientador da graduação e pesquisador do GTHidro) e me deparei com a sua seguinte frase: “responsabilidade é a capacidade de responder com habilidade”. No contexto empresarial, então, a habilidade que a empresa possui de responder às demandas, nesse caso, as sociais. Sociais significa das pessoas, das famílias, das comunidades, da humanidade.
Mas que demandas são essas? Todos devem concordar que a demanda só pode ser endereçada a partir do momento que conseguimos percebe-las. E aqui um grande ponto: nossa geração tem sérios problemas de percepção. Não é a toda que temos tanta dificuldade para construir essas habilidades. Para alguns o problema parte da ética, e aí não adianta nem começar. Para outros falta se emocionar (falta espaço, tempo, recursos ou oportunidades). E agora, como mãe, uma outra frase muito especial de Humberto Maturana e trazida pelo Prof. Daniel se consolida em mim: “o amor é a emoção fundadora do humano”. Sem ele navegamos com a indiferença, ou seja, com o não reconhecimento do outro e da natureza como legítimos. Temos praticado muito a indiferença às demandas sociais. Em algum momento da nossa vida nos desconectamos.
E aí é que entra a sustentabilidade. No final de semana abri um documentário do Netflix “David Attenborough e Nosso Planeta” e logo no começo ele traz que foi apenas em 1969 (ontem) quando o homem foi à lua que tivemos a possibilidade de visualizar o nosso planeta Terra, o “zoom -” necessário para percepção do contexto. E o contexto era o reconhecimento do limite. Seguido de catástrofes que extrapolaram todos os limites territoriais cunhamos, como sociedade, o conceito de desenvolvimento sustentável. Um desenvolvimento capaz de permitir à humanidade uma possibilidade de futuro. Não há maior demanda social do que a própria possibilidade de um futuro.
No âmbito global discutimos as mudanças necessárias para atendermos essa demanda. Hoje nosso norte são os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs), onde todos, nações, governos, empresas e sociedade organizada são chamados para assumir compromissos de contribuição. No âmbito local agimos. Ampliamos nossa percepção ouvindo as pessoas, principalmente dos que foram (e ainda são) tratados por muitos como não legítimos; ouvindo as comunidades e valorizando as suas experiências; e ouvindo a natureza (infelizmente ela não fala né – aí contamos com a maravilhoso conhecimento dos povos tradicionais e da ciência e tecnologia). O diálogo permite o agir estratégico.
Mas, as vezes, a percepção vêm do colapso mesmo, das crises. Pandemia é o maior exemplo. Nosso problema é o tempo para agir, não é? O Professor Daniel chama de “crucialidade do presente”, a necessidade de construção de uma consciência crítica de urgência e prudência sobre a compreensão da crucialidade do momento histórico que estamos vivendo.
E aí vem ESG, que surge do reconhecimento de que a trajetória de não respeito aos limites e aos bens comuns está suportado pelos interesses econômicos, e, portanto, os investidores são peças-chave para imposição dos limites para esse desenvolvimento econômico.
Então, responsabilidade social, sustentabilidade, ESG. Todos as abordagens são importantes. Precisamos mesmo é conversar mais e nos emocionar mais. E que nossos investidores, nossas empresas, nossos líderes, nossas comunidades e nós mesmos, inclusos, consigamos construir as habilidades necessárias para reconhecer e responder às demandas cruciais das pessoas, das famílias, da comunidade, da natureza, da humanidade e do futuro.
Profissional do setor de saneamento
3 aBoa, Giuliana. Tem que provocar esta discussão mesmo, para elevarmos o nível dos critérios mínimos de engajamento social e ambiental de cada pessoa física e jurídica.
Parabéns Giuliana , precisamos sim nós emocionar mais e desenvolver nossas sustentabilidades social , ambiental, econômica, financeira política, institucional, .....com mais sentimentos, responsabilidades e integração 👏👏👏
Sustentabilidade | ESG | Negócios Sociais | Licença Social para Operar
3 aBoa reflexão, até porque muita gente acha que o ESG é algo novo, que esta vindo do mercado financeiro, quando na verdade os conceitos se complementam! E como vc coloca no final do artigo, acredito que independente do nome, o importante é avançarmos com essas agendas!
ESG | Impacto Sócio ambiental positivo | Gestão de Stakeholders I Inovação | Negócios de Impacto I Economia Circular
3 aGiu!! Brilhante e inspiradora como sempre !! Artigo cheio de delicadeza e mensagens extremamente fortes ao mesmo tempo... saudades destas boas trocas !! Bora praticar a sustentabilidade!! Bjs