Revista Foco Empresarial
Escrito por Juliano Heinzelmann Reinert a pedido da ACISLO (novembro de 2018)
O que é Indústria 4.0?
Indústria 4.0 ou quarta revolução industrial é uma evolução da era dos computadores e automação industrial (indústria 3.0) que surgiu na década de 70. Em 2011, 40 anos após o início da indústria 3.0 surgiu na feira de Hannover o nome "indústria 4.0", uma iniciativa do governo alemão com o objetivo estratégico de liderança em inovação tecnológica. O conceito compreende que todas as máquinas, sistemas e robôs se comuniquem por redes, troquem dados e que acumulem milhares de dados para que após processados possam tornar uma informação e inteligência para ajudar a tornar processos mais eficientes. Também inclui o ambiente "Cyber-físico", que é possível simular cenários em ambiente virtual, antes de se tornarem reais, como por exemplo uma nova maneira de produzir um produto com mais eficiência e diversas outras tecnologias que apoiam processos mais eficientes e com menos erros e até mesmo a fabricação de produtos personalizados.
Em que nível o Brasil está na implementação da indústria 4.0
O Brasil entrou mais tarde na indústria 3.0, e é natural que esteja atrasado na implementação da indústria 4.0. Embora tenham muitas organizações que já estão na era da automação, muitas não são eficientes e possuem muitos gargalos que deixam o processo pouco eficiente, lentos e não capazes de se adequar rapidamente as novas necessidades de clientes. De acordo com minha experiência em avaliação de maturidade em dezenas de organizações, pude perceber que a maior parte de processos produtivos no Brasil são semi automatizados e possuem pontos de lentidão e pouca comunicação de máquinas com sistemas de gestão, em resumo, muitas indústrias não estão na eficiência plena da indústria 3.0 e como reflexo, uma baixa eficiência em resultados em termos de produtividade e resultados.
O que diferencia de uma indústria automatizada para a indústria 4.0?
A indústria automatizada (indústria 3.0) tem processos automatizados que podem produzir um produto com base em uma programação (sequência de instruções). A diferença para a indústria 4.0 está na comunicação das máquinas para grandes banco de dados (BIG DATA) que armazenam em tempo real estatísticas e dados em tempo real com o sistemas de gestão e tornam o processo mais inteligente, possibilitando tomadas de decisão em tempo real e permitindo um ganho em eficiência, além de possibilitar a fabricação de produtos personalizados e individuais na mesma linha de produção a custos de produção em massa.
Santa Catarina está atenta a essa tendência?
Sim, o estado de Santa Catarina é pioneiro na difusão de tecnologias que ajudam a modernização de sistemas produtivos. O primeiro passo para uma indústria mais inteligente e conectada é estar próximo de integradores e profissionais que entendam como implementar esta inovação e mudança e o nosso estado é rico em organizações que podem ajudar as indústrias a serem mais conectadas e inteligentes. Mas percebo poucos investimentos porque há insegurança na questão de retorno sobre o investimento. Mas lembro que para uma organização crescer é necessário maior engajamento em soluções de inovações disruptivas, que tornam atuais produtos concorrentes obsoletos.
Quais os primeiros setores que serão impactados e transformados pela indústria 4.0?
A nível mundial os primeiros setores que implementaram foram de indústrias automotivas e de bens de consumo devido à grande demanda de manufatura mais inteligente e produtos mais personalizados. Mas no Brasil não se limita a estes setores, todas as indústrias podem se tornar mais inteligentes e eficientes com base em dados de tornam informações e inteligência para tomadas de decisão muito mais eficientes.
A implementação da indústria 4.0 vai gerar "desemprego" ou novas oportunidades?
Cito um exemplo da indústria 3.0, quando houve a era da "digitalização e informatização" estoques que eram controlados manualmente por pessoas foram transformados por controle automatizado por meio de um sistema e banco de dados e isso exigiu que pessoas fossem deslocadas para outras funções que gerassem mais valor ao processo. Esta transformação da indústria 4.0 vai gerar a princípio processos mais eficientes com mais qualidade e menos erros, já que a qualidade será parte do processo de fabricação que gera dados o tempo todo. Mas processos que envolvem linhas de montagem muito manuais devem ser revistos e otimizados para garantir mais eficiência e produtividade, neste caso profissionais devem ser capacitados a novas tecnologias e focar mais em pesquisa e desenvolvimento e também em como atender melhor às necessidades dos clientes em respostas mais rápidas e inovadoras.
Além do empresário do setor industrial, a sociedade também vai ser impactada? De que forma?
Sim, a sociedade vai ser impactada porque precisa estar preparada para o uso de novas tecnologias que aumentam a eficiência. Novas profissões irão surgir, novas oportunidades, inovações serão comuns em curto intervalo de tempo e os produtos serão mais inteligentes e conectados.
Isso vai melhorar a qualidade do produtos ofertados?
Sim, a qualidade de um produto é muito mais que uma padronização, é atender a necessidade do cliente mais rapidamente com produtos mais personalizados e inteligentes. E o próprio sistema produtivo permite uma maior flexibilidade e aumento de qualidade porque vai gerar dados e históricos de produtividade e também possibilita a rápida adequação de um novo produto de acordo com a nova demanda.
Hoje, quem - país - está na frente na implementação da indústria 4.0?
A Alemanha é pioneira na abordagem e com certeza possui a maior quantidade de estudos de casos. Mas o Japão e Estados Unidos também acompanham esta tendência de tornar a produtividade mais inteligente e a organização que não aderir a novas tecnologias não será capaz de ser competitiva futuramente. Infelizmente o Brasil está na posição 72 em competitividade mundial e é necessário um maior engajamento entre governo-academia-indústria para melhorar a eficiência.