A revolução no modelo de gestão de saúde no mundo

A revolução no modelo de gestão de saúde no mundo

Algumas evoluções estão ocorrendo mundo afora nos modelos de gestão de saúde. Nos Estados Unidos, uma empresa chamada “Intemountain” vem reduzindo bastante os custos operacionais, baseada na mudança do modelo de remuneração de “Fee For Service (FFS)”, o atual modelo mais adotado no Brasil, para o modelo per capita, conhecido como “capitation” e muito pouco utilizado por aqui. 

"No modelo per capita a operadora passa a pagar aos prestadores um valor fixo e elimina todo o custo de ter controles sobre o que é pago"

Qual o segredo ? No modelo per capita a operadora passa a pagar aos prestadores um valor fixo e elimina todo o custo de ter controles sobre o que é pago, pois independente do que se faz no prestador, o valor pago é o mesmo, ao contrário do que ocorre hoje, onde a operadora busca controlar os possíveis exageros do prestador, pois ela paga pelo que é feito ao paciente. Esse modelo de pagamento per capita não é novo e já teve seus momentos de fracasso no passado, principalmente pelo fato dos prestadores reduzirem a qualidade a patamares que prejudicam o paciente, para obterem lucros maiores, pois neste modelo o controle do custo pode trazer vantagens financeiras para os prestadores de serviços. No entanto, um novo modelo composto vem fazendo sucesso nos Estados Unidos. Neste novo modelo, há um controle de qualidade moderno adicionado ao pagamento por pessoa, no qual os pacientes avaliam a qualidade do atendimento e das instalações dos prestadores de serviço e isso afeta a remuneração final dos prestadores. Dependendo da nota final que o prestador recebe, ele pode, inclusive, vir a ser descredenciado. Os prestadores com melhores notas são bonificados, o que lhes incentivam a buscar redução de custo e reinvestir na melhoria das instalações e atendimento, tornando o modelo sustentável.

 "Neste novo modelo, há um controle de qualidade moderno adicionado ao pagamento por pessoa, no qual os pacientes avaliam a qualidade do atendimento e das instalações dos prestadores de serviço e isso afeta a remuneração final dos prestadores"

Percebem a inteligência do modelo ? Vantagem para as operadoras que passam a ter um custo fixo e podem controlar melhor seus custos e precificar seus produtos de forma mais adequada. Vantagem para os prestadores de serviços que passam a gerenciar seus custos a partir do momento em que suas receitas são fixas e a redução de custos é a solução para obter uma margem melhor. Ao mesmo tempo, precisam ter qualidade no serviço prestado para aumentar suas receitas e também por que essa é uma condição imprescindível para manterem-se vivos no jogo. Por fim, vantagem para o paciente que receberá um serviço de qualidade, em instalações melhores.

A cereja do bolo ? o histórico tem apontado que a maratona de exames reduz, pois os prestadores passam a solicitar somente os procedimentos necessários, nem mais, nem menos. Não pedem tanto quanto pedem de procedimentos no modelo FFS, onde faturam por cada procedimento prestado, por que agora, no modelo capitation, precisam gerenciar custos e não podem pedir menos que o tratamento exige, pois caso contrário o tratamento pode não ser adequado e irão perder no ranking de qualidade, o que lhes reduzirá a remuneração e poderá até deixa-los fora do jogo. Os índices de mortalidade e de duração de tratamentos também são levados em conta na avaliação dos prestadores de serviços.

"Os índices de mortalidade e de duração de tratamentos também são levados em conta na avaliação dos prestadores de serviços"

O modelo Fee For Service (FFS),largamente usado no Brasil, não é ruim. Acredito que todos os modelos sejam bons mas devem ser usados no ambiente correto. O FFS já foi a solução para a gestão de saúde no Brasil quando o tamanho do business era outro. Hoje, com o desenvolvimento deste mercado no Brasil, há a necessidade de se aplicar um modelo adequado a evolução deste business.

No FFS, os prestadores geralmente pedem aos pacientes mais exames que o necessário. Especialistas dizem que isso ocorre pelo fato de serem remunerados pelo que executam. Isso os incentivam a aumentar o número de procedimentos solicitados. Neste modelo os prestadores também não recebem nada a mais por prestarem um serviço de qualidade e por isso geralmente há o crescimento nos índices de reclamação e insatisfação dos pacientes quanto ao atendimento dos prestadores de serviço, onde muitas vezes chegam a comparar o atendimento de conceituados hospitais ao Sistema Único de Saúde (SUS).

A revista Harvard Business Review Brasil – HBRBR deste mês está dedicada ao business saúde e traz boas matérias a respeito. Vale a pena a leitura para o enriquecimento do entendimento sobre o negócio e o preparo no entendimento dos debates acalorados sobre os diversos modelos de pagamentos em saúde. 

Nota: Este artigo é de produção intelectual do autor e, portanto, representa exclusivamente a sua opinião e não de qualquer instituição que o autor é parte ou representa. A reprodução só deve ser feita com a sua permissão.

Ivandro Oliveira, MSc e MBA

Superintendente Executivo Contábil e Fiscal | Icatu Seguros

7 a

Pois é. Tem a cultura do "jeitinho" e outras mais.

Leonardo de Assis Portugal

CFO, Controller, Comitê de Auditoria, Comite de Riscos, Conselho Fiscal, Conselho de Administração, Auditoria Interna, Controles Internos, Gestão de Riscos

7 a

Boa reflexão. Só não sabemos se funciona por aqui. Os "brazucas" sempre são criativos...

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