RH ágil conduzindo a Transformação Digital!

Ketty Sanches – Especialista em Transformação Digital - Líderes e equipes ágeis

Founder da Unboxrh

Tenho conversado com muitos líderes que vivem um impasse na implantação de frameworks relacionados à agilidade – o papel do RH nessa transformação digital. Muito já se sabe que as equipes de tecnologia começaram dominando tais formas de trabalho em busca de atender a demanda do negócio e melhorar sua capacidade de resposta. Agora, o que vemos são as novas tecnologias e os métodos que suportam a agilidade permeando todos os cantos e todas as organizações.

Nesta busca contínua por resposta, surpreendentemente, temos poucas ou quase nenhuma informação publicada sobre como integrar a área de Gestão de Pessoas ou RH à transformação digital. Percebo um relapso das organizações ao deixarem os RH´s em um papel marginal no processo, e do próprio RH, em aceitar! Como transformar um RH em RH ágil?

Em primeiro lugar, precisamos entender do assunto! O Agile adota ciclos curtos, iteracional, reflexão regular e correção contínua durante o processo de produção. Já a área de RH, em sua maioria, trabalha em ciclos semestrais e anuais. Um exemplo é a avaliação de Desempenho, realizada geralmente de forma anual. Quem você conhece hoje em dia, que espera 1 ano para receber seu primeiro feedback formal?

Em uma organização que adota o Agile, o RH não vai deixar de executar atividades que são pilares contratação, integração, treinamento e desenvolvimento, gestão de desempenho. Porém, precisa transformar sua rotina de forma que responda às mudanças incansáveis, fomente a cultura da agilidade e apoie na reformulação do estilo de trabalho nas organizações.

Tenho acompanhado algumas empresas que estão implementando a transformação digital. Estas organizações adotaram equipes ágeis, novas formas de trabalho, estrutura enxuta, menor hierarquia, e ações voltadas para pensar na experiência do cliente, e assim, atingir melhores resultados. Ah! Elas estão indo muito bem! Mas, embora as organização estejam neste caminho, esbarram com modelos de desenho de função que não corresponde a realidade, avaliações de desempenho que valorizam competências do século passado, feedbacks rotulados, estruturação de remuneração engessada e o tempo de resposta do RH...ah....o tempo! Cheguei a ouvir de um funcionário: - parecem dois mundos diferentes aqui!

Sou uma profissional de RH, como provavelmente você que lê este artigo, e isso tem nos incomodado, e muito! Sim, temos que agir! Se o Agile adota colaboração, foco no cliente, cultura baseada em equipe e melhoria contínua, e isso vai ao encontro dos anseios de qualquer RH, por que estamos aceitando o papel de assistir a tudo?

A equipe de RH deve ser o fio condutor do processo de agilidade e desempenhar um papel importante na compreensão de como essa mentalidade se adaptará a cultura organizacional e determinar maneiras de preparar seus líderes e colaboradores para essa transformação. O primeiro passo pode ser: OLHAR COM OS OLHOS DOS COLABORADORES!

1.     Visite as áreas da sua organização. Você deve pensar, eu faço isso todos os dias. Mas se dê uma chance. Visite com o olhar de um novo colaborador. Vejam o que fazem, o que pensam e como trabalham. Ficamos resolvendo problemas das áreas e passamos todos os dias pelo mesmo local sem ver realmente o que acontece.

2.     Fale com um colaborador novato e verifique se a empresa que ele tanto sonhou entrar é a mesma que ele está hoje. Você encontrará respostas surpreendentes.

3.     Entreviste seus colaboradores novamente. Eles estão no local certo? Estão felizes com o que fazem? Se pudessem mudar iriam para outra área? Qual?

4.     Por fim, investigue o papel do RH. Em uma organização que visitei, eles perguntam ao colaborador. Se você fosse do RH, o que faria?

Para entender melhor quais qualidades são necessárias para dar suporte a uma mentalidade ágil de trabalhar, todos deverão ter contato com outras formas de trabalho, ou seja, retirar as barreiras e olhar para fora de casa. A  equipe de RH precisa ver essas equipes trabalhando, entender conceitos e framework relacionados ao Agile. O segundo passo é: OLHAR PARA FORA! Sim, há vida lá fora!

1.     Visite empresas nativas digitais para entender o que torna suas culturas ágeis, responsivas, centradas na tecnologia e atraentes para os principais talentos.

2.     Entenda como a cultura nasce de forma colaborativa e o estilo das equipes ágeis em toda a organização. Ao visitar essas equipes, fale com eles. Entreviste-os para entender o que eles gostam nesse tipo de trabalho, o que é frustrante e o que eles procuram nos colegas, não apenas em sua própria área, mas também em outros grupos com os quais colaboram.

3.     Observe que, embora as hard skills sejam importantes, elas podem ser ensinadas. As soft skills necessárias para ambientes ágeis, tais como: curiosidade, humildade, resolução de problemas e colaboração - só podem ser incentivadas e modeladas através de RHágil.

Qualquer mudança a ser implementada em uma empresa, de qualquer modalidade, exige que líderes e colaboradores mudem seu mindset e estejam abertos às alterações no dia-a-dia. Impor mudanças sem adaptar a mentalidade dos envolvidos pode gerar resistências e dificultar a adoção da nova cultura. Uma alternativa é incorporar pequenos elementos ágeis na rotina da área e ir expandindo as mudanças. O terceiro passo é: ADOTE ROTINAS ÁGEIS.

Há várias práticas ágeis valiosas que, embora originalmente destinadas a equipes de desenvolvimento de software, podem ser ampliadas para toda a organização, inclusive para apoiar o RH ágil.

1.     Retrospectivas de RH: Uma retrospectiva é uma reunião regularmente cadenciada (semana ou quinzenal) com uma equipe envolvida em um determinado projeto ou iniciativa para revisar como as coisas se passaram desde a última retrospectiva. O tempo entre as “retrospectivas” deve ser curto, para permitir que novas ideias sejam testadas e para revisar sua eficácia. Por exemplo, a equipe de capacitação composta por vários profissionais pode se reunir regularmente para revisar a metodologia de avaliação de aprendizagem dos seus treinamentos, os pontos frágeis podem ser definidos em um trabalho ágil e as percepções compartilhada para otimizar seu processo. A equipe pode, então, decidir os próximos passos e modificar o processo em sua própria prática e assim testar o que decidirem na retrospectiva. O ponto central é direcionar o incrementar o trabalho que o RH está fazendo e entregar o valor pretendido. Retrospectivas revelam isso e ajudam a avaliar o impacto de pequenas mudanças em curtos períodos de tempo.

2.     Daily: Uma Daily é uma reunião diária de 15 minutos. Ela tem como objetivo disseminar conhecimento sobre o que foi feito no dia anterior, identificar impedimentos e priorizar o trabalho a ser realizado no dia que se inicia. As Daily normalmente são realizadas no mesmo lugar, na mesma hora do dia. Geralmente são realizadas na parte da manhã, para ajudar a estabelecer as prioridades do novo dia de trabalho. Neste momento conseguimos visualizar as dificuldades dos membros da equipe, o gestor de RH pode atuar em um item que merece maior atenção, além de conseguir antecipar possíveis dificuldades.

3.     Conhecer SCRUM: No Scrum, os projetos são divididos em ciclos (2 ou 4 semanas) chamados de Sprints. A Sprint representa um espaço de tempo do qual um conjunto de atividades deve ser executado. As principais etapas do projeto a serem implementadas são mantidas em uma lista que é conhecida como Product Backlog. No início de cada Sprint, faz-se uma Sprint Planning Meeting, ou seja, uma reunião de planejamento e o time ágil seleciona as atividades que será capaz de implementar durante o Sprint. A cada dia de uma Sprint, a equipe faz uma breve reunião (chamada Daily Scrum) para checar o foi feito no dia anterior, identificar impedimentos e priorizar o trabalho do dia que se inicia. Ao final de um Sprint, o time apresenta as atividades implementadas em uma Sprint Review Meeting. Finalmente, faz-se uma Sprint Retrospective e a equipe parte para o planejamento do próximo Sprint. Que tal testar um projeto através do framework SCRUM?

O Agile oferece muitos benefícios para grandes organizações, mas obter o conjunto completo de benefícios requer ir além de seguir uma metodologia, para se tornar uma mentalidade para toda a organização é preciso ser inventivo e detectar nas estruturas atuais oportunidades para ser Agile. Isso pode levar um tempo, experimentações, mas os resultados costumam aparecer em 1 ano.

Quando o RH se torna o fio que permeia a transformação digital na organização, podendo mapear de forma mais assertiva e exercer o papel de curador de conteúdo e facilitador da mudança. E assim, entender a “essência” do que os colaboradores precisam. A partir daí, conseguiremos descobrir as interações verdadeiramente valiosas que as pessoas desejam e, somente então, desenvolver projetos baseados nos valores da agilidade organizacional, mais produtivos, eficientes e factíveis em um determinado tempo, no tempo do mundo ágil.

Por um mundo mais simples e ágil!