RI - Criando valor para o Acionista
Uma questão com que sempre nos deparamos como profissionais de RI é qual seria o principal objetivo da área de Relações com Investidores em uma empresa de capital aberto. Sem dúvida nenhuma, o objetivo primordial dessa área é criar valor para o acionista. E como fazer isso? Bem, vamos falar aqui sobre três atividades que ajudam e muito a alcançar esse objetivo: cumprimento das obrigações legais junto à CVM e BM&FBOVESPA; administração da base acionária e redução do gap de percepção de valor da companhia.
A primeira atividade refere-se à necessidade das empresas de capital aberto no Brasil seguirem as regras e instruções estabelecidas pelo órgão regulador do mercado de capitais brasileiro, a CVM, e também pela BM&FBOVESPA. Quando a empresa também possui ações listadas em bolsas no exterior, como a NYSE, os requerimentos de compliance aumentam para também contemplar os regulamentos da SEC – Securities and Exchange Commssion. Desta forma, é fundamental que o profissional de RI faça o acompanhamento quase que diário da legislação aplicável ao mercado de capitais, mantendo-se atualizado em relação às alterações legais e novas exigências, evitando dessa forma, eventuais puxões de orelha e penalidades aplicadas pela CVM/SEC.
A segunda atividade que considero essencial é a administração da base acionária da companhia. Relações com investidores, na realidade, também é marketing, mas focado na venda das ações da companhia e não em seus produtos. Assim, o principal objetivo da gestão de base é transformar em acionistas aqueles investidores suscetíveis ao “por que investir na empresa e por que agora?” (crescimento, turnaround, pagamento de dividendos, etc.) e, com isso, reduzir o upside (preço alvo em relação ao preço na bolsa). Afinal, quanto menor o upside do papel, mais felizes estarão os acionistas (maior o valor do patrimônio deles).
Para isso, os RIs devem analisar as movimentações de seus investidores e, principalmente, garantir que sua base acionária tenha um mix adequado de diferentes perfis de investimento, visando uma maior liquidez das ações. Tudo isto deve estar alinhado à expectativa da administração da companhia, seja ela mais conservadora ou mais agressiva, mas sempre visando uma movimentação regular das ações e evitando extremos, como uma concentração de investidores de longo prazo que compram o papel e não negociam ou de investidores com viés mais agressivo, que compram o papel na busca de ganhos imediatos, causando certa volatilidade ao preço e volume das ações.
O ideal é conduzir um estudo de Shareholders ID para identificar como está dividida a base acionária da companhia. Levando em consideração o mix de acionistas almejado, partir para um estudo de Targeting a fim de identificar investidores cujos perfis mais se adequam àqueles estabelecidos pela administração e, também, à história de investimento da companhia. O próximo passo é o contato preliminar com os investidores “prospects” no sentido de entender o interesse e profundidade de conhecimento sobre a companhia e, na sequência, realizar o agendamento de reuniões para apresentação da companhia. O pitching de vendas também é fundamental e precisa estar afiado, incluindo customização da apresentação ao perfil do investidor a ser visitado e Q&A prévio.
Com uma base acionária mais pulverizada em termos de investidores de longo, médio e curto prazo e de perfis diferentes, focados em crescimento, valor, sustentabilidade, entre outros, as ações da companhia terão maior liquidez e menor volatilidade, tornando-se ainda mais atrativas a novos investidores.
A terceira, mas não menos importante atividade desempenhada pela área de RI, consiste na gestão das expectativas de mercado, quer entre os analistas de sell-side, quer entre os investidores propriamente ditos. Em outras palavras, a percepção do valor da companhia está intimamente ligada às expectativas que o mercado tem em relação a seus resultados futuros e à dispersão dessas projeções. Ou seja, assertividade é tão importante quanto homogeneidade. E quanto maior a assertividade e homogeneidade das projeções, menor o risco percebido para o papel e maior o prêmio pago por acionistas àquela companhia, ou seja, maior o valor aos acionistas.
A primeira vista, esta parece ser uma tarefa ingrata, mas na realidade, é muito mais desafiadora para os RI, uma vez que o alinhamento das expectativas do mercado quanto a resultados e homogeneidade exige um profundo conhecimento da modelagem do negócio da companhia e dos negócios dos principais pares mercadológicos. A interação e convencimento de investidores e analistas por parte dos RI requer também competência quanto ao domínio em relação à condução do negócio e à gestão de riscos, perspectivas, resultados, desafios e potenciais dificuldades da companhia.
A maneira mais eficaz de se conseguir esse alinhamento envolve a uniformidade de informações divulgadas ao mercado; o contato constante e proativo com os analistas; a recomendação da melhor forma de avaliar a companhia, com a sugestão, inclusive, do melhor modelo a ser utilizado; a transparência na condução dos fatos que envolvem a companhia e seu setor de atuação; dentre outros aspectos, sempre com o objetivo de evitar surpresas tanto para o bem como para o mal, que possam levar ao aumento do risco da companhia percebido pelo mercado, e a consequente perda de valor para o acionista.
Desempenhando essas três atividades de forma eficiente, a área de RI certamente verá seu esforço reconhecido na forma de criação de valor tanto para os acionistas como para a administração da companhia.
Elaine D Angelo
Sócia, MZ Group
Corporate Governance and Investor Relations
8 aExcelente Elaine. Parabéns!