São Carlos, SP - Belo exemplo de como o ensino público impulsiona a economia local, além de promover o desenvolvimento tecnológico do país.
Panorâmica de São Carlos

São Carlos, SP - Belo exemplo de como o ensino público impulsiona a economia local, além de promover o desenvolvimento tecnológico do país.

Não conhecia São Carlos até o mês passado, quando lá estive com minha esposa para acompanhar nosso filho em sua matrícula na USP e auxiliá-lo em sua instalação na cidade. A primeira impressão que tivemos foi de uma cidade limpa, linda, com quaresmeiras e manacás em flor por todos os cantos, de clima ameno (a altitude média é de 850 m) e povo bastante receptivo.

São Carlos fica a 238 Km de São Paulo, 145 Km de Campinas e tem uma população de 246 mil habitantes (IBGE, 2017). Seu índice de desenvolvimento humano (IDH) é de 0,805, número considerado muito elevado pela ONU. A economia é baseada na atividade industrial, agro-pecuária e, aqui onde quero chegar, pesquisa e tecnologia integradas ao ensino público, principalmente de nível superior.

Após palestra dos professores do ICMC da USP aos pais de calouros - iniciativa extremamente louvável - e rápida pesquisa na internet, fiquei sabendo que a cidade é conhecida como a Capital Nacional da Tecnologia, possuindo um parque tecnológico, o ParqTec, composto por duas unidades da EMBRAPA, o Centro Empresarial de Alta Tecnologia (CEAT), o Centro de Inovação e Tecnologia São Carlos (Citesc), o Centro de Desenvolvimento de Indústrias Nascentes (CEDIN, que é uma incubadora), dentre outros. Há também o Parque EcoTecnológico. As instituições de ensino públicas e gratuitas presentes em São Carlos são a Universidade de São Paulo (USP, campus I e II), Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), Instituto Federal de São Paulo (IFSP) e Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (FATEC). Também há uma instituição privada de ensino superior, o Centro Universitário Central Paulista (UNICEP). São oferecidos cursos de nível médio, graduação e pós-graduação nas áreas de engenharia, física, química, matemática, ciências da computação e outras, integrando a educação à tecnologia ótica, de novos materiais, instrumentação, aeronáutica, etc. Em São Carlos há um pesquisador doutor para cada 135 habitantes (dados de Jorge Oishi, UFSCAR), a maior proporção da América Latina!

Dados extra-oficiais indicam que a população de graduandos e pós-graduandos da cidade atinge mais de 29 mil alunos. Este número impressionante equivale a quase três vezes a população inteira da minha querida Arvorezinha, interior do RS! E aqui chego ao assunto do título: vocês conseguem imaginar o tamanho do impacto de 29 mil alunos fazendo girar a roda da economia da cidade? Estudantes precisam comer, beneficiando bares e restaurantes e sua cadeia de fornecedores; precisam moradia, beneficiando a indústria da construção civil e a mão de obra a ela atrelada, lojas de materiais de construção, donos de imóveis para aluguel, imobiliárias, pensões, eventualmente hotéis; necessitam comprar bens de primeira necessidade, beneficiando supermercados, mercados, padarias, açougues, farmácias, drogarias, etc.; necessitam comprar móveis e eletrodomésticos, beneficiando toda a cadeia industrial e de lojas; necessitam de serviços, como de internet, eletricistas, encanadores, pedreiros, chaveiros, montadores de móveis, cabeleireiros, médicos, dentistas, psicólogos e por aí vai... Por onde quer que andássemos, inevitavelmente lá estavam eles, facilmente identificáveis, muitas vezes acompanhados dos pais em suas compras. Some-se a isso o número de funcionários que cada estabelecimento comercial, industrial e de serviços contrata, mais os professores e servidores das instituições de ensino, e vocês terão noção da expressiva geração de emprego e renda! Somente a USP possui mais de cinco mil alunos, mil funcionários e mais de quinhentos professores!

Muitas vezes tenho lido, aqui mesmo no LinkedIn, comentários dizendo que é preciso privatizar tudo. O exemplo de São Carlos mostra que não é assim, pelo menos em relação à educação. Andamos pelos campus I e II da USP e pelo campus da UFSCAR e vimos a pujança destas universidades. Várias das mais de cem empresas de tecnologia do parque foram fundadas pelos próprios alunos. Antes mesmo do final de seus cursos de graduação, os alunos não precisam se preocupar em buscar emprego, as empresas vão até às universidades para contratá-los! O que o país precisa, embora seja um longo caminho a percorrer, é reforçar a educação pública em seus níveis fundamental e médio.

Agradecimentos pela atenção dispensada pelos professores do Instituto de Ciências Matemáticas e Computação (ICMC) da USP durante a palestra aos pais de calouros; à cordialidade dos recepcionistas do Indaiá Hotel; à forma extremamente gentil com que a corretora Fátima, da Lafic Imóveis nos atendeu, como se fosse uma mãe de aluno procurando lugar para seu filho morar; ao vendedor Diego, das Lojas Cem, que nos prometeu entrega de eletrodomésticos para o outro dia e cumpriu; ao Roberto, do restaurante Fritz; ao João e ao Marinaldo, da loja de móveis usados Henrique, pela simpatia e atenção. De Marinaldo, ele próprio pai de aluno da USP, ouvimos a frase mais significativa em nossa passagem pela cidade: "O que seria de São Carlos sem os estudantes?"

Saímos de lá com a certeza de que o vôo de nosso filho será feliz, com segurança, boa qualidade de vida e futuro promissor!


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