Quando o excesso de movimento pode ser prejudicial:
Síndrome de Ehlers-Danlos:
As síndromes de Ehlers-Danlos são um grupo de desordens do tecido conjuntivo que podem ser herdadas e são variaveis tanto na forma como afetam o corpo, como em suas causas genéticas. Elas geralmente são caracterizados por hipermobilidade articular (articulações que se estendem além do normal), hiperextensibilidade da pele (pele que pode ser esticada além do normal) e fragilidade do tecido.
A gravidade da síndrome varia muito dependendo da mutação específica. No entanto, cada tipo demonstra algum grau de envolvimento tegumentar e / ou hipermobilidade / frouxidão articular.
Segundo os Critérios de Diagnóstico Internacionais de 2017, existem 13 subtipos e para um diagnóstico preciso, existe a necessidade de avaliar a variação genética que está presente. Os critérios diagnósticos são apenas para distinguir uma SDE de outros distúrbios do tecido conectivo.
Os treze tipos, são os seguintes:
01) ARTHROCALASIA
02) DERMATOSPARAXIS
03) CIFOESCOLIOTICO
04) SINDROME DA CORNEA FRAGIL
05) CARDIACO-VALVULAR
06) VASCULAR
07) HIPERMOVEL
08) ESPONDILODISPLASICO
09) MUSCULO CONTRATURAL
10) MIOPATICO
11) PERIODONTAL
12) CLASSICO
13) CLASSICO - COMO
O diagnóstico em geral é feito na infância, mas não é uma regra, principalmente pela subestimação da hipermobilidade e desconhecimento da síndrome, podendo ocorrer já na idade adulta.
O diagnóstico dferencial é feito a fim de excluir outras condições de hipermobilidade. Entre elas:
- Sindrome de Marfan
- Sindrome de Loyez Diets
- Síndrome de Stickler
- Síndrome de Williams
- Sídrome de Aarskog-Scott
- Síndrome do Cromossomo X frágil
- Acondroplasia/hipocondrolasia
- Osteogênese Imperfeita
- Aneuploidias.
A avaliação da hipermobilidade:
A hipermobilidade pode ser quantificada com base no sistema de nove pontos desenvolvido por Beighton, o THE BEIGHTON SCORING SYSTEM, que consiste na avaliação da amplitude articular de 09 "segmentos" corporais bilateralmente, cada movimento positivo, corresponde a 01 ponto, quando a soma de todos os pontos for acima de 06, podemos dizer que existe hipermobilidade, porém ainda não é suficiente para fechar o diagnóstico como a Síndrome de Ehlers-Danlos, havendo a necessidade da presença de outros fatores. Abaixo os movimentos avaliados:
(A) Com a palma da mão e antebraço repousando sobre uma superfície plana com o cotovelo fletido a 90 °, se a articulação metacarpo-falângica do quinto dedo puder ser hiperextendida mais de 90 ° em relação ao dorso da mão, é considerado positivo, marcando 1 ponto.
(B) Com os braços estendidos para frente, mas com a mão pronada, se o polegar puder ser movido passivamente para tocar o antebraço ipsilateral, é considerado um ponto positivo de pontuação.
(C) Com os braços estendidos para o lado e a mão em decúbito dorsal, se o cotovelo se estender por mais de 10 °, considera-se pontuação positiva de 1 ponto.
(D) Em pé, com os joelhos travados em genu recurvatum, se o joelho se estender por mais de 10 °, considera-se positivo marcar 1 ponto.
(E) Com os joelhos travados em linha reta e os pés juntos, se o paciente puder se inclinar para frente para colocar a palma das mãos no chão, bem à frente dos pés, será considerado um ponto positivo.
OUTROS SINAIS:
- Sinal de Meténier (eversão das pálpebras superiores).
- Sinal de Gorlin (tocar no nariz com a língua).
- Hipermobilidade articular (dobrar o punho e polegar até ao antebraço).
- Frouxidão ligamentar
- Hipotonia muscular
- Predisposição para equimoses
- Resistência à dor
- Hiperalgesia
- Fadiga
- Ansiedade
- Depressão
- Migrânea
- Disautonomia ou disfunções autonômicas
- Refluxo gastroesofágico
- Sindrome do cólon irritável
- Prolapso pélvico
- Incontinência urinária
- Presença de cicatrizes (devido à fragilidade cutânea). Podem ser atróficas.
- Divertículo esofágico epifrênico
- Gengivite
- entre outros.
Em geral quando pensamos em flexibilidade, relacionamos à bem-estar, conforto e saúde, porém o excesso dela, como nas síndromes hipermóveis, pode significar um problema sério, podendo haver a presença de dor provocada entre outras coisas pelo stress articular, o desenvolvimento de osteopenia precoce (ossos menos densos), artrite, lombalgias, cervicalgias, distensões, luxações, etc.
[caption id="attachment_205" align="aligncenter" width="1149"] Também conhecida como síndrome do homen/mulher elástico(a).[/caption]
COMO A FISIOTERAPIA ATUA NA HIPERMOBILIDADE?
Não existe um protocolo definido de intervenções fisioterapêuticas para abordar as deficiências e limitações funcionais associadas à Sindrome de Ehlers_Danlos, em grande parte devido, à apresentação variada da condição para cada indivíduo afetado. Portanto, cada plano de tratamento fisioterapêutico deve ser especialmente criado para o paciente, dependendo do subtipo de SDE e dos sinais e sintomas desse paciente.
É durante a consulta fisioterapêutica, que as queixas são mapeadas e é feito o rastreamento das possíveis causas e alterações biomecânicas, então após isso é estabelecido o plano de tratamento.
Em linhas gerais as chaves para o tratamento são:
- Aumento gradual da força muscular;
- Correção de alterações da marcha entre outras biomecânicas;
- Preservar as atividades cotidianas;
- Condicionamento físico;
- Educação.
Um dos principais objetivos, a se ter em mente em toda condição hipermóvel disfuncional, é o de reeducar os limites corporais, de modo que o extremo das amplitudes articulares seja evitado. Além de tratar e/ou prevenir possíveis deformidades. Para isso o profissional deverá lançar mão de uma gama de recursos e técnicas tais como:
- Reeducação postural,
- Estabilização segmentar,
- Exercicios funcionais com foco em equilíbrio, propriocepção e controle motor;
- Exercicios de consciência corporal com espelhos;
- Treinamento de força muscular;
- Biofeedback;
- Dispositivos assistivos.
É bastante comum existir queixas de dor, devido a quadros de tenossinovite, condropatia patelar, cervicalgias, cefaleias, lombalgia, que após identificadas podem ser controladas com técnicas e recursos que visem a analgesia, tais como:
- Termoterapia,
- Crioterapia,
- TENS,
- Laser,
- Terapia Manual
- Liberação Miofascial
- PRTS
- Técnicas de relaxamento e Coping
O treinamento de resistência contribui para evitar luxações/subluxações recorrentes em função do aumento do tônus devido a excessiva froxidão. As atividades de resistência e alta repetição melhoram o tônus muscular estético e dinâmico, promovendo o aumento da estabilidade das articulações, durante atividades funcionais.
O condicionamento aeróbico ( caminhada, bicicleta, natação, hidrogineastica, hidroterapia) além dos benefícios cardiovasculares diretos, pode auxiliar no controle e redução da dor.
A fisioterapia é portanto um quesito fundamental, para a gestão da qualidade do movimento e de vida de portadores da Síndrome de Ehlers-Danlos e outras condições de hipermobilidade, desde que observe e respeite as particularidades de cada paciente e de cada condição envolvida na hipermobilidade .