A “Síndrome do impostor” e a aplicação da “Linha do tempo” como exercício para o autoconhecimento.
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A “Síndrome do impostor” e a aplicação da “Linha do tempo” como exercício para o autoconhecimento.

Tenho uma velha mania durante as leituras que realizo, a de cruzar os conhecimentos e palavras contidas em livros, artigos e documentários a que tive acesso. A chamada “costura das palavras” e todo processo oculto que carregam, me levam ao desafio de buscar sentido, nas falas e em tudo o que se constrói a partir delas. Durante o meu período na faculdade de Psicologia, em minha humilde relação com fenomenologia, digo humilde porque sou realista ao entender o quanto é mágico e desafiador a compreensão dos pensamentos propostos por Edmund Husserl e Martin Heidegger, nomes fortes desta vertente psicológica.

 São 27 de maio de 2023, 06h:38 min., estendo o meu braço e abro a obra “História pessoal e sentido da vida – historiobiografia”, da competente autora Dulce Critelli, para dar início e sentido aos pensamentos que virão a seguir, ao tentarmos (de novo, humildemente) encontrar, como objetivo, a relação entre a “Síndrome do Impostor” e a aplicação do exercício da “Linha do tempo” como ferramentas para o autoconhecimento. Para que isso aconteça e tenha sentido, faço a recomendação para a suspensão das nossas crenças limitantes, que nos afastam das verdades a partir de nossos diversos pensamentos. E sobre o ato de pensar Critelli diz:

“O pensar é pensamento quando a sua finalidade é o desencobrimento das essências ou das verdades primeiras e ultimas de todas as coisas, a exemplo da filosofia. É uma atividade que exige uma espécie de retirada do mundo corriqueiro e da ação, portanto, sem compromisso com qualquer questão prática ou imediata. O que é a verdade, o que é liberdade, por exemplo, são suas questões. E respondê-las não é tarefa que atende a nenhuma urgência da vida cotidiana. Além disso, o seu resultado não é permanente, mas tão logo alcançado se torna imediatamente alvo de novo questionamento. (CRITELLI, 2012, p. 23).

Diante desta rica e esclarecedora introdução e após o desvelamento do objetivo deste artigo, vamos a nossa reflexão.

O termo "Síndrome do Impostor" surgiu com as psicólogas Pauline Clance e Suzanne Imes, da Universidade do Estado da Georgia, em 1978. Através deste conceito elas consolidaram os sentimentos de insegurança, auto cobrança e a sensação de sabotagem própria, que são as características mais marcantes dessa síndrome.

 De acordo com Clance e Imes, quatro tipos de comportamentos podem influenciar a manifestação da síndrome de modo direto, corroborando para que o sujeito se auto-sabote. São elas:

1)   Realização de trabalhos pesados e duradouros, de maneira que os demais membros da equipe não tenham conhecimento de sua incompetência e incapacidade;

2)   Fazer-se de utilização de ideias contrarias as suas, acreditando que se as usasse não se sairia bem;

3)   Uso excessivo de simpatia para atrair os superiores, chegando a acreditar que seu sucesso tem total relação com este tipo comportamento;

4)   Comportamento de evitação, se escondendo do sucesso para evitar ver as ações de desprezo aos demais, tendo como foco ser bem aceito socialmente.

 

Almeida (2020, p. 25 apud Clance, Dingman, Reviere, & Stober, 1995; Henning, Ey, & Shaw, 1998) cita que a definição da síndrome do impostor caracteriza-se pela crença do indivíduo de que todo o sucesso por ele alcançado está relacionado a fatores como sorte, enganação, charme ou pelo acaso e não pelo merecimento, esforço, talento ou competência. As pessoas afetadas pela SI (Síndrome do Impostor) constantemente comparam seu desempenho com o de outras pessoas, enfatizando suas deficiências e ressaltando as potencialidades de outrem, além de viverem com o constante medo de serem descobertas como fraudes.

Agora, você leitor, deve estar se perguntando: “Sim Francisco, estou fechando o meu entendimento sobre a “Síndrome do Impostor”, mas qual a relação dela com a "Linha do tempo”?”


A "Linha do tempo", é uma ferramenta utilizada no processo de coaching e citada pelos autores João Alberto Catalão e Ana Teresa Penin na obra "Ferramentas de Coaching", de 2013. O exercício é uma representação gráfica de momentos que marcaram a vida das pessoas, desde o nascimento até a atualidade.

 Catalão e Penim (2013, p. 109) definem:


“A Linha do Tempo é, basicamente, uma representação gráfica dos eventos mais marcantes da vida do cliente até o momento presente, os quais contribuíram para muito daquilo em que ele acredita, aquilo que pensa, a forma como se comporta, as relações que se mantém ou, em suma, aquilo que ele hoje é, como pessoal, profissional, etc.”

A tarefa que compõe a “linha do tempo” se dá de maneira muito simples. O cliente, o aluno ou o profissional, traçam uma linha em uma folha de papel. Nessa linha, o participante elenca os momentos marcantes de sua vida, com a divisão por anos, englobando a infância (a partir do nascimento), juventude e vida adulta. 

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Exemplo de aplicação da "Linha do tempo" - Imagem do autor, 2023 - Adaptado a partir do livro de João Alberto Catalão e Ana Teresa Penin, "Ferramentas de Coaching"


Todos os acontecimentos citados na “Linha do tempo” são considerados um exercício para o autoconhecimento. Quando o sujeito se aproxima de quem é, através de episódios bons e não tão bons, será possível compreender a fundo tudo o que alavanca ou sabota a sua trajetória.

Todos estes momentos presentes na “Linha do tempo” são os que contribuíram para a formação das crenças, dos pensamentos, dos comportamentos, relações pessoais e profissionais. Em resumo, é aquilo que a pessoas são hoje em reflexo a todas estas vivências e escolhas.

Tá certo Francisco, mas eu ainda não entendi!”

Pois bem, a síndrome do impostor aparece principalmente quando o momento não é favorável para a pessoa-profissional. Dessa forma, a sensação por não estar produzindo, entregando ou realizando faz com que se potencialize a sensação do "eu sou uma fraude, uma mentira". Vale lembrar que ninguém está livre deste sentimento, essa sensação é inerente a todos, não é especifica a determinados níveis e cargos.

 E aí entra a aplicação da "Linha do tempo". Durante a preparação da atividade, ao relatar os acontecimentos da vida, por alguma razão (quais razões?), acabamos não lembrando das conquistas dos objetivos que havíamos determinado a época dos episódios. Mas, com calma, é possível elencar todos eles, sendo estes fundamentais para que tragam a novamente a tona: a confiança, consciência e a potência para encarar os desafios da carreira e também na vida pessoal, afinal, não é possível separar o que é profissional e pessoal, somos a construção destes dois pilares.

 Após a realização da “Linha do tempo”, vale a reflexão, tenho certeza que haverá fortes indícios de momentos de superação, enfrentamento e soluções para os problemas, da melhor maneira e com as ferramentas disponíveis naquele momento. E porque esquecer deles? , devem ser considerados como importantes, fazem parte da construção pessoal-profissional.

 E é super indicado a revisão da "Linha do tempo", certamente haverá algum acontecimento que possa ter passado desapercebido e que fez parte do crescimento.

E vale a dica para você, quando a síndrome do impostor pensar em dar as caras, tenha em mente que você é bem superior a estes receios e totalmente capacitado para lidar com fantasma que o assombra. Lembre-se de tudo que já passou até chegar aonde está e para realizar todas as conquistas de sua vida.

Para reflexão!

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, Aline Carvalho de. Sou uma fraude (?): Explicando a Síndrome do Impostor. Orientador: Valdiney Veloso Gouveia. 2020. Tese (Doutorado) – Curso de Psicologia Social, Universidade Federal da Paraíba, Paraíba, 2020. Disponível em https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/20341/1/AlineCarvalhoDeAlmeida_Tese.pdf - Acesso em 24.mai.2023;

CATALÃO, J. A; PENIM, A. T. Ferramentas de Coaching. 7ª Edição Atualizada. Lisboa: Lidel, 2013;

CRITELLI, D. M.1951. História pessoal e sentido da vida: historiobiografia - São Paulo: EDUC: FAPESP, 2012.


Sou Gestor de Recursos Humanos, Psicólogo formado pela Universidade Paulista e Pós graduado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie em Liderança e Desenvolvimento de Pessoas.

Rafael Prete Santos

Coordenador Garantia da Qualidade

1 a

Sensacional Fran Francisco Gomes aprender a reconhecer em si próprio o momento da ação da SI ajuda na recuperação da autoestima do profissional, mas não é uma tarefa simples e a ajuda profissional neste momento é importantíssima. Parabéns pelo artigo meu amigo.

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