Só faz gestão quem mede, quem não mede não faz gestão: discutindo o “S” do ESG
A sigla ESG (Environmental, Social and Governance) surgiu em 2005 durante um encontro liderado pelo secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Kofi Annan, que originou o relatório nomeado “Who Cares Win” frase que traduzida livremente significa “Quem se importa ganha”.
A partir daí uma agenda oficial foi estimulada e, gradativamente, o termo e o intento de unir instituições de diversos países em prol da sustentabilidade, tornou-se cada vez mais forte e transformou-se, indiscutivelmente, em aspecto lucrativo tanto para as empresas quanto para a sociedade e o planeta.
No entanto, neste texto refletimos: quais são os indicadores reais e, para além das métricas e metas de ESG, quais são os mecanismos que medem estes indicadores? De maneira restrita e específica aqui vou refletir sobre o ‘S’ que representa o termo ‘social’.
Antes, um parêntese sobre o significado deste termo na sigla, pois enquanto o E significa “desenvolvimento” e o G ‘governança’; ao ‘S’ é atribuído um sentido mais amplo e ao mesmo tempo específico por tratar da relação existente entre a empresa e seus funcionários, fornecedores e comunidade, abrangendo questões relacionadas à inclusão e diversidades.
Seguindo este raciocínio, ressalto que a nossa sensibilidade ao tema levou o Instituto Olga Kos a desenvolver uma escala cidadã, uma ferramenta que avalia este aspecto, o ‘S’ da sigla, ESG, e tem como objetivo escalonar empresas, instituições e organizações sejam elas do primeiro, segundo ou terceiro setor.
A escala cidadã IOK tem agrupamentos de acessibilidade atitudinal, arquitetônica, comunicacional, metodológica e programática e quando a aplicamos nestes espaços, nosso objetivo é encontrar soluções para que as empresas se tornem cada vez mais acessíveis, e não punir as empresas que, por alguma razão, não estejam alinhadas com os aspectos que orientam o conceito em questão e que se relaciona, por exemplo, com a acessibilidade voltada para pessoas com deficiência e/ou diversidade.
A escala cidadã (ECOK) é o primeiro programa e selo de inclusão com acreditação do INMETRO, de abrangência mundial que tem como foco medir o ‘S’ do ESG.
Já é possível medir a governança e os danos ambientais, mas o social ainda não é possível medir. A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, Lei nº 13.146, prevê a inclusão de todas as pessoas em sua sociedade, contudo a maior vulnerabilidade que existe é a vulnerabilidade social, por isso a Escala Cidadã (ECOK) é uma métrica que permite que se faça a medição do social através das empresas, através de como o indivíduo se relaciona com a sociedade e se está efetivamente incluso.
A ideia é refletir quais as nossas atitudes enquanto sociedade, em relação ao próximo, por isso desenvolvemos a partir de cinco variáveis com trinta e dois itens em cada uma delas, um algoritmo que está em fase final de creditação.
Será um novo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). O que notamos mundialmente é que o IDH só passou a ter crédito quando começou a ter uma influência financeira nos países, ou seja, quem acessava o crédito internacional, tinha menor ou maior taxa de juros em função da sua resposta ao IDH. A métrica do IOK nasceu há 15 anos, juntamente com o Instituto mediante o questionamento da vice- presidente e idealizadora, Olga Kos, “vamos fazer inclusão ou algo lúdico? Neste contexto, fizemos uma pesquisa internacional e com esta amostra percebemos que não existia uma métrica que reunisse todos estes indicadores através de um índice mundial.
Afinal, “só faz gestão quem mede, quem não mede não faz gestão” como ressaltei no título deste artigo.
Aqui no Brasil algumas empresas estão conseguindo se destacar quando se trata de fazer gestão que resulta em práticas realmente sustentáveis. O ranking “Best For The World”, lançado em 2021 e criado para reconhecer empresas de todo o planeta que tem conseguido adotar as boas práticas de ESG, por exemplo, listou 750 companhias que são lucrativas e geram impactos positivos para a sociedade e o meio ambiente. Destas, 39 empresas são brasileiras e, estão listadas na bolsa de valores, entre elas há desde gigantes de vários mercados quanto empresas que atuam com gerenciamento de resíduos, comunicação, investimentos, entre outras áreas.
Ressalte-se ainda que o ranking foi feito a partir de cinco critérios: comunidade, clientes, meio ambiente, governança e trabalhadores e o resultado final reuniu nomes que estão entre os 5% que atingiram as notas mais altas em cada uma das categorias citadas. O que não significa que as empresas que não são listadas na bolsa, por exemplo, e não tem faturamento elevado não possam ter atitudes sociais de transformação.
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Como vemos, a aplicação das boas práticas governamentais também eleva a lucratividade dos negócios, a Inclusão de pessoas com deficiência melhora as relações profissionais que servirão de estímulos, experiência e eficácia nas empresas.
Voltando ao tema deste artigo, a ECOK, com o resultado da aplicação desta nas organizações tem sido satisfatório, pois temos conseguido auxiliar os gestores para que entrem em conformidade com a legislação em relação aos aspectos já citados: acessibilidades arquitetônicas, atitudinais, comunicacionais, mercadológicas e programáticas.
Devo mencionar que ‘o grande pulo do gato’ da escala do IOK é a parte metodológica, atitudinal e programática porque esta também avalia o turnover. Este indicador que mensura a quantidade de funcionários que deixam uma empresa durante um determinado período, também fornece uma avaliação abrangente da cultura empresarial, assim como indica se a seleção de funcionários está sendo realizada da maneira adequada.
De forma que, ao fornecer dados sobre o número de profissionais que entraram e saíram das empresas, é possível obter um feedback 360 graus por meio da acessibilidade atitudinal. Esta, por sua vez, avalia a acessibilidade metodológica relacionada sobre como a empresa se organiza para a contratação de pessoas com deficiência. A ECOK não é uma ferramenta de punição e sim uma escala que corrige a rota e pode ser aplicada de forma preventiva.
Assim, na medida em que se vai alcançando novos patamares na escala, alcança-se meritocramente nas contrapartidas comerciais, governamentais e acesso a capital melhorando prazos e taxas e podendo mensurar melhorias aos benefícios em função da atuação social de cada empresa.
Por último, temos a acessibilidade comunicacional. Sobre este item, vale ressaltar que facilitar o acesso amplo a comunicação ultrapassa a linguagem de sinais (LIBRAS) e a oferta de material tátil para pessoas com deficiência visual. É preciso sim, criar uma comunicação realmente inclusiva e acessível para todas as pessoas.
Outro ponto importante é que a ECOK permite avaliar ainda o quanto uma empresa é meritocrática, pois sua aplicação feita a partir de análise de dados e conteúdo define uma pontuação e, por meio dela, podemos saber se uma empresa é plenamente inclusiva ou o oposto, nada inclusiva.
Acreditamos que esta escala surge, sobretudo, da provocação e questionamento sobre o quanto as práticas de ESG têm sido, efetivamente, aplicadas. Inclusive, já há muitos debates sobre se ESG é somente modismo e tendência ou se é algo que veio para ficar. Não podemos e não devemos permitir que o ESG seja somente Marketing de causa, sem medir os efeitos.
A transformação cultural e atitudinal só pode ser feita se todos os setores se unirem numa única causa.
Wolf Kos
Presidente
Instituto Olga Kos