Saúde emocional na infância
A definição de saúde pela OMS - Organização Mundial da Saúde - “Saúde é um estado de bem-estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doenças” nos convida a refletir de modo mais abrangente sobre saúde emocional que, além de abarcar o contexto mental, deve ser exposta e tratada com urgência no âmbito social e educacional.
A evolução nos trouxe ao que muitos pensadores chamam de “modernidade líquida”, conceito sócio histórico do sociólogo polonês, Zygmunt Bauman (2001), que aborda a transformação, fluidez e volatilidade das relações humanas no mundo contemporâneo, em que essa contemporaneidade é construída através dos pilares frágeis da insegurança e do consumismo (Vinicius Siqueira,2013), tendo como um dos principais causadores a globalização. Vê-se que as consequências dessas transformações estão cada vez mais explícitas e preocupantes. É considerado comum que jovens e adultos tenham substituído seus afazeres e suas relações interpessoais por meios digitais; que seu sono esteja prejudicado; que sua mente esteja sempre atenta e processando milhares de informações e que algumas ações e até alguns valores que os tornam humanos começaram a se perder, mas pode ser considerado comum que crianças comecem a fazer parte disso?
Pode ser considerado saudável que crianças quase sempre prefiram usar tablets e smartphones em vez de brincar em parques ou com alguém? Que lhes seja mais importante ter brinquedos e viajar para Disney do que de fato brincar e ter companhia? Que estejam preocupadas com sua aparência, o que possuem e sobre seus colegas a ponto de praticar bullying? Sabemos que é inevitável não as expor a tais condições, visto que vivem em uma sociedade moderna, contudo é de extrema necessidade e importância orientar e auxiliar as crianças sobre saúde emocional para evitar ou diminuir danos como baixa autoestima, autocobrança excessiva, ansiedade e outros transtornos emocionais.
Sabemos que na infância há diversas referências, a primeira e mais significativa está na família, por isso o ambiente e a relação familiar são essenciais para a saúde emocional e o desenvolvimento social e cognitivo. Sentir-se amada, aceita e incentivada promove segurança, confiança e bom desenvolvimento da autoestima e identidade. É importante e necessário que as famílias compreendam que dificuldades e perdas fazem e sempre farão parte da vida de seus filhos e que esconder essa verdade, na tentativa de poupá-los de tudo, lhes tira o direito de amadurecer e evoluir. É necessário que os membros familiares convivam efetivamente; que haja diálogo constante, orientações saudáveis pautadas não em cobranças e regras, mas na reflexão e no desenvolvimento e que haja orientação sobre expor e lidar com emoções e solução de conflitos.
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Como segunda referência há a escola, local em que a criança passa a enxergar o outro; ter rotina e regras; dividir brinquedos, materiais e colegas; internalizar alguns combinados que até então não conhecia e ter estímulos constantes para o desenvolvimento cognitivo e socioemocional. Neste cenário, é essencial que os professores trabalhem a autorregulação, orientando e incentivando desde cedo ações saudáveis e que promovam segurança, como expor emoções por meio do diálogo entre os colegas e reuniões com a sala quando necessário; dispor recursos visuais que facilite a expressão, como as ferramentas relacionadas a Zones of regulation, que trabalham a habilidade de monitorar e modular a emoção, a cognição e o comportamento para atingir um objetivo e/ou adaptar às demandas cognitivas e sociais para situações específicas; utilizar um espaço da sala para relaxamento com materiais sensoriais e almofadas; praticar movimentos de yoga e relaxamento; promover jogos cooperativos para incentivar o trabalho em grupo, a amizade e a empatia. Considerando que professores também são referência, suas atitudes impactam diretamente os alunos, logo é de extrema importância que estejam sempre atentos aos comportamentos emocionais das crianças, sejam receptivos e atenciosos quando procurados para conversar, as ouçam, acolham e orientem.
Considerando essas referências como a base do desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças, faz-se cada vez mais necessário que elas caminhem juntas, cada uma com sua importância e especificidades, para que, consolidadas, sejam uma ponte sólida que auxilie as crianças em sua passagem.
Mais que órgãos, sangue e ossos, o ser humano é feito de emoções e sentimentos, toda a nossa base se encontra aí. Imaginem que honra empoderar, orientar e ajudar crianças, aquelas pequenas sementes, a se perceberem, se fortalecerem, superarem o que preciso for e seguirem para se tornarem adultos emocionalmente fortes e saudáveis, respeitosos, empáticos e, finalmente, florescerem.