A Saúde Financeira dos Estabelecimentos de Saúde na UTI
É sabido que os Estabelecimentos de Serviços de Saúde, inclusive as Operadoras de Planos de Saúde, há muito tempo vivem em crise financeira, disputando os mesmos usuários/clientes, que a cada dia que passa, cai, devido a atual crise financeira em que o pais vive, com o índice crescente de desempregados.
Isso acontece por diversos fatores que inflacionaram os custos das operações da área. Tentarei abordar alguns casos, apenas para demonstrar como eles contribuíram com essa nova realidade catastrófica que vivem esses serviços.
Obras e reformas passaram a fazer parte desses serviços que se viram obrigados a fazerem para se adequarem às novas legislações sanitárias, ambientais e de segurança do trabalho, bem como para suportar as novas tecnologias ou equipamentos que necessitam de mais espaço ou de infraestrutura apropriada, ou ainda, para não ficarem distantes de seus concorrentes com capital aberto ou de grandes acionistas que montam verdadeiras obras primas em hotelaria. Exigindo investimento constante dos gestores, seja na aquisição ou na manutenção.
Existe ainda a mão de obra capacitada e qualificada que essa área demanda, com alto nível de formação e com experiência comprovada, aumentando os gastos com as contratações e manutenções desses profissionais, exigindo sacrifícios dos gestores para reter esses talentos que são cobiçados por diversas organizações, inflacionado os salários e benefícios.
Os materiais, instrumentos, medicamentos, reagentes e insumos são outros fatores relevantes pois são na grande maioria importados e sofrem com as variações cambiais e aumento do petróleo. Os serviços especializados, que na maioria das vezes requerem licença sanitária e comprovação de sua especialidade, também impactam muito na elevação dos custos. Sem contar com os recentes aumentos das Concessionárias, que dependem das condições naturais, e hoje são prescindíveis nessas organizações que requerem energia estabilizada e água tratada de boa qualidade para garantirem os resultados de seus serviços.
Como se não bastasse, os Planos de Saúde precisam oferecer serviços mais baratos, se quiserem manter seus usuários, pois com o crescente número de desempregados, com a baixa remuneração dos colaboradores, e com a meta de redução de custos das empresas, que são as grandes fontes pagadoras desses planos, começaram a abandonar esse serviço, somente nesse ano, tivemos queda de 23% dos beneficiários, conforme informações da ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar, que regulamenta as regras para as Operadoras de Planos de Saúde.
A situação das Operadoras de Planos de Saúde fica ainda pior quando analisamos o índice de sinistralidade, que em 2015 era de 83%, segundo dados da ANS e continua alto, conforme informes preliminares. Isto ocorre por conta das variações nas faixas etárias da população e das adesões de protocolos clínicos para aplicação adequada de conduta. Não obstante, a ANS estabeleceu regras claras para reajustes aos prestadores de serviços credenciados, uma medida necessária, porém como não era de praxe, exigiu um esforço grande dos gestores desse seguimento, para adequar sua plataforma.
O Governo por sua vez, na tentativa de aumentar a sua receita, tentou driblar a dificuldade de não criar ou aumentar os impostos, capacitando suas secretarias para aplicar multas e taxas, prejudicando ainda mais a vida dos Estabelecimentos e Operadoras de Planos de Saúde, empurrando-os praticamente para a UTI.
Perceba que as contas não fecham, é preciso encontrar uma nova maneira de trabalhar, que gere menos custos, com uma receita menor. Não é mais dieta ou regime financeiro é quase uma parenteral aos Estabelecimentos e Planos de Saúde, que estão desnutridos. Contar apenas com aumento da produção, não é mais satisfatório, pois quanto mais cresce, maior são os gastos com esses serviços, que são variáveis, mas permanentes, também crescem.
É preciso ser criativo. Os Gestores precisam encontrar novas maneiras de trabalhar em equipe e discutir com seus subordinados barreiras eficazes de reduzir despesas desnecessárias e criar receitas alternativas. Reduzir retrabalho então, passou a ser essencial, se já custa caro fazer uma vez, com uma receita quase nula, que dirá repetir ou fazer outra consulta, ou outro exame, sem gerar receita. Enxugar retrabalhos, despesas com processos e rescisões, pensar cada vez mais nas despesas indiretas e intangíveis, que estão ligadas as reclamações. Hoje é preciso refletir quanto custa um paciente e seu acompanhante parado na espera de uma consulta ou de um exame, que utiliza da energia elétrica para recarregar seu celular, tomam água, utilizam dos banheiros, tomam café, utilizam do WiFi, geram resíduos (hoje os ESS pagam para o tratamento destes resíduos), dentre outros. O novo Gestor precisa se questionar se as fontes pagadoras desses serviços querem pagar por esses gastos.
Pensando nisso e utilizando uma ferramenta da qualidade, o diagrama de Pareto, alguns investidores resolveram sair da zona de conforto e trabalhar os usuários que recusam atendimento do SUS e não possuem Planos de Saúde, ou seja, mais de 80% da população, oferecendo um valor intermediário, ou seja, um pouco mais que o Plano de Saúde paga aos Estabelecimentos de Serviços de Saúde e um pouco menos que um atendimento particular. Isso é perfeito para aquelas pessoas que pouco utilizam dos serviços médicos, que não querem ficar pagando por um seguro que não pretendem utilizar. Ainda aproveitam as condições financeiras existentes e oferecem cartões de crédito com milhagem para troca dos serviços oferecidos, ou seja, eles utilizam o cartão deles nas compras do dia a dia e somam pontos para converter em créditos para pagamentos de consultas e exames. Também parcelam os atendimentos sem juros em cartões.
Estão descobrindo uma receita que obriga a reflexão dos Planos de Saúde e dos Estabelecimentos de Serviços, com usuários em queda livre devido a atual crise, usuários cada vez mais carentes de opções, buscam a saída nesse tipo de serviço. É como trocar a compra da carne vermelha por carne de frango, ou por um ovo, ou por qualquer outra opção. É preciso entender para onde caminha esses usuários, se eles pretendem manter o pagamento obrigatório do INSS e mais o Plano de Saúde, como serviço complementar, com a prestação de serviço cada vez mais párea, ou seja, iguais, exceto na demora em conseguir o atendimento. Imagina um colaborador ou a empresa que pagou por meses um plano de saúde e na hora que mais precisa, no momento do desemprego, descobre que não tem mais direito e precisa recorrer ao SUS ou a uma consulta particular. A primeira pergunta que não se cala é, valeu a pena tanto sacrifício?
É preciso refletir esse mercado, criar novos grupos de estudos e viabilizar novas parcerias capazes de oferecer serviços baratos, mas sem gerar prejuízos financeiros para os Estabelecimentos de Serviços de Saúde. Já os ESS, precisam cobrar aquilo que é justo, trabalhar para reduzir os desperdícios e retrabalhos, receitas que não gerem valor, aumentando a confiabilidade de seus serviços e profissionais, com maior segurança para as fontes pagadoras. Para isto, é necessário, mais transparência entre as partes, uma revisão acerca dos procedimentos, materiais e medicamentos, bem como dos valores. Entender que o lucro será resultado e não o meio. Trabalhar cada oportunidade e trocar experiências para aprimorar esse relacionamento, que hoje é apenas comercial.
Eu espero um dia viver esse novo modelo de negócio, que ainda está longe de ser delineado, apenas desejado.
Ronaldo Damaceno
Gestor Executivo em Saúde