A saúde mental do homem
A Campanha do Novembro Azul surgiu para alertar sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de próstata e, cada novo ano, foi ampliando seu escopo até se tornar o mês de conscientização sobre a saúde do homem. Por saúde, define-se um estado de bem-estar biopsicossocial, conforme preconizado pela Organização Mundial de Saúde, e também associado à ideia de saúde integral, fundamental às políticas do SUS. Saúde integral significa se cuidar por inteiro, com autonomia e, ao mesmo tempo, com o suporte de uma forte rede de apoio: família, comunidade, trabalho, políticas públicas e profissionais da saúde.
Nesse sentido, a Campanha do Novembro Azul serve de oportunidade para superarmos a histórica displicência masculina com a própria saúde, sobretudo em seus aspectos corporais, sexuais e mental, tão carregados de preconceitos e tabus. Seguem, abaixo, sete pontos de reflexão com o intuito de promover a saúde do homem de forma mais efetiva:
1. Ser homem não significa ser apenas de um único jeito; existem diferentes masculinidades. Para isso, precisamos descontruir nossos preconceitos ao redor da ideia do que é ser um homem e nos afastar de antigas crenças, como: “homem não chora”, “homem não pode ser sensível e demonstrar afeto”, “homem tem que se vestir e se comportar de determinada maneira”, “homem gay ou homem trans não é homem”, dentre outras.
2. Combater o machismo se torna, então, necessário para combater o ciclo histórico de violências contra as mulheres, mas que também produz repressão emocional, silenciamento da dor e adoecimento mental aos homens e meninos que compartilham da cultura desigual entre os gêneros;
3. Para que esse silenciamento da dor – física e emocional - seja superado, é preciso que homens possam falar dos próprios sentimentos, expressar suas emoções e angústias. Não há nada de errado em chorar, sentir-se triste ou confuso, sentir saudades ou a perda de uma pessoa querida. Os pais e educadores possuem um papel relevante ao formar meninos que se sintam à vontade para se expressar e que encontrem espaços de escuta;
4. Além de sentimentos, os homens precisam conhecer melhor o próprio corpo: onde dói ou tem desconforto, onde dá prazer, qual a sensação provocada por cada parte quando estimulada. A saúde do corpo e da sexualidade masculina não se resumem ao órgão sexual ou aos músculos. Há muito que se explorar e descobrir sobre si mesmo; conhecer o funcionamento do nosso corpo é, também, uma forma de autoconhecimento.
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5. Autoconhecimento que requer autocuidados constantes. A saúde mental do homem precisa ser cuidada e, para isso, ele deve buscar novas formas de lidar com o estresse, a ansiedade e depressão, incluir rotinas mais saudáveis de atividade física e alimentação, investir em boas noites de sono e momentos de lazer e de qualidade com família e amigos, explorar o próprio corpo na hora do banho ou de cuidados com a pele, desconstruir antigos preconceitos sobre ser homem para dar lugar a novas perspectivas sobre ser humano e se desenvolver, cada vez mais, como pessoa, filho, pai, amigo e companheiro.
6. Como o autocuidado nunca é autossuficiente, homens precisam aprender e devem ser estimulados a buscar ajuda; ser homem não significa dar conta de tudo sozinho ou calado. Buscar ajuda de familiares, amigos e colegas de trabalho, compartilhar suas dores, manter uma rotina de acompanhamento médico e de exames periódicos, buscar o apoio de profissionais da saúde mental, como psicólogos, psicoterapeutas e psiquiatras;
7. Por fim, todos os seis pontos anteriores podem e devem ser multiplicados e incentivados entre os homens, para se formar uma rede, sempre maior, de proteção e cuidados da saúde mental. Converse sobre isso na sua casa, seu trabalho, na faculdade, em todos os espaços... seja um agente multiplicador de saúde e bem-estar. Todos ganham com isso!
* Roberto Alexandre Braga Gontijo é psicólogo e chefe do Serviço de Humanização (SDH), área que faz parte da Divisão de Gestão de Pessoas e que coordena o Programa de Qualidade de Vida no Trabalho (PQVT) da Funed.