Saúde Mental Feminina, por que precisamos falar sobre?

Durante seu ciclo de vida, meninas e mulheres são afetadas por problemas de saúde mental tendo o gênero como um fator determinante. Conforme a OMS (2009), a sociedade ainda falha com as mulheres nos momentos-chave de suas vidas, impedindo-as de alcançar seu pleno potencial. 

As mulheres, em sua totalidade, ainda não são devidamente reconhecidas pelas múltiplas contribuições produtivas e reprodutivas que oferecem à sociedade, o que pode representar uma carga maior na forma como os distúrbios mentais se manifestam entre elas. 

Dados estatísticos mostram que mulheres são mais suscetíveis a transtornos de ansiedade. Nas mais de 18 milhões de pessoas afetadas só por este transtorno no Brasil em 2021, estima-se que mais da metade delas sejam mulheres. 

Mas por que as mulheres são mais afetadas? 

Embora alguns estudos associem tal vulnerabilidade a fatores biológicos, é importante destacar que estes não são índices majoritários. Fatores sociais como as altas taxas de violência contra a mulher, bem como as condições precárias de suporte psicossocial, estilo de vida, situação socioeconômica e de saúde, desvantagem educacional e em termos de oportunidades no mercado de trabalho, padrões irreais de estética e cobranças externas impactam diretamente no bem-estar emocional das mulheres. 

Historicamente falando, mulheres vêm sendo sobrecarregadas com acúmulo de tarefas domésticas com a vida profissional. Embora tenham conseguido independência financeira e garantia de alguns direitos nas últimas décadas, as configurações sociais não as isentaram das antigas denominadas “funções” por completo. 

Durante a Pandemia de Covid-19, o cenário já bastante ruim sofreu ainda mais, resultando em um aumento significativo no número de casos de Ansiedade, Depressão e Estresse entre as mulheres, como mostram alguns estudos Nacionais. No grupo de mulheres trans, os números também são pouco favoráveis. De acordo com a ANTRA em 2020, 70% dos casos de suicídio foram de mulheres trans/ travestis. 

Em tempo, a prevenção ao sofrimento psicológico precisa fazer parte dos cuidados integrais com a saúde das mulheres. A conscientização deve ser o primeiro passo para uma transformação social mais consistente, contudo, é possível dizer que estamos em dívida histórica e outros passos mais precisam ser dados em caráter de urgência. No âmbito social, políticas públicas efetivas precisam ser estabelecidas. Enquanto isso, a nível individual, também é possível fazer algumas transformações imediatas. 

Saúde mental NÃO significa estar feliz o tempo todo. Saúde mental significa poder sentir diferentes emoções, positivas ou negativas, mas de maneira saudável. Não há também um único caminho para se alcançar essa condição, mas investir em saúde, conhecimento e relações sólidas pode ajudar no processo. Manter hábitos saudáveis de vida também são fatores de proteção às mulheres – por isso, vale a pena investir, dentro de cada possibilidade, em uma boa alimentação, atividade física e horas adequadas de sono e lazer. 

Garantir a saúde mental das mulheres é um dever social a ser praticado por todos. Seja respeitando seus limites, promovendo espaços de discussões, dando oportunidades reais de desenvolvimento e não as sobrecarregando com exigências pautadas em padrões inalcançáveis. E você mulher, claro, não deixe de buscar apoio e acolhimento psicológico quando necessário. Este direito é nosso! 

Fontes: 

Mulheres e saúde: evidências de hoje, agenda de amanhã. 1.Saúde da mulher. 2. Serviços de saúde da mulher- tendências . 3. Acontecimentos que mudam a vida. 4.Indicadores Básicos de Saúde. 5.Justiça social. 6. Identidade de gênero. 7.Política Social. 8.World health. 9.Developing countries. I. Organização Mundial da Saúde. (NLM classification: WA 309) ISBN 978-85-7967-059-6 (português). 

 Entrevista do Dr Joel Rennó Jr à Revista Ela da Febrasgo - Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.