Saúde no trabalho: os impactos do Home Office
Thiago Dana, 06 de janeiro de 2020
Se o trabalho remoto é ou não a melhor opção para buscar um aumento na produtividade no ambiente corporativo, é fato que todas as possíveis implicações de sua aplicação devem ser analisadas antes de sua adoção. Os recentes avanços na tecnologia da informação, como smartphones, laptops e conexões ultrarrápidas, possibilitaram uma explosão no número de empresas que hoje adotam este tipo de rotina. O trabalho remoto apresenta uma série de vantagens, tanto para o empregador quanto para o empregado, tais como redução de custos, flexibilidade de horário e melhoria na mobilidade urbana. No entanto, ele também levanta preocupações em relação aos possíveis efeitos prejudiciais à saúde.
É muito complicado chegar a conclusões claras e definitivas sobre os seus efeitos negativos. As diferenças legais e principalmente culturais entre os países que o adotam tornam quase que impraticável a elaboração de um estudo comparativo em larga escala que analise este aspecto. Em 2013, no entanto, a Organização Mundial do Trabalho divulgou um artigo técnico que buscou chegar a uma conclusão generalista baseada em informações específicas de uma série de países. O Brasil era um deles.
Quando falamos de saúde física, o grande vilão é a ergonomia. Um percentual bastante expressivo das pessoas que trabalham de casa dedica pouca ou nenhuma atenção à ergonomia de seu espaço de trabalho. Em complemento, cada vez mais os smartphones são utilizados como ferramenta de trabalho, seja na rua ou no domicílio. Essa nova dinâmica pode acarretar problemas posturais, dores no pescoço e nas costas, além de dores nos tendões dos pulsos e dedos em função dos longos períodos segurando o celular.
Os maiores desafios, no entanto, são relacionados à saúde mental. É verdade que pessoas que trabalham de home office tem um maior potencial de aproveitar um melhor equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. No entanto, esta dinâmica de trabalho também pode levar a uma maior dificuldade em gerenciar o seu tempo ou separar o trabalho da vida pessoal. Em complemento, ainda existe uma tendência de que quanto maior o nível de responsabilidade do cargo, mais abstrata se torna esta divisão.
Outro fator complicador é a sensação de isolamento. Um estudo realizado pela empresa Home Agent no Brasil em 2015 identificou que 63% dos participantes apontaram a sensação de isolamento como sendo uma das principais desvantagens do Home Office. Isso pode sugerir um maior risco dessas pessoas desenvolverem determinadas doenças psicológicas relacionadas com o sentimento de isolamento. Um estudo de 2013 realizado na Finlândia ainda sugeriu que este sentimento ainda poderia estar associado com uma maior incidência Síndrome de Burnout.
De certa forma, a disponibilidade 24 horas por dia é a maldição da vida moderna. As ligações e mensagens recebidas no celular raramente não são respondidas na mesma hora e o grande volume de e-mails pode levar as pessoas a se sentirem compelidas a estarem sempre disponíveis, independentemente do horário. Tanto os conflitos entre vida pessoal e trabalho quanto os altos níveis de intensidade na atividade profissional podem ser associados com estresse no trabalho e problemas de saúde e de bem-estar.
Em função disso, as pessoas que trabalham de casa possuem uma tendência a experimentarem sintomas de ansiedade e depressão numa proporção maior do que os que trabalham em um escritório tradicional. Dentre os fatores mais importantes estão a sensação de isolamento, solidão e a preocupação com que o trabalho seja notado/valorizado por seus superiores. Isso pode acabar levando a distúrbios do sono, tristeza, irritação, fatiga e até casos de depressão. A dificuldade em se concentrar em um ambiente doméstico e manter o foco nas atividades profissionais podem se somar aos fatores mencionados anteriormente e agravar ainda mais a situação. Todas essas questões combinadas podem trazer problemas muito significativos à vida pessoal e à performance profissional.
Dito isso, quais medidas poderiam ser adotadas pelas partes visando mitigar essas questões? De uma maneira geral, devem ser implementados sistemas de gerenciamento da saúde e bem-estar dessas pessoas que funcionem de maneira eficiente e consistente. É somente através do monitoramento regular que se pode garantir que os riscos estão sendo controlados de forma adequada. Programas de saúde que acompanhem os problemas posturais, ortopédicos e mentais são fundamentais.
Pelo lado gerencial, é importante que o funcionário não se sinta separado do restante da empresa e que continue sendo envolvido nas tomadas de decisão. Desta forma, é interessante realizar reuniões periódicas entre os colaboradores que trabalhem de casa para que interajam presencialmente com os que ficam alocados no escritório, incluir essas pessoas nos eventos da empresa e determinar responsáveis dentro da empresa que mantenham contato rotineiro com os colaboradores de home office, tornando-se os seus pontos focais de contato.
Por fim, o trabalho remoto pode trazer inúmeras vantagens para todas as partes, sejam elas os colaboradores ou a empresa. O tempo de trânsito no trajeto até o escritório é eliminado, custos com o espaço físico do escritório é reduzido, pode criar novas oportunidades de trabalho e até atrair mais colaboradores qualificados. Basta ter atenção e cuidado com a saúde para que todos possam melhor desfrutar.