Saber vender a cidade

No dia que li três textos e artigos que mencionavam Curitiba como exemplo de mobilidade urbana e modelo de transporte público parei para pensar quem estava errado: eles ou eu?  Naturalmente que alguma peça não se encaixava no quebra-cabeça pois há muitos anos o sistema de transporte curitibano é permeado de problemas e as velhas estações-tubo, modelos de outrora, somam mais problemas do que benefícios.

Verificando as datas de publicação, percebi que foram elaborados em 2009, 2011 e 2017, isto é, em datas já do declínio do  sistema de transporte, o que não justifica o uso desse referencial para a elaboração de um artigo científico, plano de mobilidade ou manual de planejamento urbano. Mas ainda sim Curitiba figurava capítulo único como modelo vigente até os dias atuais.

Embora tenha relutado em ler tais capítulos, pois o modelo antigo e promissor eu conheci e o atual e defasado que eu conheço, não era mencionado, acabei lendo para entender como essa imagem ainda se perpetua nos materiais de planejamento de cidades. Não há que negar que o modelo implantado por Jaime Lerner foi excelente e serviu de inspiração para muitas outras cidades, em especial o BRT e os ligeirinhos com suas estações-tubo.

Entretanto, esse modelo não é mais tão satisfatório quanto há vinte anos atrás. A rede de transporte não é mais integrada em sua totalidade com a região metropolitana, as tarifas se tornaram altas, o tráfego pesado aumentou o tempo de viagem, a falta de segurança com os constantes assaltos e arrastões, os “pula catracas”, estações tubos que se tornaram alvos de ladrões, além da falta de condições para os cobradores no inverno, são apenas alguns motivos que colocam o sistema de transporte de Curitiba em posição bem desvantajosa. Então, por que ainda supor que esse modelo funciona nos dias de hoje?

Não há dúvidas em relação ao poder de marketing de Jaime Lerner, que soube criar e vender o seu produto muito bem. Contudo, seus sucessores continuaram vendendo o mesmo produto, com o mesmo marketing sem atualizá-lo, apenas perpetuando o seu modelo ao longo dos anos. Aquele sistema de transportes que serviu de base para tantas cidades, hoje não é mais o ideal, pois faltam a ele aprimoramentos para que seja compatível ao cenário atual.

Com essa breve observação, verificou-se que os planos de mobilidade e artigos referentes ao planejamento urbano apenas repassam essa imagem criada há mais de duas décadas, sem conferir “in loco” sua real eficácia. Divulga-se o mesmo produto, com os mesmos modelos e dizeres, sem procurar investigar se as informações de vinte anos atrás ainda tem veracidade. O que ainda se faz é vender um produto velho e defasado, com a mesma propaganda e embalagem do seu lançamento. 


Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Vivian Koerbel Dombrowski

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos