Safra de 2024 consolida novo patamar de produção agro

Safra de 2024 consolida novo patamar de produção agro

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que a safra de grãos de 2024 deverá atingir 303,4 milhões de toneladas com queda de 3,8% em relação a 2023. O desempenho da produção agrícola passou a ser uma das principais variáveis acompanhadas pelos economistas para avaliar as tendências da economia brasileira, especialmente após os excelentes resultados atingidos no ano passado, quando o setor deve ter contabilizado aumento de 15,80%, bem acima da média do PIB, com expansão próxima a 3,0%, conforme os dados da pesquisa Focus divulgada na segunda-feira (05.02). (Os números finais do PIB devem ser divulgados no próximo dia 01 de março).

A ‘surpresa’ no crescimento agrícola tem sido apontada como a principal causa para a forte discrepância nas projeções para a economia, que apontavam para um aumento próximo a 1,0% em 2023, no início do ano. Os dados do IBGE apontam, além disso, que a safra deste ano será a segunda maior da história, só inferior à do ano passado. E indicam que o país está consolidando um ritmo de produção anual acima de 300 milhões de toneladas/ano, bem acima dos 254 milhões observados há apenas quatro anos. Ou seja, um acréscimo superior a 12 milhões de toneladas a cada ano, o que é um ritmo muito significativo. Pode-se afirmar que o setor pode continuar sendo uma alavanca positiva para o PIB nos próximos anos e talvez traga outras 'surpresas' positivas nos próximos anos.

Muitas análises têm sido divulgadas prevendo que o PIB crescerá em torno de 1,60% este ano, ou pouco mais da metade do observado do observado em 2023, já que o setor agrícola crescerá menos este ano. O Ministério da Fazenda continua apontando para um aumento do PIB próximo a 2,5% em 2024, que seria semelhante a 2023. Os números do final do ano indicarão se o mercado ou o governo estão com as melhores previsões.

Mas, se a produção indica um novo patamar, os preços deste ano estão piores do que os registrados no ano passado, o que poderá gerar reclamações por parte dos agricultores. O ministro da Agricultura já deu entrevistas assinalando que o setor precisará de algum tipo de ‘ajuda’.

Outro fator que poderá reduzir a margem dos produtores é o forte aumento observado nos fretes marítimos este ano. Segundo a plataforma Freightos Data, o índice global dos preços de um container atingiu US$ 3.392,8 na semana passada, o que representa aumento de quase 200% em relação aos preços vigentes em novembro passado. Esse aumento resulta dos ataques terroristas aos navios que trafegam pelo Mar Vermelho/Canal de Suez, que têm levado muitos armadores a evitar a região, buscando outras rotas bem mais caras. Como boa parte da receita dos agricultores brasileiros vem das exportações, é possível que muitos tenham de analisar com mais detalhes os custos dos fretes de exportação para evitar surpresas desagradáveis.

Os dados do IBGE mostram que a produção agrícola cresce principalmente na região Centro-Oeste e até no Nordeste. Um dos locais com maior expansão é a chamada Mapitoba, que integra parte de territórios do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia. A Bahia, por exemplo, já tem produção de grãos maior do que São Paulo. Outros estados nordestinos como Piauí e Sergipe estão ampliando gradativamente a produção agrícola. Esse melhor desempenho reflete a consolidação do chamado “Eixo Norte” de exportação de produtos agrícolas, após a construção de ferrovias e portos nas regiões Norte/Nordeste brasileiras.

Outro fato de destaque na produção agrícola vem da forte expansão do milho, especialmente na ‘segunda safra’, que era chamada de ‘safrinha’ e hoje supera a ‘safrona’. A segunda safra é plantada em março/abril, logo após a colheita da soja, e era irrelevante há poucos anos. Melhorias genéticas realizadas a partir de experimentos da Embrapa consolidaram essa opção, que tem gerado resultados cada vez mais robustos. A soja continua sendo o principal produto agrícola brasileiro, mas o milho aumenta a sua participação a cada ano.

O milho da segunda safra passou a ser mais resistente ao período de pouca chuva graças à raízes mais profundas. A melhoria veio da observação dos técnicos da Embrapa sobre uma planta típica do Nordeste brasileiro, o mandacaru. Os técnicos estudaram o mandacaru e concluíram que a sua resistência à seca vinha do fato de ter raízes mais longas, permitindo aproveitar melhor a umidade mais profunda do terreno. A partir daí fizeram experiências com o milho, que trouxeram bons resultados.

A queda nos preços das commodities não atinge apenas os produtores brasileiros. Dados da plataforma Trading Economics apontam que diversas commodities têm registrado preços inferiores aos observados há um ano. Além dos produtos agrícolas a queda atinge também metais e animais. Ou seja, há uma ‘desinflação’ generalizada no mundo e os produtos agrícolas fazem parte deste processo.

Um ponto positivo nesse processo é que, se para os produtores essa tendência pode indicar receitas menores, os consumidores podem ser beneficiados. Como a produção está se consolidando em patamares elevados, os preços em queda podem resultar em produtos agrícolas mais baratos na mesa dos brasileiros.

 

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