Saiba por que o spread bancário no Brasil é tão alto e como isso afeta a sua vida
Você já deve ter percebido que quando deixa dinheiro no banco para render, os juros que ele te paga são menores do que os juros que ele te cobra quando você precisa pegar dinheiro emprestado. Essa diferença entre as taxas é chamada de spread. Acontece assim: o banco capta recursos, via CDBs e outros produtos, e paga uma taxa de retorno de 10% ao ano, por exemplo. Depois, empresta esse dinheiro cobrando 50% ao ano.
Isso quer dizer que toda essa diferença é lucro? Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), 56% do spread pode ser explicado pelos custos da inadimplência e o lucro dos bancos representa 23% do total. O restante é direcionado para outras despesas com administração, tributos, compulsório e Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Fatores macroeconômicos como a taxa básica de juros, o nível de atividade do mercado e a inflação também são usados como justificativas para a elevada taxa de spread bancário por aqui.
O Brasil possui um dos spreads mais altos do mundo. De acordo com o Banco Central, a média anual de 2011 a 2016, foi de 41% para crédito livre de pessoa física, de 83,7% para crédito pessoal não consignado e 15,1% para consignado.
Enquanto em outros países emergentes, como China e Rússia, foram respectivamente 2,9% e 6,5% em 2015, ano em que o Brasil registrou 31,3%, bem acima da média global também, de 6,2%, segundo dados do Fundo Monetário Internacional.
Roseli da Silva, professora de economia da FEA-RP/USP, aponta a baixa concorrência do sistema bancário brasileiro como outro fator implicante que contribui para o spread elevado. Já que, Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú-Unibanco e Santander, juntos, concentram pelo menos 83% dos ativos, segundo o Banco Central.
“O papel do Banco Central, neste caso, passa pela sua função reguladora e sua atuação esperada é a de zelar para que haja mais concorrência no sistema bancário brasileiro: um mercado com mais bancos leva à queda dos spreads pela concorrência entre eles para atrair tomadores de recursos”, explica Roseli.
Impacto econômico
Não somente os consumidores são afetados pelas altas taxas de juros do mercado de crédito bancário, mas também as pequenas e médias empresas que têm neste segmento sua principal fonte de financiamento para seus projetos. Assim, se os recursos disponíveis fossem emprestados a taxas mais baixas, não só o consumo seria maior, como ainda o investimento produtivo, elevando a demanda agregada na economia e propiciando uma saída mais rápida de situações de baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ou de recessão, como a atual.
Uma pesquisa feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) com empresários de todos os portes nas 27 capitais constatou que, entre aqueles que nunca recorreram a empréstimos e financiamentos, quatro em cada dez atribuem a decisão ao fato de considerarem os juros elevados. As altas taxas cobradas pelas instituições financeiras são o principal motivo para 38% dos entrevistados dos ramos do comércio e de serviços não buscarem crédito para investir e desenvolver seus negócios.
Por outro lado, entre as justificativas dos bancos está o alto índice de inadimplência, que segundo estimativas do SPC Brasil e da CNDL atinge 39,19% da população adulta brasileira, um total de 59 milhões de pessoas negativadas no país. O levantamento aponta que os bancos concentram a maior parte das dívidas (48,36% do total) e por isso precisariam “precificar” o risco pelo empréstimo com taxas mais altas. No entanto, essa situação apresentou uma melhora em abril, quando foi registrada uma variação negativa de 7,13% no volume de dívidas em relação ao ano passado.
Em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado sobre o assunto, realizada em maio, foi consenso que o spread no Brasil é “um ponto muito fora da curva” se comparado ao praticado em outros países. Para redução do spread e dos custos administrativos, o presidente da Febraban, Murilo Portugal, sugeriu, entre outras medidas, a adoção de contratos por meios eletrônicos remotos, a melhora no marco legal do empréstimo consignado privado, o aperfeiçoamento da Lei de Falências e a inclusão de duplicatas em registro eletrônico de ativos.
Texto publicado no Yahoo