Saneamento básico na pré história

O saneamento básico no Brasil foi negligenciado desde sempre. Por volta de 1550, Salvador já possuía o Curral do Conselho (Matadouro), um progresso trazido por Tomé de Souza, primeiro governador-geral. Como os dejetos dos abates eram jogados no rio, logo ele estava poluído e ganhava o nome de rio das Tripas. Segundo Eduardo Bueno (“A coroa, a cruz e a espada”), dois séculos mais tarde, Luís dos Santos Vilhena, um dos maiores cronistas da Bahia, escrevia: “Não há dentro da cidade (Salvador) uma fonte cuja água se possa beber”. Outra cidade brasileira que tem certos registros relacionados com saneamento é Recife, cujo saudosismo da época holandesa (1630/1654), aponta Maurício de Nassau como o primeiro a se preocupar com o tema. Contudo, ao olhar a capital pernambucana hoje, nota-se que um terço da população reclama exatamente da falta de saneamento básico, de esgotos a céu aberto e da falta de coleta de lixo, serviço que teria sido implantado por Nassau. No resto do Brasil não é diferente.

MANAUS: um dos exemplos mais dramáticos do Brasil refere-se à cidade de Manaus, banhada nada menos do que pelo rio Amazonas. Ali, sob a desculpa de buscar o desenvolvimento para o norte do País, criou-se a Zona Franca de Manaus, que absorveu investimentos industriais nas últimas décadas, com juros subsidiados e produzindo com incentivos fiscais. Não houve nenhuma preocupação com o saneamento básico e os três governos – Municipal, Estadual e Federal – carregam a responsabilidade pela deterioração ambiental do local. Não houve qualquer providência antecipada capaz de prever os investimentos que teriam sido necessários para evitar a tragédia atual. Nenhuma explicação cabe em tal caso, repetido Brasil afora. A administração pública brasileira é incompetente e irresponsável em várias (ou todas) áreas, mas o déficit em relação ao saneamento, somadas todas as carências, deve ser brutal.

PROBLEMA VELHO: em relação aos dejetos humanos, o que se constata é que é um problema tão velho quanto a humanidade. Hoje existem fundações e organizações governamentais cuidando do tema e orientando melhor as comunidades. Uma delas é a Recode (www.recodenow.org/about), com boa equipe. Molly Winger, que faz parte dessa equipe, fez importante palestra (ver em www.ted.com) alertando: “Queremos estimular o uso de práticas que adotam o desenvolvimento sustentável. Nós queremos mais inovação”. Fez também uma revelação surpreendente; “Nós achamos que este problema está resolvido aqui nos Estados Unidos. Mas não. Aqui as pessoas ainda ficam doentes por beber merda de esgotos a céu aberto. Por ano, 7 milhões de pessoas ficam doentes e 900 morrem”. Embora uma minoria em relação à grande população americana, isso é realmente preocupante. Imagine então na América Latina em geral e no Brasil em particular.

INOVAÇÕES: há países e cidades com projetos inovadores com técnicas realmente incríveis, por exemplo para o reuso das águas. Outro ponto importante é a utilização de dejetos como fertilizantes. São inúmeras as possibilidades nos dois campos. Vancouver no Canadá está inovando quanto ao teto dos edifícios, hoje já arborizados, especialmente, em prédios públicos ou maiores como shopping centers. Existem cidades brasileiras inovando? Alguma que apresente legislação nova e corretora de situações degradantes do meio ambiente ou do urbanismo? Caso alguém tenha notícia a respeito de inovação, legal ou administrativa, em alguma de nossas cidades, favor comunicar à ugtpress@terra.com.br.

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