Se a Bolsa vai subir no 2º semestre, devo investir agora?
Por Luís Artur NOGUEIRA*
Olá, amigas e amigos da Jornada de Investimento$. Há um consenso no mercado financeiro de que a tendência é positiva para a Bolsa de Valores de São Paulo até o fim do ano. Um levantamento feito pelo jornal Valor Econômico com 12 instituições financeiras mostra que a mediana das estimativas para o Ibovespa, em 31 de dezembro, está em 130 mil pontos, o que representaria um ganho de 8% a 9% em relação ao patamar atual de cerca de 120 mil pontos – muito próximo do encerramento de 2020.
Diante deste cenário, qualquer investidor não teria dúvidas sobre a decisão de comprar ações. Afinal de contas, mesmo com a taxa básica de juros (Selic) com tendência de alta (começou o ano em 2%, passou recentemente para 2,75% e deve encerrar o ano entre 5% e 6%), o ganho em renda fixa nos próximos oito meses tende a ser inferior ao projeto para a Bolsa de Valores.
Antes de mais nada, o que explica o otimismo do mercado em meio a números tão ruins da pandemia e de um cenário político tão conturbado? O cenário positivo, com o qual eu concordo, se baseia na perspectiva de aceleração da vacinação e, consequentemente, da reabertura consistente da economia real (ou se preferir, do fim dos constantes “lockdowns”).
Mas é justamente aí que reside um detalhe traiçoeiro: a vacinação só deverá imunizar a maior parte da população adulta no segundo semestre, proporcionando efeitos positivos na economia. Até lá, os analistas acreditam que as ações ainda vão sofrer muitas oscilações por conta do cenário político turbulento e das incertezas fiscais, que afugentam os investidores estrangeiros, pressionam o câmbio e atrapalham a inflação, obrigado o Banco Central a elevar a Selic.
Se olharmos o comportamento semanal do Ibovespa, que reúne as 73 ações mais negociadas, ao longo do primeiro trimestre, constataremos muitas perdas e ganhos, no formato montanha russa. Na prática, até agora, o investidor de Bolsa ficou no zero a zero em 2021, justamente por causa dos pontos levantados aqui. E, ao que tudo indica, o cenário continuará volátil no segundo trimestre.
Então, após ler isso, o investidor dirá que a melhor estratégia é aproveitar outros investimentos no curto prazo e só entrar na bolsa no segundo semestre. Será que é tão óbvio assim?
A reposta é não. Uma das grandes características do mercado de ações é antecipar o futuro, ou seja, assim que ficar claro que a vacinação vai mesmo deslanchar no Brasil, eu acredito que os investidores tenderão a comprar rapidamente papéis para aproveitar os preços ainda baixos. Vale lembrar também que os estrangeiros devem voltar com tudo para a Bolsa de Valores de São Paulo quando se derem conta de que as ações cotadas em reais ficaram ainda mais baratas para quem tem dólar ou euro, reflexo da desvalorização recente do câmbio.
Em resumo: eu prefiro muito mais olhar a tendência de alta da Bolsa ao longo do ano do que ficar tentando adivinhar qual será o momento perfeito para comprar. A sugestão é investir agora e aguardar a concretização deste cenário positivo ao longo dos meses ou comprar volumes constantes (semanais ou mensais) de ações de forma a garantir um preço médio mais condizente com a evolução das notícias.
Nos dois cenários, eu recomendo que seja respeitado o perfil do investidor. No meu caso, todo mundo sabe que a nossa carteira pública de R$ 50 mil tem o perfil moderado, com uma fatia de 18% em ações. Portanto, qualquer novo aporte que eu venha a fazer, reservarei cerca de 20% para ações de forma a seguir todas as premissas que explicamos no início da Jornada de Investimento$, em parceria com a Necton Investimentos.
Ao respeitar o perfil do investidor, se evita que uma reviravolta no mercado cause perdas irreparáveis para as quais ele não está preparado. Até porque seria uma ilusão achar que não há incertezas no Brasil. Há muitos riscos neste ano e um particularmente enorme em 2022: a eleição presidencial.
*Luís Artur Nogueira é economista, jornalista, educador financeiro e palestrante profissional
Esse artigo é exclusivo da Jornada de Investimento$, uma parceria entre o autor e a Necton Investimentos. A reprodução é permitida desde que citada a fonte e colocado o link para o artigo original
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