Se há segredo do sucesso, é uma ampla e diversificada exposição a eventos convexos (muito a ganhar, pouco a perder em cada um deles).

“Das choças dessa história escandalosa

Eu me levanto

De um passado que se ancora doloroso

Eu me levanto

Sou um oceano negro, vasto e irrequieto

Indo e vindo contra as marés eu me elevo

Esquecendo noites de terror e medo

Eu me levanto

Numa luz incomumente clara de manhã cedo

Eu me levanto

Trazendo os dons dos meus antepassados

Eu sou o sonho e as esperanças dos escravos

Eu me levanto

Eu me levanto

Eu me levanto”

Essa é a estrofe final de Ainda assim me levanto, poema de Maya Angelou. Acho lindo. Trata da resiliência, principalmente diante da inveja alheia. É um dos poemas mais recitados do mundo.

Normalmente, fala-se da poetisa conferindo-lhe ares de genialidade, o que – diga-se – acho merecido. Também é normal nos esquecermos de que ela produziu outras 165 poesias, muitas sem qualquer brilho.

Thomas Edison tem 1.093 patentes em seu nome. As invenções de real impacto dificilmente passam de 10. Einstein, possivelmente o maior de todos em termos de genialidade, produziu a teoria da relatividade, mas muitas de suas 248 publicações foram pouco expressivas.

No mesmo período de cinco anos em que William Shakespeare realizou as obras-primas Macbeth, Rei Lear e Otelo, produziu também os fiascos Timão de Atenas e Tudo bem quando termina bem, conhecidos pela prosa pouco cuidadosa e pelo enredo chumbrega.

Quando a Orquestra Filarmônica de Londres escolheu as 50 maiores obras da música clássica, incluiu seis peças de Mozart, cinco de Beethoven e três de Bach. Ao longo de sua vida, Mozart produziu 600 obras, Beethoven compôs aproximadamente 650 e Bach ultrapassou a marca de mil.

Picasso tem 1.800 pinturas, 1.200 esculturas, 2.800 peças de cerâmica e 12 mil desenhos – só uma pequena fração de sua produção foi recebida de maneira calorosa.

Bom, acho que você entendeu. Mesmo os maiores gênios acumulam fracassos pontuais. O sucesso é alcançado por tentativa e erro. Produz-se muito, expõe-se a situações de altos ganhos potenciais e, em algum momento, você surfa um grande benefício se dispõe de algum talento.

Para encontrar um príncipe, temos de beijar uma porção de sapos por ai – confesso que eu mesmo já encarei até coisa pior, que não pareciam tão ruins sob influência etílica (mas também já fiz uns golaços, hein?).

Volto.

Note que tal exposição precisa ser convexa – conforme o cenário melhora, seus ganhos aumentam mais do que proporcionalmente. Qual o custo e o benefício de se produzir uma obra de arte? Na pior das hipóteses, incorre-se no custo do tempo de produção e de material para sua realização. No melhor dos casos, o autor fica multimilionário. Há uma assimetria interessante aqui.

O mais curioso, porém, não é que mesmo os maiores gênios registram uma série de erros e fracassos. O mais interessante é que, mesmo essas pessoas altamente sensíveis e brilhantes, encontram dificuldade em antever quais de suas obras serão sucesso e quais fracassarão.

Beethoven, conhecido por sua autocrítica perspicaz, ao avaliar 70 de suas composições, incorreu em 15 falsos positivos, projetando sucessos que provaram-se fracassos lá na frente. Além disso, encarou oito falsos negativos, criticando obras posteriormente aclamadas. A alta taxa de erro aconteceu mesmo depois do artista já conhecer a reação do público.

Nem mesmo pessoas altamente sensíveis conseguem projetar com precisão o sucesso de suas obras. É análogo ao ambiente empresarial. Nem mesmo os controladores sabem o futuro de seus negócios – se você me perguntar qual será o resultado da Empiricus no mês de dezembro, responderei com convicção: eu não sei. Há um corolário óbvio do raciocínio: se nem mesmo quem mais conhece da empresa (ou de suas obras) pode antever o fracasso ou o sucesso de um determinado fenômeno, qual a capacidade dos analistas externos de fazê-lo e avaliar uma certa companhia?

Investir, ou mesmo atuar em qualquer atividade profissional, não é um jogo de quem erra menos. É uma corrida de quem mais tenta, minimiza o custo do erro (fail fast, fail small – fracasse rápido, fracasse pequeno), permanece na parada e se beneficia da convexidade.

Qual o segredo do sucesso pra mim? Se há algum, é uma ampla e diversificada exposição a eventos convexos (muito a ganhar, pouco a perder em cada um deles). Dificilmente o êxito vem sem incorrer numa série de pequenos fracassos. Erre muito e pequeno, certifique-se de que ainda assim você se levanta.

Mercados brasileiros iniciam a quarta-feira estendendo o otimismo da véspera. Há uma fraqueza do dólar no mundo e uma percepção em prol da manutenção da alta liquidez global depois de alertas de Janet Yellen contra a subida rápida dos juros nos EUA – os comentários dovish alimenta a disposição a risco na margem.

Por aqui, destaque para continuidade das discussões em torno da reforma da Previdência, com o presidente Michel Temer apresentando hoje em jantar o texto final proposto. Agenda local traz fluxo cambial mensal.

Nos EUA, temos ata do Fed, estoques de petróleo, encomendas de bens duráveis e sentimento do consumidor.

Ibovespa Futuro abre em alta de 0,2%, dólar recua ligeiramente contra o real e juros futuros buscam definir tendência.

Felipe Miranda

Editor

Sócio-fundador e estrategista-chefe da Empiricus, é ex-Professor da FGV, e escreve diariamente a Newsletter Day One, atualmente recebida por mais de 2 milhões de leitores.

Felipe Miranda participa do Palavra do Estrategista e Carteira Empiricus - MMA Family Office e escreve a newsletter Day One.


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