Segurança de Processo - Indicadores das indústrias química e do petróleo

Segurança de Processo - Indicadores das indústrias química e do petróleo

Na indústria química e petrolífera, a segurança de processo é uma prioridade essencial para preservar a integridade dos trabalhadores, das comunidades circundantes e do meio ambiente. Uma abordagem crucial para monitorar e aprimorar essa segurança é a utilização de indicadores de desempenho. Esses indicadores oferecem uma análise quantitativa e qualitativa do estado da segurança operacional, permitindo às empresas identificar áreas de aprimoramento, implementar medidas preventivas e reativas, e acompanhar o progresso ao longo do tempo.

Nesse cenário, uma variedade de indicadores de desempenho é amplamente empregada nas indústrias química e petrolífera, cada qual focando em aspectos específicos da segurança de processo. Desde a detecção precoce de potenciais problemas até a avaliação da eficácia das medidas preventivas adotadas, esses indicadores desempenham um papel crucial na gestão proativa dos riscos operacionais.

Este documento investigará os indicadores de desempenho mais comuns nessas indústrias, destacando suas definições, métodos de cálculo e relevância para o gerenciamento eficiente da segurança de processo. Ao compreender esses indicadores-chave, as empresas podem fortalecer suas práticas de segurança, fomentar uma cultura de prevenção de acidentes e atingir padrões mais elevados de desempenho operacional e sustentabilidade. Na representação do modelo, cada componente organizacional é equiparado a uma fatia de queijo, onde a gestão, alocação de recursos, infraestrutura, programas de segurança, controle de qualidade, programas de qualificação, suporte operacional, cultura e liderança são considerados fatias individuais. Cada fatia pode apresentar suas próprias deficiências ou falhas.

As "falhas" em um sistema são representadas pelos buracos no queijo. Quando esses buracos se alinham em diferentes fatias, isso cria uma abertura através da qual um evento indesejado pode passar, resultando em um acidente ou falha no sistema. No entanto, o modelo reconhece que nem todas as falhas levarão a um acidente, pois o sistema pode ter múltiplas camadas de defesa (ou fatias de queijo) que podem impedir que um evento indesejado cause danos.

Assim, o Modelo Queijo Suíço ilustra como múltiplos fatores contribuem para a ocorrência de falhas ou acidentes em um sistema complexo. Ele enfatiza a importância de identificar e corrigir as falhas em várias áreas do sistema para reduzir o risco de incidentes, destacando a necessidade de implementar várias camadas de defesa para aumentar a resiliência do sistema e prevenir acidentes graves.

A ICCA (International Council of Chemicals Association), uma instituição renomada na indústria química global, relata que desde 1985 o setor químico assumiu o compromisso com a melhoria contínua de desempenho. O programa de adesão voluntária denominado "Responsible Care" é citado como uma abordagem estratégica para o gerenciamento seguro de produtos químicos, buscando excelência no desempenho das organizações. Nessa perspectiva, a segurança do processo tem sido um pilar de cuidado da instituição, promovendo abordagens regionais para rastrear e relatar a segurança do processo.

No desenvolvimento dos estudos, o grupo de trabalho instituído pela ICCA utilizou como referência o documento do API (American Petroleum Institute) - API RP 754, revisado em 2016, amplamente utilizado na indústria petrolífera. Decidiu-se, então, promover o alinhamento entre os dois documentos para otimizar a implementação pelas indústrias do setor químico. A métrica adotada buscou coletar o número de eventos de segurança de processo nas organizações seguidoras da ICCA.

Considerando o relatório anual da CONCAWE de eventos de segurança de processo reportados em 2017, constata-se que os mesmos requisitos são utilizados na composição dos indicadores de desempenho naquele continente. Antes de avançarmos, é importante ressaltar as características que diferenciam segurança ocupacional e segurança de processo, conforme a tabela a seguir:

Os documentos pesquisados estabelecem critérios primários para determinar se um evento deve ser reportado como de segurança do processo:

  1. Não Planejado ou Não Esperado: O evento ocorreu de forma imprevista ou não estava dentro das expectativas operacionais normais.
  2. Instalação de Produção, Transferência ou Armazenamento de Produtos Químicos ou Inflamáveis: O evento ocorreu em áreas envolvidas na produção, transferência ou armazenamento de substâncias químicas ou inflamáveis.
  3. Perda de Contenção Primária de Produto Inflamável ou Químico: Incluindo produtos ou fluidos relacionados ao suporte dos processos produtivos, como ar comprimido, vapor, condensado de vapor, nitrogênio, gás carbônico.

Uma vez que essas condições são atendidas, o evento é classificado de acordo com sua gravidade, analisando-se as seguintes consequências:

  1. Impacto na Segurança/Saúde Humana na Planta: Avaliação dos efeitos do evento sobre a segurança e saúde dos trabalhadores na instalação.
  2. Custo Direto de Danos às Instalações Acima de um Limite Pré-Estabelecido: Determinação do custo financeiro associado aos danos causados às instalações, superando um limite estabelecido anteriormente.
  3. Impacto na Comunidade Circunvizinha: Análise do impacto do evento na comunidade próxima à instalação industrial.
  4. Quantidade de Liberação (Vazamento) de Produtos em Taxa Horária Acima de Limites Pré-Estabelecidos: Consideração da quantidade de produtos químicos liberados durante o evento, excedendo limites definidos.

A classificação dessas ocorrências visa segregá-las de forma otimizada, priorizando o tratamento sistêmico das situações mais graves. O fluxograma a seguir, extraído da publicação da ICCA, ilustra como as organizações associadas devem identificar os eventos de segurança de processo reportáveis.

É importante ressaltar que os indicadores discutidos são predominantemente do tipo reativo, ou seja, monitoram eventos que já ocorreram. Embora esses indicadores permitam mitigar perdas, o ideal é evitá-las. No entanto, ao catalogar eventos de perda, cria-se a oportunidade de estudá-los a fundo, identificando suas causas e prevenindo novas ocorrências com as mesmas circunstâncias.

O monitoramento e análise do desempenho permitem que as empresas adotem medidas corretivas conforme necessário. A seleção criteriosa de indicadores é crucial, pois alguns podem não fornecer informações suficientes para garantir o desempenho desejado. Indicadores mal escolhidos ou mal elaborados podem resultar em lacunas de conhecimento ou até mesmo na perda de confiança. É fundamental ter mais de um indicador e de diferentes tipos para monitorar as diversas dimensões da disciplina operacional de segurança de processo e do desempenho do sistema de gestão.

A definição de indicadores pela organização envolve responder a perguntas fundamentais sobre seus sistemas, tais como:

  • Quais são as potenciais falhas?
  • Quais controles estão em vigor para evitar grandes incidentes?
  • Qual é a contribuição de cada controle para um "resultado de segurança"?
  • Como garantir que os controles continuem funcionando conforme o esperado?

O American Petroleum Institute (API) publicou o documento API RP 754, que apresenta indicadores reativos e proativos para o gerenciamento de segurança de processo, com ampla aplicação na indústria de petróleo e gás. Portanto, é uma referência valiosa, pois é um conjunto bem estruturado que incorpora melhorias com base na experiência das organizações que o adotam. Vale destacar que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) já exige parcialmente sua implementação nas operações de exploração e produção de petróleo em áreas offshore, como plataformas e sondas marítimas.

Na figura anterior, é possível observar a classificação dos indicadores em níveis (tier) de 1 a 4, os quais são definidos no API RP 574:

  • Nível (tier) 1: Envolve eventos de perda de contenção primária de produtos perigosos ou inflamáveis com consequências significativas.
  • Nível (tier) 2: Abrange eventos de perda de contenção primária de produtos perigosos ou inflamáveis com consequências menores.
  • Nível (tier) 3: Refere-se a eventos nos quais as salvaguardas ou camadas de proteção destinadas a evitar a perda de contenção primária foram ativadas.
  • Nível (tier) 4: Envolve falhas em elementos de gestão de segurança de processo, que podem levar à degradação das salvaguardas ou camadas de proteção.

Os indicadores dos Níveis 1 e 2 são considerados reativos, pois indicam a ocorrência de perda de contenção primária, ou seja, as consequências já ocorreram. Enquanto isso, os indicadores dos Níveis 3 e 4 são considerados proativos, sinalizando preocupações com elementos do sistema de gestão que precisam ser corrigidos antes que ocorra uma perda de contenção primária.

Apesar da aparente simplicidade na classificação de cada evento como reportável ou não, há desafios associados, especialmente devido ao conceito de "pior hora". Esse termo refere-se ao período em que ocorreu a maior liberação de massa de produto em relação à duração total do vazamento. Para lidar com essa complexidade, foram padronizados exemplos práticos nas publicações citadas para auxiliar as organizações.

Por exemplo, considerando um vazamento de dez galões de gasolina em diferentes taxas de vazamento, sem lesões pessoais, danos ao patrimônio ou à comunidade circunvizinha:

  • Se ocorrer ao longo de duas semanas, não se enquadraria nos limites reportáveis.
  • Se ocorrer em uma hora e trinta minutos, se enquadra no limite reportável para o nível (tier) 2, de gravidade menor.
  • Se dividido em 8 barris na primeira hora e os restantes 2 barris nos trinta minutos seguintes, se enquadra no limite reportável para o nível (tier) 1, de gravidade maior.

Para permitir a comparação de desempenho entre as organizações, outro dado relevante a ser reportado é o número de horas trabalhadas, inclusive de empregados contratados expostos ao risco de tais eventos potenciais. Assim, é composta a taxa de eventos de segurança de processo, denominada, na ICCA, por exemplo, como PSER (Process Safety Event Rate).

Em conclusão, as indústrias química e do petróleo já contam com referências de desempenho utilizando indicadores, promovendo a oportunidade de prevenção de novas ocorrências não planejadas ou não esperadas. As associações de empresas desses segmentos têm adotado a segurança de processo como pilar no caminho da melhoria contínua de desempenho.

Referências Bibliográficas

- American Petroleum Institute “API RP 754 Process Safety Performance Indicators for the Refining and Petrochemical Industries” – Segunda edição, abril de 2016

- International Council of Chemicals Association – ICCA – “Guindance for Reporting on the ICCA Globally Harmonized Process Safety Metric” – Edição junho de 2016

- Environmental Science for European Refining – CONCAWE – “European Downstream Oil Industry Safety Performance, Safety Summary of Reported Incident – 2017” – Edição julho de 2018

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