Segurança em Centrais de Abastecimento de Veículos a Combustão.

Segurança em Centrais de Abastecimento de Veículos a Combustão.


As centrais de abastecimento de veículos a combustão, como postos de combustíveis, desempenham um papel fundamental no transporte urbano e na economia global. Contudo, essas instalações lidam com substâncias altamente inflamáveis, o que aumenta significativamente o risco de acidentes, como incêndios e explosões. Nesse contexto, a segurança no ambiente de trabalho deve ser uma prioridade, e a implementação de boas práticas, em conformidade com as Normas Regulamentadoras (NRs), a NBR 12693:2021, a análise de riscos e treinamentos especializados, é essencial para proteger tanto os trabalhadores quanto a comunidade.

Este artigo aborda as principais normas de segurança aplicáveis às centrais de abastecimento de veículos a combustão, com foco nas NRs 20, 23 e 01, além da ABNT NBR 12693:2021, que regula o projeto, a construção e a manutenção de instalações de postos de combustíveis. Também discute a análise de riscos, os tipos de agentes extintores adequados para o combate a incêndios e a importância dos treinamentos para a prevenção de acidentes.

Normas Regulamentadoras (NRs) e Segurança em Centrais de Abastecimento

NR20: Segurança e Saúde no Trabalho com Inflamáveis e Combustíveis

A NR20 é uma das normas mais importantes para garantir a segurança em atividades que envolvem produtos inflamáveis e combustíveis, como é o caso dos postos de combustíveis. Ela estabelece diretrizes para o armazenamento, manuseio e transporte de líquidos e gases inflamáveis, com o objetivo de evitar acidentes graves, como incêndios e explosões.

Entre as principais exigências da NR20 estão:

  • Armazenamento e manuseio de combustíveis: Definição de distâncias mínimas entre tanques, áreas de ventilação adequada e sistemas de drenagem para evitar o acúmulo de combustível em caso de vazamentos.
  • Equipamentos de proteção: Uso de EPIs, como luvas e botas de segurança, e a instalação de sinalização adequada nas áreas de risco.
  • Treinamento de funcionários: Capacitação regular dos trabalhadores para lidar com riscos, uso de extintores e ações de primeiros socorros em situações de emergência.

A NR20 também classifica os líquidos e gases de acordo com seu ponto de fulgor e inflamabilidade:

  • Líquidos inflamáveis: São líquidos com ponto de fulgor ≤ 60ºC, como a gasolina. Esses líquidos representam riscos elevados, pois podem se inflamar facilmente.
  • Líquidos combustíveis: São líquidos com ponto de fulgor > 60ºC e ≤ 93ºC, como o diesel, que exigem medidas de segurança semelhantes, embora não sejam tão voláteis quanto os líquidos inflamáveis.
  • Gases inflamáveis: São gases que podem se inflamar facilmente quando misturados ao ar a 20ºC e pressão de 101,3 kPa, como o gás GLP utilizado em alguns veículos.

NR23: Proteção Contra Incêndios

A NR23 estabelece as exigências para a segurança contra incêndios em ambientes de trabalho. Nos postos de combustível, onde o risco de incêndio é elevado devido à presença de líquidos e gases inflamáveis, a norma especifica medidas de prevenção e combate a incêndios.

Alguns pontos chave da NR23 incluem:

  • Plano de emergência: Criação de um plano de ação para emergências, que deve incluir a identificação das saídas de emergência e os procedimentos a serem seguidos pelos trabalhadores em caso de incêndio.
  • Equipamentos de combate a incêndio: A instalação de extintores de incêndio adequados e outros dispositivos, como sprinklers, para garantir a eficácia no combate a incêndios. A escolha dos extintores deve ser feita com base no tipo de risco (A, B ou C).
  • Manutenção preventiva: Inspeção regular dos sistemas de combate a incêndio, garantindo que extintores, sprinklers e outros dispositivos estejam operacionais.


Análise de Riscos nas Centrais de Abastecimento de Veículos a Combustão

A análise de riscos é um processo sistemático e contínuo que visa identificar, avaliar e controlar os riscos presentes nas operações de um posto de combustível. O objetivo é minimizar os riscos de acidentes e garantir que o ambiente de trabalho seja seguro para os trabalhadores e a comunidade ao redor.

Objetivos da Análise de Riscos

A análise de riscos em centrais de abastecimento tem como principais objetivos:

  • Identificação dos perigos: Detectar as fontes de risco, como vazamentos de combustível, falhas no sistema de ventilação ou uso inadequado de equipamentos.
  • Avaliação dos riscos: Estimar a probabilidade de ocorrência de acidentes e suas consequências, com base em fatores como o tipo de produto, as condições de trabalho e as falhas potenciais.
  • Implementação de medidas de controle: Estabelecer ações corretivas para reduzir ou eliminar os riscos identificados, como a instalação de sistemas de contenção, melhorias no processo de abastecimento e uso de extintores adequados.
  • Conformidade com as normas: Garantir que as operações atendam às exigências das NRs, protegendo os trabalhadores e o meio ambiente.

Etapas da Análise de Riscos

A análise de riscos é realizada em várias etapas:

  1. Identificação de perigos: Inclui a identificação de riscos relacionados ao armazenamento e transporte de combustíveis, como vazamentos, falhas nas bombas e riscos de incêndio.
  2. Avaliação dos riscos: Determina a probabilidade e as consequências de acidentes, considerando aspectos como a quantidade de combustível armazenado, as condições de ventilação e a presença de fontes de ignição.
  3. Controle dos riscos: Implementação de medidas preventivas, como sistemas de drenagem, uso de EPIs e treinamento dos trabalhadores.
  4. Monitoramento e revisão: A análise de riscos deve ser revisada periodicamente para garantir que as medidas de controle sejam eficazes e para adaptar o processo às mudanças nas operações ou na legislação.

Métodos de Análise de Riscos

Diversos métodos podem ser aplicados para realizar uma análise de riscos eficaz:

  • Análise Preliminar de Risco (APR): Identificação rápida dos riscos em atividades específicas.
  • FMEA (Análise de Modos de Falha e Efeitos): Avalia modos de falha e seus efeitos nas operações.
  • HAZOP (Hazard and Operability Study): Exame detalhado dos processos operacionais.
  • Árvore de Falhas (FTA): Identificação das causas de falhas em sistemas complexos.

ABNT NBR 12693:2021 – Postos de Combustíveis: Requisitos para Projetos, Construção e Manutenção

A ABNT NBR 12693:2021 estabelece os requisitos técnicos para o projeto, construção e manutenção de instalações de postos de combustíveis. Esta norma visa garantir que as instalações de postos de combustíveis operem de maneira segura e eficiente, prevenindo acidentes relacionados ao manuseio de combustíveis e à proteção contra incêndios.

Principais Pontos da NBR 12693:2021

  • Projeto e construção: A norma estabelece diretrizes claras para o projeto e a construção das instalações, incluindo a definição de áreas de risco, a instalação de sistemas de ventilação, drenagem e sistemas de combate a incêndio, além da necessidade de estruturas adequadas para armazenar e transferir os combustíveis.
  • Sinalização e segurança: A NBR 12693:2021 detalha os requisitos de sinalização de segurança, incluindo a utilização de placas indicativas de risco, saídas de emergência, locais de armazenamento de materiais perigosos e procedimentos de emergência.
  • Manutenção e inspeção: A norma também especifica as exigências para a manutenção e inspeção periódica das instalações, como a verificação de sistemas de drenagem, sistemas de combate a incêndio e a integridade dos tanques de armazenamento de combustíveis.
  • Controle ambiental: Um aspecto importante da NBR 12693:2021 é a preocupação com o impacto ambiental das operações do posto de combustíveis. Ela exige que as instalações sejam projetadas para evitar vazamentos e minimizar o risco de contaminação do solo e da água.

Tipos de Agentes Extintores

O uso adequado de extintores de incêndio é essencial para a segurança nas centrais de abastecimento. A escolha do agente extintor depende do tipo de incêndio e da substância envolvida:

  • Extintores de água (Classe A): Usados para incêndios em materiais sólidos, como madeira e papel.
  • Extintores de pó químico seco (Classe ABC): Versáteis, podem ser usados em incêndios de classe A, B (líquidos inflamáveis) e C (equipamentos elétricos).
  • Extintores de CO2 (Classe B e C): Eficazes em incêndios envolvendo líquidos inflamáveis e equipamentos elétricos.
  • Extintores de espuma (Classe A e B): Usados para incêndios com líquidos inflamáveis, como gasolina e diesel, formando uma camada sobre o líquido inflamado.

Cada posto de combustível deve garantir que seus extintores estejam adequados ao tipo de risco identificado e sejam inspecionados regularmente.

Combate a Incêndios em Inflamáveis: Tipos de Extintores e Técnicas de Combate

O combate a incêndios envolvendo líquidos e gases inflamáveis é um desafio que exige cuidados específicos devido à alta capacidade de propagação e à facilidade com que esses materiais podem se inflamar. Para garantir a segurança em centrais de abastecimento de combustíveis e outros locais de risco, é crucial entender os tipos de extintores mais adequados e as técnicas específicas para combater incêndios em inflamáveis.

Classificação dos Incêndios

Antes de discutirmos os extintores, é importante entender como os incêndios são classificados, uma vez que a escolha do extintor adequado depende da classe do incêndio:

  1. Classe A: Incêndios em materiais sólidos que deixam cinzas, como madeira, papel e tecidos.
  2. Classe B: Incêndios em líquidos inflamáveis ou combustíveis (gasolina, diesel, óleos, álcool, etc.).
  3. Classe C: Incêndios envolvendo equipamentos elétricos energizados.
  4. Classe D: Incêndios envolvendo metais combustíveis, como magnésio, alumínio e sódio.
  5. Classe K: Incêndios em óleos e gorduras de cozinha, especialmente em restaurantes e cozinhas comerciais.

Nos postos de combustíveis e em locais que lidam com líquidos inflamáveis, a principal preocupação é com incêndios de Classe B, que envolvem substâncias como gasolina, etanol, diesel e outros líquidos inflamáveis.

Tipos de Extintores para Incêndios em Inflamáveis

Para combater incêndios em líquidos inflamáveis (Classe B) e gases inflamáveis, é essencial utilizar extintores específicos que sejam eficazes na neutralização desses riscos. Os extintores são classificados de acordo com o tipo de agente extintor utilizado e são projetados para agir de formas diferentes dependendo da classe do incêndio.

1. Extintores de Pó Químico Seco (Classe ABC)

  • Características: O pó químico seco é um agente extintor versátil e eficaz em incêndios de Classe A, B e C. Ele funciona cobrindo a superfície do incêndio com uma camada de pó, interrompendo a reação de combustão ao sufocar a chama e bloquear o oxigênio.
  • Uso: É altamente indicado para incêndios em líquidos inflamáveis, como gasolina e diesel, e também para incêndios em equipamentos elétricos (Classe C). A principal vantagem é sua versatilidade, já que pode ser usado em diferentes tipos de incêndios.

2. Extintores de CO2 (Dióxido de Carbono) (Classe B e C)

  • Características: O CO2 é eficaz principalmente para incêndios de Classe B e C. Ao ser liberado, o CO2 elimina o oxigênio no ambiente, abafando a chama. Sua aplicação não deixa resíduos e é, portanto, ideal para áreas com equipamentos eletrônicos sensíveis.
  • Uso: Para incêndios em líquidos inflamáveis e gases, o CO2 é uma excelente escolha, pois resfria o fogo e elimina o oxigênio sem deixar resíduos. Também é utilizado em incêndios envolvendo equipamentos elétricos, como painéis de controle e motores.

3. Extintores de Espuma (Classe A e B)

  • Características: A espuma é eficaz para incêndios em líquidos inflamáveis (Classe B) e materiais sólidos (Classe A). Ela forma uma camada sobre o líquido em chamas, isolando a superfície do oxigênio e impedindo que o fogo se propague.
  • Uso: Extintores de espuma são ideais para incêndios com líquidos inflamáveis, como gasolina e óleo, pois formam uma barreira física que reduz a emissão de vapores combustíveis e apaga o fogo. Eles também podem ser usados em incêndios de materiais sólidos, como madeira ou papel, mas são mais comuns para líquidos inflamáveis.

4. Extintores de Água (Classe A)

  • Características: O extintor de água é utilizado principalmente para incêndios em materiais sólidos combustíveis (Classe A), como madeira, papel e tecidos. A água atua resfriando a área afetada e interrompendo a reação de combustão.
  • Uso: Nunca deve ser utilizado em incêndios envolvendo líquidos inflamáveis ou materiais elétricos. A água pode espalhar o combustível inflamável e intensificar o incêndio. Portanto, sua aplicação é restrita a incêndios em sólidos combustíveis.

Técnicas de Combate a Incêndio em Inflamáveis

Além de escolher o extintor correto, as técnicas de combate a incêndios também são essenciais para garantir a eficácia na extinção do fogo e a segurança dos profissionais envolvidos. Algumas técnicas importantes incluem:

1. Técnicas de Combate com Extintores Portáteis

  • Manuseio adequado: A primeira técnica envolve o uso correto do extintor. O trabalhador deve estar treinado para utilizar o extintor de forma eficaz, seguindo a técnica PASS:P (Puxar o pino de segurança)A (Apontar o bico do extintor para a base do fogo)S (Socar o gatilho para liberar o agente extintor)S (Movimentar o extintor de um lado para o outro para cobrir a área afetada).
  • Aplicação na base do incêndio: Ao combater incêndios com líquidos inflamáveis, é fundamental apontar o extintor na base do incêndio e não na chama diretamente, pois é na base que o combustível é mantido, e a extinção do foco inicial vai impedir a propagação das chamas.

2. Isolamento do Combustível e Contenção de Vapores

  • Isolamento: Em um incêndio com líquidos inflamáveis, o primeiro passo é tentar isolar a fonte de combustível, se possível. Isso pode incluir desligar válvulas de combustível, interromper a alimentação de líquidos e afastar qualquer fonte adicional de combustível.
  • Controle de vapores: Muitas vezes, o incêndio pode ser controlado não apenas apagando as chamas, mas também controlando a liberação de vapores inflamáveis. Isso pode ser feito com o uso de barreiras físicas, como espuma, para impedir que vapores inflamáveis escapem.

3. Técnicas de Resfriamento com Espuma

  • Cobertura com espuma: Ao combater incêndios em líquidos inflamáveis, a técnica de cobrir a superfície do líquido com espuma é crucial. A espuma não apenas apaga as chamas, mas também impede que o líquido inflamável libere mais vapores combustíveis, proporcionando uma barreira física.
  • Camada espessa: Em incêndios com grandes volumes de líquidos inflamáveis, uma camada espessa de espuma ajuda a reduzir o risco de propagação do fogo, mantendo o incêndio contido.

4. Evacuação e Segurança Pessoal

  • Segurança em primeiro lugar: Em qualquer situação de incêndio, a segurança dos trabalhadores e do público é a prioridade. O uso de EPIs adequados, como roupas de proteção, capacetes, luvas, botas e respiradores (quando necessário), é fundamental.
  • Evacuação: Caso o incêndio seja de grandes proporções e impossível de controlar com os extintores disponíveis, a evacuação deve ser iniciada imediatamente, seguindo os planos de emergência previamente estabelecidos. A área deve ser isolada para evitar que pessoas não autorizadas se aproximem do local.


Conclusão

A segurança nas centrais de abastecimento de veículos a combustão depende de uma série de medidas integradas, que incluem a observância das NRs, da NBR 12693:2021, e a implementação de práticas de segurança robustas, como a análise de riscos e o uso de equipamentos de proteção. A capacitação contínua dos trabalhadores é fundamental para garantir a eficácia dessas práticas e minimizar os riscos de acidentes. Seguindo as diretrizes e normas estabelecidas, é possível garantir a segurança do ambiente de trabalho e proteger a saúde e integridade dos profissionais que atuam nessas instalações.

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