Seis tipos de trama (quase) infalíveis para atrair o público
Histórias mexem com a gente desde que o ser humano começou a se comunicar.
Na época em que faltava rádio, TV ou streaming, a galera se reunia em volta da fogueira pra contar sobre suas caçadas, falar sobre como os deuses foram nascidos, suas regras e as aventuras que viviam.
Mesmo nessa época, para atrair a atenção do público, muitos recursos de storytelling já eram utilizados. Atualmente, torna-se cada vez mais importante - diria que crucial - manter a curiosidade de sua audiência, pois a distração do smartphone está a um palmo de distância.
Em um trecho da minha palestra Por que gostamos de um filme? Uma jornada de empatia, eu me dedico a explicar seis tipos de tramas de storytelling que são super efetivas em cativar o público.
Cheguei nessa lista baseado no meu amor por audiovisual, e em aproximadamente 9 anos de experiência avaliando filmes e estudando roteiro (e curtindo cada fita de VHS e DVD antes disso, quando era moleque!) Também vale destacar que trama não depende de gênero: um filme de comédia pode ser tenso, e uma ação pode falar mais sobre emoção do que só adrenalina pura e simples.
Sem demoras, segue abaixo a lista!
1) TRAMAS DE URGÊNCIA (aquelas com prazo pra dar treta)
Definição: São aquelas histórias em que nossa heroína ou herói têm um prazo para resolver alguma coisa, um tempo limitado. Tipo, a treta VAI acontecer, mas eles precisam impedir. Cada segundo é um passo pro fracasso ou sucesso da missão, seja ela impedir o amigo de casar (O Casamento do Meu Melhor Amigo), arrumar ajuda pra enfrentar bandidos que vão chegar no próximo trem (Matar ou Morrer), ou garantir a própria existência e voltar pro presente a tempo (De Volta Para o Futuro).
Por que gostamos? Todos nós lidamos com prazos em nossas vidas. Na escola, no trabalho, todo mundo já precisou CORRER contra o relógio. Então, ao vermos esses heróis lutando com um prazo limitado, a identificação é imediata. E não se enganem, o fato do problema na tela estar numa escala maior (salvar o mundo, correr pra voltar ao tempo presente, etc) não atrapalha no engajamento, os grandes desafios apenas aumentam nossa empatia. O básico - a luta contra o tempo - nós já entendemos muito bem.
2) QUEBRA-CABEÇA (com pistas visíveis)
Definição: Daí você está lá, assistindo a um filme e, quando chega no final, sua mente explode com uma revelação surpreendente! Esse tipo de trama mostra peças de um engenhoso quebra-cabeça para, no final, juntar tudo e revelar algo que não imaginamos. Claro, sempre tem o amigo que adivinha, mas a experiência é ainda melhor pra ele, que fica tirando onda com quem não adivinhou.
Por que esse moleque vê espíritos? Onde está o noivo na véspera de seu casamento? Quem é o serial killer que está aterrorizando a cidade?
Por que gostamos? Poucas sensações são tão saborosas quanto ser recompensado por ter prestado atenção no filme. Ainda que não tenhamos adivinhado o final, nos sentimos premiados por entender as peças sendo coladas uma na outra diante dos nossos olhos, no clímax. Pra isso acontecer, o filme precisa jogar limpo e não aparecer com uma solução mágica. A peça faltante pode até passar despercebida por nossos olhos, mas tem que existir e estar na tela, no cantinho dela, como quem não quer nada...
3) TENSÃO CONSTANTE (pode dar treta)
Definição: Diferente da trama de urgência, em que a treta está chegando, nesse tipo de trama o problema pode acontecer a qualquer momento. É como se os protagonistas estivessem andando numa corda bamba, lutando para não cair - o que significaria o fim do filme. E um fim nada satisfatório, no caso.
O quê? Pensou que Procurando Nemo era só um desenho fofinho? Começa com morte de mãe e irmãos, passando por desaparecimento de filhos e a única ajuda que seu pai consegue é de uma moradora em situação de rua com problemas de memória! (Mas te amo, Dory!)
Por que gostamos? Essa resposta é polêmica, mas gostamos porque somos meio sádicos! Do conforto de nosso sofá, vemos heroínas e heróis passando por problemas bizarros, correndo altos riscos, encarando espíritos famintos e perseguições implacáveis. Ou seja, sentimos o que eles sentem, sentimos aquela adrenalina, mas sabemos que é só mergulhar em nossa pipoca de microondas e no balde de refrigerante para termos certeza de que estamos seguros!
4) EXÉRCITO DE UMA PESSOA SÓ
Definição: Tipo de filme muito comum nos anos 80, geralmente envolve um brucutu interpretado por Stallone, Schwarzenegger (não precisei de Google, juro) e Bruce Willis mandando todos os vilões pelos ares. Com praticamente zero ajuda, eles transformam o universo ao redor deles só com seus próprios atos.
Vale destacar que armas não são a única coisa que pode fazer uma pessoa ser um exército completo. Com força de vontade e muito gingado, uma pessoa pode mudar tudo ao seu redor com a poderosa MÚSICA, como fica claro em Footloose, Escola de Rock e Mudança de Hábito.
Por que gostamos? Cara, quantas vezes nós queríamos ser o exército de uma pessoa só? Na verdade, vou além: quantas vezes nós PRECISAMOS ser o exército de uma pessoa só? Muitas vezes temos que tirar forças de onde nem temos, e resolver as coisas por conta própria, pois nem sempre nossos amigos conseguem nos ajudar, cada um tem suas próprias lutas. Isso faz com que tenhamos muita empatia por esse tipo de trama, sabemos das dificuldades de resolver tudo sozinho e nos inspiramos por isso.
5) EMBARCANDO NUMA AVENTURA
Definição: Essa é uma das formas mais clássicas de contar uma história. É simples: a heroína ou o herói estão tranquilos em seu mundo, aparece um chamado e eles entram num mundo totalmente novo, descobrindo a cada etapa quem é amigo, quem é inimigo, e como agir pra alcançar seu objetivo principal.
Por que gostamos? Bem, se pegar o carro para viajar até o litoral já nos deixa empolgados, imagina embarcar para a Terra Média e conhecer elfos, ou mergulhar num jogo onde tudo é possível? Até mesmo assistir a uma viagem de dois amigos idiotas para a gelada Aspen faz o público se identificar e despertar dentro de si a vontade de também viver uma aventura - mesmo que seja ir até Rio das Ostras ou Ubatuba.
6) DE FRACO PARA FORTE
Definição: Em muitos começos de filme, vemos as personagens sofrendo na mão de valentões. Seus chefes, alunos mais fortes, vizinhos folgados... Sempre tem alguém perturbando o protagonista. Nesse tipo de trama, no entanto, nosso herói ganha confiança ao longo do filme e torna-se capaz de derrotar todos os seus desafios - incluindo os valentões que o agrediram no início ou a equipe de trenó que desdenhou deles.
Por que gostamos? Também é fácil se identificar com esse tipo de trama. Afinal, muitas vezes nós começamos o dia por baixo, sem querer levantar da cama, só levando pedrada da vida. Ao vermos uma heroína ou herói começando a história fraquinhos, é nosso instinto torcer para que superem os desafios e terminem o filme em alta. Afinal, quando nós mesmos terminamos nosso dia em alta, sabemos o quanto é satisfatório.
É claro que existem outros tipos de trama, e muitas delas se entrelaçam. Essas seis, porém, são um belo ponto de partida para entendermos porque um filme mexe tanto conosco. A narrativa está em todos os lugares: propagandas, discursos, conversas de bar, até mesmo em design de marcas. Narrativa não deve ser subestimada e, se dada a devida importância, pode elevar seu espírito e seus negócios.