Seja mais insensato

Seja mais insensato

Em uma cena inspiradora da série La Casa de Papel, o personagem Sergio (O Professor), pergunta ao personagem Berlim, seu irmão: “quem está falando agora? O cérebro de alguém planejando um roubo? Ou o cérebro de uma criança?" 

Trata-se do momento em que Berlim está apresentando a ele sua ideia de roubar o ouro do Banco da Espanha, planejando transformá-lo em pó de arroz e transportá-lo para fora do banco por canos d’água através de uma bomba de pressão; e quando Sérgio começa, de modo sensato, a apresentar uma série de fatores que podem derrubar a ideia — e faz a pergunta acima —, Berlim responde: “O cérebro de uma criança. Com muita honra!”. 

E continua, dizendo que ninguém o fará perder a esperança. Porque só assim, com imaturidade intencional, podemos alcançar grandes coisas. O tipo de coisas que os outros, pessoas maduras, sérias, nunca conseguem. Não podem nem imaginar, porque são todos muito sensatos. 

Bernard Shaw costumava dizer que o homem sensato adapta-se ao mundo, enquanto o homem insensato insiste em tentar adaptar o mundo a si. E que, sendo assim, qualquer progresso se deve ao homem insensato.

Walt Disney foi insensato ao imaginar — e criar — um mundo onde os sonhos se tornam realidade. James Dyson foi insensato ao imaginar um aspirador sem o saco. Michael Dubin foi insensato ao criar um modelo de assinatura de lâminas de barbear, por um dólar ao mês. Joe Gebbia foi muito insensato ao supor que as pessoas colocariam fotos de seus espaços mais íntimos para dar hospedagens a estranhos.

David Bowie foi insensato ao criar — e depois matar — mais de dez personagens em menos de dez anos de carreira. Elon Musk e Jeff Bezos e Richard Branson estão sendo insensatos em querer explorar o turismo espacial. Michael Dell também foi insensato. Steve Jobs o foi diversas vezes.

A diferença entre as coisas que já existem e as coisas que ainda não existem é, justamente, até onde as pessoas estão dispostas a ir antes de parar de acreditar em algo. Mesmo que isso demande um pouco de insensatez. Principalmente, aliás.

Publicado originalmente no Estadão

Eliane Zanluchi

Behavioral Neuroscientist | Business Mentor and Consultant | International Professor

3 a

Grande reflexão!

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