Seja um bom egoísta! (memórias de um texto de 1/5/18)

Seja um bom egoísta! (memórias de um texto de 1/5/18)

As lembranças das redes sociais nos surpreendem de vez em quando... Além daquela foto com momentos saudosos, há memórias textuais para retomar reflexões importantes. Essa, de 4 anos atrás...

Há discursos maniqueístas rondando o mundo, creio que desde sempre. Há de se escolher entre o bem e o mal, o certo e o errado, o feio e o bonito. Daí, pesa o fardo das alternativas diante do que nunca foi e poderia ter sido. E quando opto por aquilo que faz bem a mim mesma, quiçá por conta de minha formação cristã, fica o desconforto – “será que fiz o melhor?”.

Há quem se oriente pela chamada “dívida de gratidão” e carregue relacionamentos a contragosto, acreditando ser essa a sua cruz. Vale no casamento, no emprego, entre clientes e fornecedores, na família, entre os amigos. Já não me satisfaz, mas por culpa, mantenho em banho maria. E vamos levando. Seria leviano desvencilhar-se de algo que já não me serve mais, mas um dia serviu. Até que tal engodo rui e, de culpados protagonistas, passamos a ocupar o papel de vítimas insatisfeitas. O abandonado, o traído, o desprezado, o mal-amado, o generoso, o solidário – um sem número de adjetivos faz a vez do vitimismo presente. Pura hipocrisia de quem jamais investiu e, co-responsável do desfecho ruim, faz corpo mole e, ainda que comemore internamente, veste a túnica de coitado.

Nesse cenário, não seria o egoísmo a melhor alternativa?

Ao fazer o melhor para mim mesmo, ou me obrigo a cultivar uma relação que gere frutos – ainda que não seja prazerosa e satisfatória – mas com quesitos que, por algum motivo, ainda não intenciono abrir mão. Falar em quesitos e interesses abala o senso de bondade, não é mesmo? Ou, indo além, o melhor para mim pode ser a simples e normal ruptura (seria também resíduo da ilusão do "felizes para sempre"?).

Ao tomar consciência do desejo pela manutenção e permanência com autenticidade, é possível optar, sim, por uma relação de interesses. Ponderemos se interessada, interesseira ou ambos...

Ouvi dizer que a tal da física quântica se aventura a explicar o benefício desse egoísmo positivo. Se a parte é plena, maiores as chances de compor um todo mais equilibrado. Sem a necessidade de indulgências, vivendo o céu por aqui (heranças beneditinas?).

Não faço defesas ao irresponsável descarte – de relações, especialmente! Um dia essa conta chega. E, pensando de modo mais holístico, não há descarte efetivo. A energia, o recurso, o insumo, a matéria prima, as relações, os indivíduos, todos estarão no sistema – e em qualquer curva da vida podem vir a fazer a cobrança de seus saldos negativos. A porcaria é que nem sempre sai do bolso do devedor o montante a ser integralizado.

Por puro egoísmo, a opção altruísta parece a mais inteligente. Embora tão superiores aos chamados irracionais, nós, os sapiens, nos autoconsumimos. Esvaímos os recursos. Desvalorizamos o que há de mais precioso. Descartamos vínculos e afetos, em nome da perecibilidade. Preferimos o descuido, afinal, cuidar dá muito trabalho.

A vida tem um custo de manutenção, que ninguém nos avisou (troque “vida” por “negócio” que dá exatamente no mesmo). O resultado é alvejado (ia escrever “almejado”, mas o jogo de palavras me pareceu oportuno) e para a sua obtenção, há de se fazer escolhas. Quer equipe? Desenvolva! Quer dinheiro? Sue! Quer vender? Oferte! Quer amigos? Ouça! Quer sossego? Planeje! Quer negócio? Gaste-se!

Mesmo com a manutenção, o fim é único. Pereceremos, acredite no que for. O sistema maior é que precisará administrar nossos dividendos – sejam eles positivos ou negativos. Estamos aí, pra jogo. Construindo grandes ferros-velhos, é o que constato e me desiludo por vezes.

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