A amarelinha, mais que uma camisa, uma nação em campo.

A amarelinha, mais que uma camisa, uma nação em campo.

O que significa para os Brasileiros o amor ao seu símbolo nacional e torcer para a seleção.

Que o Brasil é o país do futebol, isso todo mundo sabe. É difícil explicar a admiração e o amor que o brasileiro tem pelo esporte trazido por Charles Muller para o país no início do século 20. Mas, de tempos e tempos, e com muita frequência, todo brasileiro com capacidade de reflexão e apto a comparar o cenário político, social e econômico, se depara com o contraste da realidade da nossa seleção e a realidade do nosso país. Jogadores muito bem pagos, ganhando salários astronômicos que, se somados, podem ultrapassar facilmente 50 ou 60 anos do ganho de milhares de trabalhadores assalariados no país.

De outro lado temos o cenário político.

O país do futebol, da alegria, da ginga e da receptividade é também, infelizmente, o país da corrupção e da impunidade.

Os políticos por aqui sabem fazer valer a velha máxima romana "panis et circenses" ao máximo. O futebol, aliado à teledramaturgia e a cervejinha de final de semana funcionam há décadas como o ópio do povo. Um pano quente para tentar amenizar a dor desse povo alegre que tem que conviver com a insegurança, com o abismo social que privilegia os ricos e faz com que as classes menos favorecidas paguem uma das cargas tributárias mais altas do mundo. Nos últimos anos o Brasil trouxe à luz um dos esquema de corrupção mais vultuosos da história mundial, com implicações que resultaram no impeachment de uma presidente, a prisão de um ex-presidente e a rejeição máxima do presidente atual.

Não pretendo criar um discurso politizado, até porque hoje, no Brasil, não existe um único partido ou político que eu admire.

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Em paralelo, ontem ao abastecer meu carro em um posto, puxo conversa com a atendente e digo:

– Como torcer para o Brasil nesse cenário que estamos, num é?

Ao que ela sorri e me responde com muita simpatia:

– ah, mas o coração fala mais alto nessas horas.

E realmente, o coração fala mais alto. A amarelinha é um símbolo nacional, sofreu uma perda de reputação nos últimos anos e após a Copa de 2014 e o triste 7x1, voltou a ganhar força e significado com a chegada de Tite, um técnico que tinha a dura missão de devolver o orgulho e o respeito a camisa canarinho. Algo que, até o momento, ele vem conseguindo ter êxito.

Essa camisa, quando entra em campo, ela não leva somente o talento e a genialidade dos seus jogadores. Qual país pode dizer de boca cheia que teve no panteão dos seus craques jogadores como Garrincha, Didi, Pelé, Djalma Santos, Leônidas da Silva, Ademir da guia, Domingos da Guia, Clodoaldo, Amarildo, Tostão, Zico, Sócrates, Júnior, Reinaldo, Dadá, Dirceu Lopes, Rivelino, Piazza, Vavá, Jairzinho, Marta, Romário, Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo, Kaká e tantos outros.

Poucos países podem citar que tiveram jogadores que desequilibraram com seu talento individual uma copa do mundo. Nós podemos citar Pelé e Vavá em 58, Garrincha e Amarildo em 62, Pelé, Tostão, Rivelino e Jairzinho em 70, Romário e Bebeto em 94 e por fim Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho em 2002. Talvez no mesmo panteão somente Inglaterra com Bobby Charlton em 66, Alemanha com o Kaiser Franz Beckenbauer na copa de 74 e El Pibe de Oro, Maradona em 86. Os estudiosos do futebol me corrijam se eu tiver omitido alguém. (Cruyff e Eusébio fizeram a diferença mas infelizmente não levaram a copa.)

A cada gol com a Amarelinha ali tem um alento pra mãe que trabalha o dia todo pra dar dignidade para sua família, para o caminhoneiro que luta pelos seus direitos, para o pai de família, para o micro-empreendedor, para os policiais, os professores, médicos, para o pobre, para o rico, para os negros, brancos, cafuzos, mamelucos, pardos, índios e também os filhos migrantes que adotaram a antiga terra de Pindorama como sua terra do coração.

O gol é uma injeção de alegria, uma forma de, mesmo que por alguns momentos, de fazer com que cada brasileiro esqueça um pouco dos problemas da Pátria Amada que brilha em raios fúlgidos.

Aí, eu como bom torcedor, fico no dilema lá da minha história com a atendente, olhar a realidade ou deixar o coração falar mais alto?

No fundo todos queremos ver a Seleção levar o Hexa, mas seria melhor ainda se o nosso amor e orgulho pelo país ou pela busca dos gols se traduzisse em ação, em uma manifestação apolítica onde todos pudessem dizer que verdadeiramente um filho Teu não foge a luta. Que a mesma paixão que nos leva a gritar gol ou sofrer por 11 jogadores dentro das 4 linhas, seja na Copa ou em outros campeonatos, seja a paixão que vai fazer com que nosso país seja verdadeiramente o melhor país do mundo. Acredito, mesmo que utópicamente, que temos gente que ama esse país mais do que ama o futebol.

Que possamos trocar o grito de “ o campeão voltou” pelo grito de justiça, pela tolerância zero com a corrupção, pelo fim das regalias de políticos que exploram, saqueiam e legislam em benefício próprio, pelo fim do “ jeitinho brasileiro” que fura filas, que usa o acostamento para passar na frente porque “ estou com pressa”, pelo fim do voto em troca de um emprego, um favor ou uma ajudinha que custa 4 anos de exploração, esquemas e maracutaias em todas as esferas do poder.

Eu vou torcer pela seleção, mas confesso que torço por mais transparência, por mais dignidade e mais alegria verdadeira para nosso povo. O Hexa pode até acontecer, mas espero que nossa torcida seja mesmo pelo Brasil que dê um drible de gênio nas indiferenças e faça um gol de placa rumo a um futuro digno e de orgulho para o nosso povo.


Dizem que Deus é brasileiro, que possamos manter firmes a nossa Fé de que tudo vai mudar. Que Ele nos dê a força e a coragem que precisamos para sermos a mudança que nosso país precisa! Força Brasil, não somente aquele ali na Rússia que entra em campo hoje, mas pra esse real que ficou aqui com o coração e a alma sofrida na mão!

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Cristiano é cristão, pai, designer e um apaixonado por tudo relacionado à marcas, comunicação e inovação. Gosta de contar histórias e é idealizador do LinkedTalks, um projeto que entrevista especialistas em diversas áreas do conhecimento em temas como criatividade, rh, disruptura e cultura organizacional. Possui mais de 20 anos em projetos de comunicação e criação para clientes no Brasil e no exterior. Clique aqui para ler outros artigos escritos por ele.



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