Sem lobo em pele de cordeiro: a transformação digital exige coerência

Eu e Daniel Castello lançamos o livro "Transformação Digital: Uma Jornada Que Vai Muito Além da Tecnologia" para compartilhar aprendizados; o título que você acaba de ler é um deles

Eu sempre gostei de tecnologia e, de alguma forma, a tecnologia sempre acompanhou meus passos. Tive a sorte de poder unir essa paixão a outra, por gestão de pessoas, em minha carreira. Me instalei numa fronteira entre recursos humanos e tecnologia – um lugar improvável para quem achava que uma coisa não combinava com a outra, mas coerente com a minha personalidade geminiana! Foi nessa posição que trilhei os primeiros passos da transformação digital.

Passei por PwC, IBM, HP... No GPA, fui Chief Digital Officer (CDO), liderei decisões como a da compra da James Delivery. Foram períodos intensos, não havia roteiro pronto, todo mundo estava aprendendo. As discussões sobre o impacto da tecnologia e toda a mudança de mentalidade que a tecnologia promove apenas começavam a entrar pela porta da frente de corporações.

Foi só depois de um sabático destinado aos estudos, entre 2018 e 2019, que me senti confortável para dizer, com alguma convicção e mais clareza, que entendi os tropeços, erros e acertos de muitas decisões que tomei e que vi serem tomadas, em diferentes frentes, de diferentes organizações. As aulas de um curso de Agile, em Harvard, e as de Transformação Digital, no IMD, junto a todo o panorama que mudanças de endereço sempre dão, me fizeram tomar uma decisão: ligar para meu amigo Daniel Castello com uma espécie de ultimato. "Vamos tirar aquele projeto de escrever um livro juntos da gaveta?".

Da esquerda para a direita do leitor: Daniel Castello e eu (Foto: Giulia Dolabella Salvador)

O que já sabíamos: havia uma escassez de literatura adequada e acessível tanto para grandes companhias, como para pequenos empresários. Senti isso na pele quando participei de uma startup de e-learning no Grupo Promon, 20 atrás. Os materiais disponíveis eram estrangeiros, cheios de jargões e seus conteúdos tornavam-se obsoletos rapidamente (é o ritmo da transformação digital!). Muitas das lições trazidas mostravam-se falhas na prática e no curto/médio prazo. Em conversas com startups e corporações, vemos que essa dor existe até hoje.

Fico muito feliz em anunciar que o ultimato feito ao Daniel funcionou. Lançamos "Transformação Digital: uma jornada que vai muito além da tecnologia" no domingo (22). Se quiser, você pode ler um trecho do livro publicado pelo Brazil Journal. Daniel foi companhia escolhida a dedo para esse ano de projeto. Meu amigo há mais de 20 anos, dono de habilidades e características complementares às minhas, e também de uma trajetória que soma à minha. Enquanto a minha escola foi em tecnologia e gestão no mundo corporativo, a dele foi em inovação, gestão, tecnologia e estratégia em pequenas e médias empresas, Daniel é mentor da Endeavor.

Foram dezenas de entrevistas, com executivos, investidores, gestores e diretores de empresas nacionais e internacionais, além de conversas com consultores e analistas. Queríamos elaborar um material que transcendesse cargos, feito tanto para aqueles que estão começando, como para quem já ocupa cadeira num Conselho de Administração. Tudo isso trazendo, também, contexto socioeconômico sobre os impactos de decisões de empresas. A transformação digital vai além das quatro paredes (ou do home office) de organizações. E o contexto sempre faz diferença. 

Nossa pretensão não é oferecer respostas prontas ou uma “receita de bolo”. E, sim, um material que desmistifica a transformação digital e traz "organização mental" e estratagemas para quem está à frente de negócios. A execução da transformação digital vai muito além dos códigos da tecnologia. Engloba mudança de mentalidade, redirecionamentos, gestão de pessoas. Em outras palavras, se você busca o “beabá da transformação digital”, não posso indicar o nosso livro – e tenho certeza de que o Daniel concorda comigo nessa.

Todos os indivíduos são únicos e, por isso, processos de transformação digital também são únicos. Devem ser moldados de acordo com particularidades e as pessoas que formam uma empresa. Não existem caminhos iguais, muito menos 100% sem risco – mas existem, sim, aprendizados, ferramentas e técnicas. Para entender qual é o caminho, trouxemos em nosso livro os questionamentos que melhor funcionam para líderes entrarem nessa jornada. Afinal, organizações não podem fingir algo que não são, é uma questão de coerência. Não dá para ser lobo em pele de cordeiro

O resumo da ópera é que, com a primeira prova em mãos, constatei, com alguma convicção e mais clareza, que escrevi um livro que adoraria ler. Uma análise consistente de aprendizados, com histórias que transformam a teoria em prática. Espero que vocês também gostem da leitura!