Sem políticas de valorização do docente, será difícil (re)construir a educação pública do país
Nas eleições que se aproximam, colocar a educação como prioridade é dever de cada candidata e candidato comprometido com o desenvolvimento do país. Entre todas as pautas educacionais, as políticas públicas de formação e valorização da carreira docente e, em especial, as relativas à educação básica, precisam ser priorizadas nesse momento de acirramento das desigualdades educacionais.
Não há como construir educação pública de qualidade, com equidade, sem professores qualificados e valorizados. E a população brasileira sabe bem disso.
Esse retrato foi capturado pela pesquisa "Educação, Valores e Direitos", coordenada pelo Cenpec e Ação Educativa, com a realização do Centro de Estudos em Opinião Pública (Cesop/Unicamp) e Instituto Datafolha. No levantamento, os baixos salários e a desvalorização dos professores foram citados como o segundo maior problema da educação do país, depois da falta de investimentos nas escolas públicas.
A população também reconhece o papel estrutural dos professores no processo educativo. Exemplo disso é a constatação de que 7 em cada 10 pessoas afirmam confiar mais em professores do que em militares para trabalhar nas escolas —colocando em xeque a tese de que investir em um modelo militar de educação melhoraria a qualidade do ensino.
Com os desafios impostos pela pandemia, a importância do trabalho docente ficou ainda mais evidente para as pessoas, aponta ainda a pesquisa. Isso porque, com a interrupção das aulas presenciais, muitas famílias sentiram na pele a falta que faz a escola e os professores na educação das crianças, adolescentes e jovens. O ensino-aprendizagem exige muita preparação, metodologias e recursos que são inerentes à atuação docente, mas que as famílias geralmente não têm.
Mesmo sabendo que professores qualificados são um dos melhores recursos para enfrentar as desigualdades e impulsionar a melhoria da educação pública do país, ainda falhamos na adoção de medidas concretas para a valorização e o desenvolvimento profissional dos mais de 2,2 milhões de docentes que atuam na educação básica do Brasil.
Atualmente, o país registra o menor salário para professores em comparação com as 40 nações que integram a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). A média brasileira é de US$ 26 mil por ano frente aos US$ 49 mil anuais registrados pelos países da organização.
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As condições desiguais em que ocorre a formação de professores também impactam na oferta educacional de cada região do país. Dados do Painel de Desigualdades Educacionais no Brasil, produzido pelo Cenpec em 2021 com base no Censo Escolar (Inep, 2015-2020), ilustram uma parte dessa questão. Quando olhamos os dados de formação inicial, por exemplo, a porcentagem de docentes apenas com ensino médio na zona rural (25%) é mais que o dobro do que na área urbana (10,9%).
Outros fatores, como a falta de investimento em formações continuadas, condições inadequadas de trabalho, poucas oportunidades de crescimento e estruturação da carreira, além do próprio impacto que a pandemia trouxe para esses profissionais —inclusive emocional— acirram a precarização da trajetória docente. Por consequência, cada vez menos jovens querem ingressar nessa profissão.
A educação é o eixo norteador de todo o desenvolvimento social, econômico e cultural das sociedades, e os professores têm um papel protagonista nessa história. São eles que fazem a educação acontecer. E, pensando no contexto desafiador de recomposição de aprendizagens que temos pela frente, é elementar que os futuros parlamentares priorizem essa pauta em suas agendas políticas. Há que se criar e fortalecer mais políticas públicas voltadas ao trabalho docente.
No próximo dia 30 de agosto, às 15h, o Cenpec realizará um evento dedicado a esse assunto. É o "#PriorizaAProfessora: A Docência no Centro do Debate Sobre Educação nas Eleições 2022". Toda a sociedade civil está convidada a dialogar com especialistas sobre o presente e o futuro da docência na educação básica. Com isso, queremos lançar luz sobre como a valorização dos professores pode incidir, efetivamente, no enfrentamento das desigualdades educacionais e na melhoria da qualidade educacional para todas(os) as(os) estudantes do país.
Afinal de contas, tudo começa pelo professor.