Semana do meio ambiente – Profissionais de marketing: precisamos falar sobre plásticos
Aquecimento global é coisa do passado: o que estamos vivendo agora é um fenômeno denominado Ebulição Global. A ebulição global refere-se a um estado avançado do aquecimento global onde os efeitos das mudanças climáticas se intensificam de forma exponencial, levando a eventos climáticos extremos, como ondas severas de frio e calor, incêndios florestais devastadores, secas prolongadas, inundações catastróficas e tempestades mais violentas. Este termo é usado para transmitir a urgência e a gravidade da crise climática atual, enfatizando que estamos além do ponto de retorno fácil e que ações imediatas são cruciais.
De acordo com “The Global Risks Report 2024”, efetuado anualmente pelo Fórum Econômico Mundial, os eventos de clima extremo encontra-se em segundo lugar no ranking de maiores ameaças à existência da humanidade para os próximos 2 anos, perdendo apenas para Desinformação e Fake News.
O mesmo relatório aponta que, para 2034, os quatro primeiros grandes riscos para humanidade relacionam-se com as mudanças climáticas:
1º Eventos climáticos extremos
2ª mudança crítica nos sistemas terrestres
3. Perda de biodiversidade e colapso do ecossistema
4. Escassez de recursos naturais
Logo, uma das grandes causas para Ebulição Global estar em níveis tão preocupantes é a elevada e desenfreada emissão de CO2. De acordo com IPAM Amazônia, o CO2 é um gás presente naturalmente na atmosfera, representando aproximadamente 0,036% de sua composição, e também emitido na queima de combustíveis fósseis e biomassa, nas mudanças de uso da terra e em outros processos industriais. A emissão de CO2 é uma das grandes responsáveis pelo Aquecimento Global.
Segundo a WRI Brasil (2020), o CO2 compreende 74% das emissões de gases de efeito estufa. Muitas vezes, acreditamos que o consumo de carne é um dos grandes vilões para emissão desse gás, porém, pasme: a maioria das emissões de CO2 (89%) é proveniente do uso de combustíveis fósseis, especialmente para geração de eletricidade e calor, transporte, fabricação e consumo.
Destaca-se, portanto, a produção de petróleo para fabricação de embalagens de plástico, que deve ser pensada por marcas na criação de novos produtos ou serviços.
De acordo com a ONG ambiental The Nature Conservancy, cada habitante do planeta atualmente gera em média 4 toneladas de CO2 por ano, o que torna insustentável até 2050. Os países que mais emitem gases de efeito estufa são: China, Estados Unidos, Índia, União Europeia, Rússia, Indonésia e Brasil. Sim! O Brasil está em sétimo lugar de maior emissor de CO2 do mundo (WRI BRASIL, 2023).
Além do mais, um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) (2023), denominado “Acabar com a Poluição Plástica: Um Roteiro Global”, aponta que a produção anual de plásticos é de 430 milhões de toneladas, sendo a maioria produtos de vida curta que são descartados rapidamente.
De todo o plástico produzido, só 9% são reciclados no mundo e 1,3% no Brasil. Por ano, usamos 1 trilhão de unidades de garrafas plásticas e descartamos 1 milhão de sacolas plásticas por minuto (ONU, 2023).
Se as tendências atuais se mantiverem, a produção de plástico deve triplicar até 2060. No entanto, em março de 2022, 193 países concordaram em acabar com a poluição plástica em um tratado histórico. O relatório alega também que é possível reduzir a poluição plástica em até 80% até 2040, desde que sejam implementadas mudanças práticas e acessíveis, principalmente por parte das empresas e do governo, por meio de políticas públicas, além da redução do consumo e reutilização do material por nós, consumidores (ONU, 2023).
O plástico só pode ser reciclado poucas vezes e, por conta do seu descarte inadequado e produção exacerbada (por ser uma matéria-prima de baixo custo para indústria), é uma ameaça para vida aquática, além de poluir nossa água potável, que já se transforma em microplásticos, os quais fazem muito mal a nossa saúde. Esse material pode levar mais de 400 anos para se decompor, é rapidamente descartado, barato para indústria e a reciclagem e as ações de neutralização das emissões de CO2 não dão conta de acompanhar o ritmo de consumo e a produção de plásticos.
Segundo dados divulgados no Fórum Mundial de Davos de 2016, haverá mais plástico nos oceanos do que peixes até 2050, se a produção e descarte continuar a mesma que os dias de hoje.
Ao mesmo tempo, os consumidores têm se tornado cada vez mais conscientes e cobram das empresas uma postura mais ativa fronte aos problemas enfrentados pelo planeta. De acordo com a Akatu, Consumo Consciente significa “consumir com melhor impacto, consumir diferente, sem excessos ou desperdícios, para que haja o suficiente para todos para sempre. O consumidor consciente é um indivíduo empoderado. Ele entende que o ato de consumir um produto ou serviço faz parte de um contexto que envolve produção, compra, uso e descarte traz consequências positivas ou negativas para si próprio, o meio ambiente, a economia e a sociedade”.
Destarte, a Mintel (2024) também destaca a tendência do consumo consciente e sustentável para os próximos anos, chamando de New Green Reality: marcas serão confrontadas com a realidade de que a sobrevivência num novo contexto climático tem de ser a prioridade.
Portanto, profissionais do marketing, nós que atuamos diretamente nas estratégias das empresas, principalmente com questões de lançamento de novos produtos ou serviços, precisamos agir e repensar a maneira com a qual atuamos no curto, médio e longo prazo. Sabemos que esse não é um problema exclusivo nosso, mas somos grandes responsáveis em fazer a diferença que queremos no mundo, chamando para ação e conscientizando tanto os consumidores, quanto os stakeholders, como o governo.
Seguem algumas dicas do que podemos fazer para minimizar os impactos em toda cadeia:
1. Promoção de Embalagens Sustentáveis
a. Comunicação Transparente: Divulgue os benefícios das embalagens sustentáveis e os impactos negativos das embalagens de plástico. Utilize campanhas de marketing para educar os consumidores sobre a importância de escolher produtos com embalagens eco-friendly.
b. Certificações e Selos Verdes: Promova produtos que possuem certificações ambientais reconhecidas, como o selo FSC (Forest Stewardship Council) para papel e papelão, ou o selo de reciclagem.
2. Design e Inovação em Embalagens
a. Incentivo ao Design Ecológico: Colabore com equipes de design para criar embalagens inovadoras que utilizem materiais recicláveis, biodegradáveis ou reutilizáveis. Destaque esses designs nas campanhas de marketing para atrair consumidores conscientes.
b. Redução de Material: Apoie a criação de embalagens que utilizem menos material sem comprometer a integridade do produto. Promova essas inovações como parte dos esforços da empresa para reduzir sua pegada ambiental.
3. Educação do Consumidor
a. Campanhas Educativas: Desenvolva campanhas que incentivem a reciclagem e o descarte correto das embalagens. Forneça informações claras sobre como os consumidores podem contribuir para a redução do plástico.
b. Engajamento nas Redes Sociais: Utilize as redes sociais para disseminar conteúdo educativo sobre sustentabilidade, incluindo dicas práticas para reduzir o uso de plástico no dia a dia.
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4. Parcerias Estratégicas
a. Colaboração com ONGs: Forme parcerias com organizações não governamentais que trabalham na área de sustentabilidade para criar campanhas conjuntas que promovam a redução do plástico.
b. Alianças com Fornecedores: Trabalhe com fornecedores que oferecem alternativas de embalagens sustentáveis e promova essas parcerias como parte do compromisso da empresa com a sustentabilidade.
5. Programas de Retorno e Reutilização
a. Sistemas de Retorno: Incentive a criação de programas onde os consumidores possam devolver embalagens para reutilização. Promova esses programas como uma maneira de fechar o ciclo de uso dos materiais.
b. Reutilização Criativa: Crie campanhas que incentivem os consumidores a reutilizar as embalagens de maneira criativa, transformando-as em algo útil, como recipientes de armazenamento ou objetos decorativos.
6. Incentivos ao Consumidor
a. Descontos e Recompensas: Ofereça descontos ou recompensas aos consumidores que optam por produtos com embalagens sustentáveis ou que participam de programas de retorno de embalagens.
b. Produtos a Granel: Promova a venda de produtos a granel, que permitem aos consumidores comprar a quantidade exata de que precisam, utilizando suas próprias embalagens reutilizáveis.
7. Relatórios e Transparência
a. Relatórios de Sustentabilidade: Publique relatórios regulares sobre as iniciativas de sustentabilidade da empresa, destacando os esforços para reduzir o uso de plástico e os resultados alcançados.
b. Transparência: Seja transparente sobre os desafios e progressos na redução de embalagens de plástico. Isso ajuda a construir a confiança do consumidor e a fortalecer a reputação da marca.
Conclusão
Nós, Profissionais de marketing, temos o poder de influenciar mudanças significativas na forma como as embalagens são produzidas e consumidas. Ao adotar e promover práticas sustentáveis, podemos ajudar a minimizar a produção de embalagens de plástico, educar os consumidores e incentivar toda a cadeia de valor a se comprometer com a sustentabilidade. Implementar essas estratégias não apenas beneficia o meio ambiente, mas também fortalece a imagem da marca como uma empresa responsável e inovadora.
Lembre-se que tendências vem e vão: o que nunca sai de “moda” é a autenticidade, a transparência, a humanidade, a conexão e preocupação genuína de sua marca com os impactos no planeta e sua empresa ter em seu cerne a vontade de tornar este um mundo melhor para se viver.
Referências Bibliográficas
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Precisamos Repensar atitudes, produtos e serviços. Reduzir. Reutilizar. Ressignificar. A Reciclagem é a última (e necessária) alternativa depois que os outros Rs já foram considerados. Mais além, precisamos buscar meios de Regenerar. Estamos próximos a perigosos pontos de inflexão, a hora é agora (já passou, mas passado não volta, então é já!) Obrigada, Mariana Munis de Farias por trazer o tema para o debate! Bora, juntas!
Consultora de Marketing e Comunicação pelo Sebrae SP| Palestrante e Conteudista | Marketing de Influência | Planejamento de Conteúdo | Autora do livro "O Guia de Marketing de Influência para Pequenos Negócios".
7 mSempre trazendo assuntos relevantes e atuais. Parabéns Mari.