A senhora lo lenço

No cair da noite, ouvia-se o crepitar. Os mil tons de vermelho inundavam a paisagem daqueles que, ingénuos, se atreviam a olhar. “Era a época deles”, dizia alguém. Eram mil ventos cruzados. Mil rostos desolados. Ouviam-se gritos. Gritos de pesar perdidos entre pulmões fartos de emoções. Pulmões de portugueses. Ao longe, chegava quem podia chegar. Ajudavam os que queriam. Os que sabiam e os que podiam. Mas todos ajudavam. Quase todos.

Lembro-me de um rosto feminino. Um desses que circulou por aí. Um rosto crivado de histórias. Um rosto de uma vida. Um rosto sem contestações, modesto, bondoso. Um rosto de quem pouco tinha. Agora, nada tem.

Tenho em mim tamanha descrença! Pesar. Não me preencho em maldade. Mas também não aceito mediocridade. À minha volta, tornámo-nos amorfos. Indiferentes aos outros, procuramos fora de nós a perfeição que não existe. Somos maus. Somos tão maus que já não sabemos o que somos. E depois, aquela senhora. A dor que nos espelha, a nós, poucos entre muitos.

A senhora do lenço.

EG

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