Senso comum, o assassino da inovação
Escutamos todos os dias palavras super legais, inovação incremental, inovação radical, pensamento disruptivo, gestão inteligente, pensamento exponencial, pensamento 360, pensamento holístico, pensamento complexo, e por aí vai.
Mas de que adianta tudo isso afinal se a maioria dos profissionais sabe que na cultura da sua organização assumir riscos e errar significa a possibilidade de ser mandados ao freezer?
O senso comum e o preconceito dominam a cultura organizacional e seus habitantes tem medo de pensar, errar e se arriscar.
Ja participei de avaliações de projetos onde pude perceber a perplexidade dos gestores ao apresentar as conclusões de que o projeto devia ser profundamente transformado para alcançar os resultados previstos. Como explicar isso aos seus superiores ? seria visto como uma fraqueza de parte do gestor? como podia ter errado? Um risco desnecessário, na avaliação do gestor. A escolha obvia foi deixar o projeto como estava, afinal ninguém da diretoria tinha reclamado.
Estes casos se enquadram na cultura do sucesso das empresas, onde errar é um pecado que se paga caro. Culturas baseadas numa visão cartesiana e perfeccionista, que acredita que onde existe erro não pode existir acerto, e vice-versa. As empresas contaminadas por esse paradigma, transformam-se nas maiores reprodutoras do preconceito contra o erro e a inovação.
Muitas vezes as diretorias não entendem que as empresas são ecossistemas formativos, e que a cultura que imprimimos pode gerar o sucesso ou fracasso do empreendimento.
Ecossistemas que para promover a inovação e a melhoria continua dos processos devem estar baseados numa pedagogia da pergunta, do erro e da avaliação, e não da resposta e o acerto, que poderíamos definir como um sentimento de satisfação negativa na organização, já que se sabemos todas as respostas nos sentimos satisfeitos, na nossa zona de conforto, e isso não nos move a inovar.
A inteligência na gestão e até o pensamento disruptivo são resultados de uma nova forma de ver e entender o mundo e da conseguinte construção de uma racionalidade alternativa, uma racionalidade holística, complexa e crítica. Uma racionalidade que tenta superar o reducionismo que em parte a ciência moderna baseada no estimulo e a resposta, a causa e o efeito e as visões cartesianas têm criado.
Luke Williams diz que o maior assassino de inovação é o "senso comum". "Quando os executivos ou investidores avaliar um projeto com base no senso comum, tendem a tomar decisões com base no que tem funcionado no passado, então eles dizem: Como você pode pensar que alguém pode comprar meias em embalagens de três?, Você conhece alguém que tem três pernas? Esse é o caso de LittleMissMatched, uma empresa que teve a ideia de vender meias individuais em embalagens de três e tem sido muito bem sucedida".
Acontece que uma hipótese disruptiva não esta baseada numa predição razoável mas numa provocação irracional, isso significa passar de um estilo de pensamento linear e instrumental, causa - efeito a um estilo de pensamento compreensivo, expansivo.
Ravi Aron, professor da Escola de Negócios da Universidade Johns Hopkins, por outro lado alerta que a ‘disrupção’ é invocada com frequência por consultores e gurus das frases de efeito para explicar por que as instituições falham. O fato de que instituições não estão maximizando as funções objetivas que os consultores acham que deveriam maximizar é algo que não compreendem. As soluções que os ‘consultores de disrupção’ apresentam poder ir do lugar comum ao perigosamente catastrófico.
Por isso, entendemos que sem compreender o que fazemos as práticas são meras reproduções de hábitos existentes ou modas que não conseguem sequer rasgar a superfície do processos, vestindo a tradição de novas roupagens para não mudar.
Organizações e instituições, executivos e empresários, necessitam aprender a pensar e atuar de outra maneira, superando o senso comum e os preconceitos; necessitam estar abertos a escutar, descobrir novos talentos e diferenciar entre as inovações verdadeiras e as aparentes.
Einstein, afirma que “fazer as coisas do mesmo jeito e esperar resultados diferentes é tolice”, portanto, é preciso buscar sempre a mudança, mas a mudança significa entrar em zonas incertas onde impera a experimentação, a aproximação sucessiva e o acerto e erro.
“O animal satisfeito dorme”, diz Guimarães Rosa.
E o empreendedor jamais pode se mantém satisfeito, pois a cada dia ele deve buscar, querer mais e melhor para o desenvolvimento do trabalho. É o que Cortella chama de “insatisfação positiva”, ou seja, a busca de mais conhecimento, mais experiência, mais capacidade.
BACK TO BASICS
8 aPelo exemplo apresentado do sucesso de se vender meias em embalagem de três unidades, vem a pergunta porque não vender luvas no mesmo conceito. Mas aí seriam 2 luvas direitas e uma esquerda no mesmo conjunto. Tenho diversas luvas de borracha em que a mão direita acabou furando pelo uso, aí perco o par. Grande exemplo para desafiar a criatividade dos leitores!
Pesquisador na Embrapa Territorial
8 aSílvio Vaz Jr., Dr. “O animal satisfeito dorme”, diz Guimarães Rosa.