Sentir e Pensar
Em agosto deste ano eu li um artigo do Valor Econômico muito interessante sobre o poder do AMOR nas organizações. Isso mesmo, o amor - essa pequena palavra que move o mundo e as relações, mas da qual não se fala muito em ambientes corporativos.
O artigo de Lourenço Bustani nos faz refletir sobre nos reconectarmos com esse instinto primitivo e evidencia as emoções, os sentimentos, a espontaneidade e a vulnerabilidade como caminhos para resgatarmos a nossa humanidade e mudarmos as organizações, as sociedades e o mundo.
Neste sentido, fiquei refletindo sobre as 6 formas de pensar que aprendi com a neurociência: orquestrando as emoções, conexão cérebro-corpo; pensamento intuitivo, pensamento lógico/racional, pensamento motivacional e pensamento criativo.
Aprendi que cada indivíduo tem predisposição por duas formas de pensar. Porém, o ideal é integrarmos todas e utilizarmos cada qual conforme contexto e circunstância.
Quanto mais estudo sobre neurociência, mais percebo que o pensamento lógico/racional não está - e nem deveria estar - acima dos outros em nível de importância; como fomos ensinados por tanto tempo.
Então, retorno ao ponto inicial do texto e reflito que, para resgatarmos esse amor - talvez perdido pelo pensamento racional - precisaremos aprender a melhor forma de usar a nossa voz interior, nossa intuição, nossas emoções.
A psicanalista Vera Iaconelli afirma que somos uma sociedade com muito conhecimento e pouca sabedoria. Será que essa sabedoria que nos falta, não estaria intimamente ligada ao pensamento intuitivo ou a melhor forma possível de orquestrar nossas emoções? Não seria, em grande medida, a falta do sentir algo ligado a falta de sabedoria?
Por ocasião da Flip deste ano, conheci a escritora e filósofa Ilaria Gaspari e fiquei encantada com o painel sobre seu livro ‘A Vida Secreta das Emoções'. Obra profunda e repleta de referências interessantes.
Ilaria destrincha 11 emoções - nostalgia, remorso, ansiedade, compaixão, antipatia, ira, inveja, ciúme, admiração, felicidade e gratidão - para ressaltar que as emoções que nos habitam é o que nos tornam humanos e que precisamos confiar mais no que sentimos e escutar as nossas emoções com atenção e introspecção.
Esse exercício de introspecção não seria também uma entrega, um voto de confiança?
É lógico que é essencial temperar essa confiança com ponderação e responsabilidade e não precisamos abandonar a razão. Podemos agir com equilíbrio, considerando o impacto de nossas escolhas em nós mesmos e nos outros. Entretanto, quando honramos o nosso coração, estamos no caminho para viver com autenticidade e harmonia. Ao confiar nos sentimentos e emoções, que revelam verdades profundas sobre quem somos, estamos abraçando a nossa humanidade.
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É fundamental, inclusive, acolher a totalidade dos nossos sentimentos, inclusive aqueles que, muitas vezes, tentamos evitar, como a tristeza, por exemplo. Ela também é parte da vida.
E quando abraçamos a nossa humanidade podemos ser mais vulneráveis e autênticos.
No podcast ‘O Corre Delas' - Luanda Vieira já falou algumas vezes sobre vulnerabilidade - a palavra do momento - como potência para nos aproximarmos significativamente das pessoas e criamos conexões reais, seja no ambiente de trabalho como em todas as áreas de vida; como @brene brown tem nos ensinado há tanto tempo.
Muitas vezes vista como fragilidade, a vulnerabilidade, pode ser uma poderosa ferramenta de conexão e autenticidade. Quando um líder se permite ser vulnerável, ele demonstra coragem ao expor sua humanidade, abrindo espaço para um ambiente mais genuíno e colaborativo. Essa postura inspira confiança, pois reconhece que liderar não é sobre ter todas as respostas, mas sobre caminhar junto com a equipe, aprendendo e crescendo coletivamente.
Uma pesquisa realizada em 2023 com mais de 15.600 trabalhadores de 12 países, incluindo o Brasil, apresentou dados do novo Work Relationship Index da HP, mostrando que 52% das mulheres e 39% dos homens em cargos de liderança relataram confiar em suas habilidades humanas, como empatia, comunicação e autoconsciência.
Mesmo com essa diferença entre os gêneros, é possível interpretar dados como esses de forma positiva: tanto homens quanto mulheres sentiram necessidade de romperem padrões rígidos, mostrando que o poder não precisa vir da imposição, mas da capacidade de escutar, entender e criar relações autênticas. Ao liderar de forma vulnerável, podemos construir espaços de trabalho mais inclusivos e humanos, onde a confiança e a criatividade florescem, e onde os desafios são enfrentados com resiliência e colaboração. Essa combinação de força e sensibilidade redefine o que significa liderar com amor, inspirando mudanças que beneficiam a todos; valorizando o sentir e o pensar como ferramentas potentes que podem e devem andar de mãos dadas.
Em um artigo do Ted Ideas de 2023, Seth Godin, autor norte americano com 21 bestsellers internacionais que mudaram a forma como as pessoas pensam sobre o trabalho, critica o termo "soft skills", argumentando que este desvaloriza competências essenciais, como liderança, carisma, diligência e habilidades interpessoais. Estas, que deveriam ser chamadas de "competências reais", estão intimamente conectadas com as emoções e se mostram, dia a dia, cruciais para o sucesso das organizações, pois ampliam as capacidades técnicas e são indispensáveis para a execução eficaz do trabalho.
No último mês, Fernanda Montenegro fez um discurso emocionante durante a pré-estreia do filme ‘Ainda Estou Aqui'. Em dado momento ela reflete que não existem mais palavras a serem ditas, que é preciso apenas sentir.
A filósofa Viviane Mosé diz que a vida não é falta, mas sim transbordamento. Vida é excesso de emoções!
E as emoções são altamente contagiantes, um fenômeno explicado em parte, pela ação dos neurônios-espelho, que permitem ao cérebro "refletir" o estado emocional de outras pessoas, facilitando a empatia e a conexão social. Quando alguém expressa alegria, ansiedade ou raiva, tendemos a captar e reproduzir essas emoções, mesmo sem perceber. Por isso, é também essencial desenvolver a inteligência emocional como um todo, aprendendo a reconhecer, regular e influenciar nossos próprios estados emocionais e os dos outros de maneira positiva. Isso não apenas melhora as relações interpessoais, mas também cria organizações e sociedades mais harmoniosas e produtivas…e, quem sabe, mais amorosas.
Ativista do aprendizado | Entusiasta digital
4 semLivia Gonzalez gostei muito do texto. E terei a "cara de pau" de comentar aqui ... Achei bem interessante o apanhado que também passou pelas definições um tanto “caóticas” mas profundas e certeiras. As atitudes e as ações das pessoas em uma determinada “bolha” são também definidas por um “universo político” que se nutre e usa ideias para implementar formas de entendimento que estão a serviço de controle e subjugação. No geral tenho a impressão que os indicadores estão bem, mas os indicadores de absenteísmo não. E eu gostei muito da menção à necessidade de alegria (que é urgente) nas organizações, porque enquanto todos estamos “correndo e tentando entregar o melhor” também estamos igualmente tristes e angustiados.
Take with you only what contributes to your journey.
1 mFato Livia Gonzalez ! Minha sensação é que trocamos o sentimento pela opinião. Não sei se pretensamente para encobrir “fraquezas”, mas, ter voz, as vezes é mais recorrente do que ter ouvidos ou, mais importante, coração. E olha que o coração não impediria a visão de que o negócio precisa acontecer. Obrigado pela provocação.
Sabbatical Leave
1 mMuito bom Li! Parabéns! Concordo e defendo que colocar amor no nosso trabalho é muito importante , mas sinto que falta isso nas organizações. Tudo é muito racional e vivi isso na última empresa em que passei.
Diretor de Comunicação e Conteúdo | Board Member | Ex-Amazon e Ex-TV Globo | Autor de best-seller
1 mSou suspeito, porque trabalho com conteúdo. Então por mais que as decisões sejam balizadas por dados e experiência, o fator decisivo é sempre o sentimento.
Gerente Geral no Banco Safra
1 mAmei!!! É sobre isso!! Buscamos tantos conhecimentos e talvez o que falta mesmo é agirmos com mais sabedoria…