Será que os bancos brasileiros estão prontos para a disrupção das próximas tecnologias financeiras?
Enquanto o mercado se anima e se assusta com a emergência das fintechs e das techfins, o que nós, usuários, empresários e habitante do mundo digital podemos esperar das tecnologias que prometem mudar tudo o que a gente conhece?
As informações que quero discutir com o leitor vieram do estudo divulgado recentemente pela Atos, a gigante europeia de TI que incorporou a consultoria KPMG em 2002 e a adquiriu a IT Solutions and Services do grupo Siemens em 2010.
O estudo trata dos desafios para o setor financeiro, o que já foi feito pelas empresas e quais são as dez tecnologias mais disruptivas que podemos esperar para os próximos cinco anos.
Os 4 desafios e oportunidades de transformação para os próximos cinco anos para bancos e o mercado financeiro
Segundo o relatório, as instituições do mercado financeiro que querem se manter na competição ou lutar por um lugar de destaque no que promete ser uma grande disrupção tecnológica do setor vão precisar lidar com estes desafios e suas oportunidades:
Responder às necessidades dos clientes: item mais importante nas avaliações recentes do Digital Banking Report. Oportunidades: trocar as interações físicas pelas digitais pode trazer receita nova e corte de custos. Se o banco ou a instituição financeira conseguir tornar seu serviço completamente digital, de ponta a ponta, podemos imaginar a satisfação dos clientes.
Otimização de custos: para chegar ao ambiente “digital only”, sem interações físicas com os clientes e parceiros, as instituições precisarão focar exclusivamente o negócio principal delas. Será preciso investir em automação inteligente e enxugar o que não for essencial ao negócio. Além de precisar reinventar o backoffice, terão de resolver um desafio que já pesa hoje, substituir a infraestrutura desatualizada e solucionar o peso dos sistemas legados.
Criação de novas fontes de receita: o desafio de expandir o ecossistema financeiro via APIs e modelos de open banking vai permitir o desenvolvimento de novos produtos e novos segmentos, que por sua vez possibilitarão ofertas diferencias de serviços e várias oportunidades de monetização.
Sistemas de segurança e de compliance: as instituições financeiras começam a olhar para o novo produto de que dispõem, as informações dos usuários (o histórico dos usos, hábitos e interesses dos clientes). Sistemas mais seguros e a capacidade de encontrar e oferecer insights de qualidade serão vitrines para assegurar o compliance para o público e as autoridades regulatórias e, em contrapartida, a confiança dos clientes. Sistemas melhores trarão também redução de custos e oportunidades para o crescimento dos negócios.
O que tem sido feito de bom fora
O mercado financeiro tem se movido e abraçado a mudança tecnológica. Para atender a era digital, que pede agilidade e escalabilidade, os bancos e financeiras estão revendo a estrutura hierárquica, tradicionalmente fechada em silos (de dados a processos compartimentalizados), usada até então para os serviços tradicionais de transações, poupança, investimento, empréstimo.
O esforço das instituições para mudar o modo de organização, aumentar a digitalização dos processos e adotar iniciativas digitais, como a computação em nuvem, mostrou três aspectos em comum entre as empresas:
- Uma visão centrada na experiência do cliente;
- Integração inteligente e em tempo real das informações;
- Investimento em plataformas abertas.
E aqui no Brasil?
Diante das novas possibilidades, podemos apostar que como usuários nós iremos atrás da conveniência e da segurança.
Os especialistas indicam três abordagens para os nossos negócios e iniciativas. Primeiro, olhar para a tecnologia emergente como uma “core competence” são as competências principais ou essenciais de uma empresa.
Segundo, conseguir que toda a organização se engaje na adoção de novas tecnologias.
Terceiro, e igualmente desafiador, precisamos trocar o velho paradigma empresarial de olhar as novidades em termos de gastos, receita e corte de custos, para enxergar a experiência que a nova tecnologia traz, tanto internamente, para as pessoas da nossa empresa, como de fora, com os nossos clientes e parceiros.
Eu estou me preparando para esse futuro. E vocês?
Animação: Behance
Bônus: As dez tecnologias disruptivas para os serviços financeiros
Estas são as dez tecnologias que prometem mudar o sistema financeiro nos próximos cinco anos:
1. Computação em nuvem híbrida
A nuvem híbrida reúne a computação em nuvem privada (interna ou corporativa) e a de nuvem pública (de serviços de computação oferecidos pelas empresas a terceiros). Essa combinação, que reduz custos e aumenta a eficiência das operações, traria mais flexibilidade e os benefícios dos dois tipos de nuvem, e ainda reforçaria questões de segurança, governança e compliance.
Segundo a IBM, o setor bancário tem adotado a computação em nuvem e a maioria dos bancos busca combinações de TI tradicional e uso de nuvens públicas e privadas.
Segundo o estudo da Atos, 75% dos banqueiros entrevistados afirmaram que os casos de sucesso com a computação em nuvem os levaram a expandir o uso para outras áreas e para a novas formas de gerar receita e ampliação do portfólio de produtos e serviços.
2. Plataformas de API
Podemos esperar um ecossistema financeiro completamente transformado, via serviços bancários de plataforma aberta e APIs públicas (de aplicações terceirizadas). Não só veremos cada vez mais produtos e serviços diferentes, mas canais de venda e parcerias até então inéditas.
Com as APIs públicas os clientes terão mais opções para interagir com seus bancos, que atuarão como plataformas para que outras empresas construíram seus aplicativos com os insumos dessas plataformas. Talvez o modelo tradicional dos bancos comerciais, que atrelam a abertura de uma conta corrente a outros serviços financeiros ou oferecem a conta corrente para fisgar o cliente para esses outros serviços, mais lucrativos, esteja finalmente com dias contados.
3. Softwares de automação (RPAs)
Nos serviços financeiros, os softwares de automação (RPAs ou robotic process automation) ajudam bancos e instituições de crédito com a execução de regras pré-programadas para lidar tanto com informações estruturadas (em algum sistema, como formulários e bancos de dados) como desordenadas (e dispersas pela organização).
O futuro da automação inteligente possibilitará sistemas que aprendem com as decisões anteriores e identificam padrões de informação que permitem a tomada de decisões autônomas pelo próprio sistema, o que reduzirá custos de administração, regulação e controle, e aumentará a qualidade e a velocidade dos serviços.
Um sistema com o histórico detalhado dos processos automatizados permite a geração de relatórios em alta velocidade para os auditores e reduz ou elimina os erros humanos, o que simplifica os processos de compliance. E a facilidade de reconfigurar os softwares permite tanto a eficiência como a rapidez para atualizar o sistema inteiro ou adaptá-lo a novas regras de regulação.
4. Pagamento instantâneo
No mundo inteiro os bancos têm tentando contornar a falta de uma infraestrutura atual para formas de pagamento instantâneo apelando para o lançamento de aplicativos para os clientes como pela parceria entre bancos para oferecer pagamento P2P para uma base maior de clientes, não mais exclusivos a esta ou aquela bandeira ou instituição.
Uma plataforma de pagamento instantâneo traria para os bancos a velocidade que os clientes esperam dos serviços financeiros e aumentaria a satisfação do consumidor. E quanto mais transações digitais, sem uso do dinheiro, menos custos associados aos sistemas de pagamento.
Assim como a Amazon tem testado iniciativas de pagamento em alguns países, as instituições que combinarem e expandirem soluções digitais para o comércio físico e eletrônico poderão ampliar seus portfólios de produtos e serviços.
5. Inteligência artificial (IA)
As necessidades do próprio mercado parecem ser o principal motor das instituições financeiras no interesse pela inteligência artificial. Porque junto com concorrência cada vez maior e as exigências crescentes por parte do público, testemunhamos o crescimento explosivo da oferta de informações, sejam estruturadas ou não, e de novas tecnologias, como de máquinas que aprendem e computação em nuvem.
Assim, a inteligência artificial é vista como uma solução para as instituições resolverem e melhorarem todo tipo de questão, da necessidade de reformar o backoffice para a nova realidade à gestão de risco, do marketing à melhoria da experiência do ciente. A IA pode ajudar na tomada de decisões melhores diante da massa de informações disponíveis.
O estudo da Atos aponta resistências ao uso da IA, como o medo do fracasso, as burocracias atuais muito rígidas (que aprisionam as informações em silos e burocratizam desnecessariamente todos os processos) e os possíveis riscos de compliance com as agências regulatórias diante de um cenário muito novo.
Outo desafio atual é a falta de especialistas internos em informação. Mas o mercado já conta com várias empresas que podem ajudar as instituições financeiras a contornar a dificuldade de coletar e analisar os dados espalhados por suas organizações.
6. Blockchain
Mais que as moedas digitais, a própria tecnologia de blockchain deve ter um impacto muito grande no setor financeiro. Os especialistas veem na adoção do blockchain pelos bancos o esforço para aumentar a eficiência, reduzir custos e um modo de garantir mais segurança para todos os serviços financeiros.
Enquanto algumas instituições testam a tecnologia para transferências interbancárias, outras experimentam iniciativas em pagamentos e empréstimos e em sistemas de redução de fraude.
Mas há mais por vir, como o enxugamento mais racional dos processos e o uso de contratos inteligentes e automatizáveis. E certamente as autoridades de regulação terão de criar orientações para o uso do blockchain pelo sistema financeiro.
7. Segurança prescritiva
As ameaças cibernéticas e o padrão de ataque dos cibercriminosos desafiam as abordagens tradicionais de gestão de risco e segurança. A natureza e a incidência dos riscos mudam a todo momento e demandam destreza das empresas para lidar com cibersegurança.
A própria Atos é pioneira na área de segurança prescritiva, que representa o conjunto de abordagens e práticas que utilizam análise avançada, monitoramento em tempo real e sistemas de IA para detectar e neutralizar ameaças. Essa tecnologia pretende lidar com os riscos e a instabilidade no sistema financeiro que serão trazidos pelas tecnologias disruptiva e provar sua eficácia no longo prazo.
8. Realidade Virtual e Realidade Aumentada
As instituições financeiras também estão interessadas em como o uso da RA (realidade aumentada) e da RV (realidade virtual) podem melhorar a experiência dos usuários de um serviço. Vários bancos já começam a testar seus usos. O Commonwealth Bank of Australia usa a realidade aumentada para oferecer aos clientes interessados em imóveis o histórico de vendas, a tendência de preços e a lista de ofertas para determinada região. Assim, os usuários podem fazer vendas inteligentes e decisões de compra mais bem informadas.
A previsão dos especialistas é que a aplicação de RA e RV nos serviços financeiros trará autonomia para os usuários do home-banking. É possível imaginar o surgimento de agências bancárias híbridas.
9. Computação quântica
Esta tecnologia deve levar alguns anos para mostrar seus usos e aplicações, mas grupos como JPMorgan e Barclays já estudam o potencial da computação quântica em conjunto com empresas como a IBM.
Para ficar num exemplo do potencial exponencial da computação quântica: enquanto o bit, a unidade da computação tradicional, lida com dois valores, zero ou 1, os bits quânticos, qubits, podem assumir valores de zero, 1 ou ambos. A computação quântica tem o potencial de superar tecnologias como computação em nuvem e blockchain.
10. Máquinas inteligentes
Assim como já temos sistemas inteligentes, como câmeras e gadgets com reconhecimento visual, e assistentes pessoais, como o Alexa da Amazon, os bancos têm desenvolvido assistentes virtuais.
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Podemos notar um caminho favorável para entregas de valor atrelado a alta tecnologia , isso é uma característica forte de "Banking" ou serviços financeiros focado em necessidades do usuário. Vamos observar também novos entrantes de outros segmentos, oferecendo serviços especializados, isso é bom, pois são organismos mais flexíveis e que já resolvem alguma dor do usuário, como é o o caso da T-Mobile que recentemente lançou uma conta digital com vantagens especiais. Já em relação aos bancos tradicionais todos estão em uma grande maratona para não perder clientes para outros players enquanto estão repensando seus modelos e serviços.
Não podemos negar que as coisas já estão acontecendo!
Conselheiro, consultor econômico, compliance, governança corporativa e gestão risco, ex: gerente geral no mercado financeiro durante 35 anos .
5 aAs Instituições financeira - os bancos tradicionais criados para o século XX não serve mais e tampouco sobrevive a era do século XXI. À geração nascidas entre ano 1981 a 2003 são amantes as novas tecnologias, a disruptivas esta desimando as empresas míope e sem visão holística .
Analista Administrativo | Processos | Contratos | Gestão | Facilities | Gestor | Administrador | Coordenador |Supervisor
6 aOs bancos e nós (como usuários) precisamos nos preparar e adequar. Muito bom arquivo.