Serão os líderes mais importantes do que os liderados?

Não, não são, porque sem eles, simplesmente não há liderança nem líderes

Embora a esmagadora maioria da literatura sobre Liderança esteja totalmente focalizada no estudo dos líderes, são os liderados que constituem o verdadeiro puzzle evolutivo, não os líderes!

A questão de fundo é esta: porque é que as pessoas decidem seguir alguém?

Claro que tanto pode ser porque nem todos podem ocupar o lugar de comando (uma vez que só há normalmente lugar para uma unidade de comando), como pode ser pelo facto de as pessoas acabarem por tomar aquela que julgam ser a melhor decisão numa dada situação.

Como a teoria dos jogos o sugere, os liderados também beneficiam do papel de seguidores, sobretudo, quando têm bons líderes, porque estes são capazes de incentivar e inspirar as pessoas a darem o melhor de si para o grupo e com isso todos beneficiam.[1]

Além de tudo isto, convém não esquecer que são também os liderados quem determina o tipo de liderança que emerge e os lidera.[2] Um bom exemplo disso é a chamada “liderança carismática” que consegue inspirar os seus seguidores através de ideais e de um impacto emocional nos liderados pelo contacto pessoal e pela capacidade de sacrifício pelo grupo.[3]

De resto, a liderança carismática é também, muito provavelmente, uma resposta adaptativa face a situações ou circunstâncias de crise em que os membros de um grupo procuram alternativas fora da liderança tradicional de modo a ajudá-los a ultrapassar certos desafios e problemas que se colocam, e aos quais a liderança mais 'tradicional' já não responde. Quando as pessoas estão desesperadas ou sentem que não controlam os acontecimentos e o seu destino, parecem mais inclinadas e dispostas a seguir uma liderança carismática.

Afinal, a natureza só trabalha com o que existe.

Notas:

[1] Vd. Hogan & Kaiser, 2005; Van Vugt & De Cremer, 1999; Van Vugt, 2010. Evolution and the social psychology of leadership.

[2]  Vd. Cohen, Solomon, Maxfield, Pyszczynski, & Greenberg, 2004; Landau et al., (2004).

[3] Bass, 1990; Casa & Aditya, 1997; Yukl, 2006.