SER MULHER, SER MELHOR
O cenário é o mês de março, ano de 2018, mês que nos faz lembrar a simbologia feminina envolta do significante do dia 08. Marielle Franco, ativista social, mulher, engajada nas causas de direitos humanos e morta à tiros no Rio de Janeiro. Inicialmente na mídia levanta-se a hipótese de assalto, mais a frente durante as investigações surgem evidências que trazem a certeza de que todo o ocorrido foi anteriormente premeditado, com intuito de calar a voz dessa mulher.
Diante dessa tragédia que causou imensa comoção em grande parte do Brasil, é importante refletir sobre algumas questões que cercam a sociedade no que tange a vida, aos direitos e as ações para com as mulheres no país.
Marielle foi uma das inúmeras vítimas que trazem dados alarmantes nas estatísticas. Em 2017 foram registradas 12 mortes e 135 estupros por dia à mulheres. Em 2013 o número de assassinatos à mulheres chegou a 51.090 casos. Sendo estes os casos registrados.
Nas delegacias da mulher espalhadas pelo Brasil registram-se investigações de ao menos 10 casos por mês de assassinato ou violência contra mulher. Em 2018 o primeiro mês do ano já contabilizou 10 mortes, e 23 casos sob investigação. A primeira morte ocorrida no dia 01/01/2018, por um ex-companheiro, envolto de ciúmes, que decidiu não permitir que essa mulher vivesse mais.
A situação ficou tão crítica que foi proposto um novo nome para tais atos de crueldade: Feminicídio.
Nos deparamos então com reinvindicações, protestos, mulheres nas ruas e muitas de nós enraivecidas com tudo que vem acontecendo historicamente não só no Brasil, mas no mundo. E aonde estão os homens? A questão é que a violência se perpetua quando não dizemos dessas mazelas à eles que (via de regra) seriam aqueles preocupados em nos proteger, não por sermos mulheres, não por sermos frágeis, mas por sermos seres humanos.
A violência se inicia quando um marido diz: “ah não amor, tira essa short, está muito curto”, ou quando um irmão refere-se a uma irmã “você é menina não pode ficar aqui”, quando um pai diz à uma filha “mocinha do papai tem que ter postura e não vai namorar antes dos 18 anos” quando um namorado se sente no direito de exigir sexualmente tudo que ele queira da parceira.
Fomos criadas para sermos “belas, recatadas e do lar” mas com o tempo nos exigiram ser do trabalho, da política, do trânsito, da gestão de grandes empresas, das faculdades, das viagens à trabalho. E diante de tantas mudanças esqueceram de avisar aos homens que nós mudamos. Aprimoramos nosso ser, e não perdemos nossa essência.
Não percebem que trabalhamos, temos salários altos (ainda não tanto quanto os deles), mas que no domingo queremos fazer aquela lasanha receita adquirida da avó. Não percebem que preferimos deixar a louça na pia, deitar no sofá de calcinha, sutiã e jogar um vídeo game para desestressar depois de um longo dia de trabalho. Não percebem que é justamente a nossa essência, nossa feminilidade que nos faz crescer no trabalho, conquistar os objetivos e atingir aquilo que até então parecia ser inalcançável.
Nós mulheres estamos cansadas de saber das nossas estatísticas e de todas as questões que permeiam a nossa existência na sociedade. Sabemos que vamos incomodar todos aqueles que acreditam no conservadorismo de se manter uma mulher dentro de casa enquanto o homem provê o restante, mas esse é o objetivo.
Ser mulher é nunca parar de lutar, mas certas batalhas já podem começar a ter um fim.