Seres humanos ou força de trabalho?
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Seres humanos ou força de trabalho?

A humanização na gestão de pessoas, é o tema central de um trabalho acadêmico que está sendo aprofundado e direcionado para a publicação de um livro em breve lançamento.

Independentemente de ter sido recomendado pela banca examinadora, é um tema que estou vivenciando, lidando e questionando desde o início da minha carreira na área de Recursos Humanos. 

Com base nos resultados da pesquisa que desenvolvi sobre humanização na gestão de pessoas, apresento algumas contribuições e reflexões sobre esta questão.

Inicialmente, vou discorrer sobre as percepções de líderes e também de outros profissionais que participaram desta amostragem. No total foram entrevistados 41 profissionais em áreas diversas das organizações participantes.

Iniciamos com a explanação dos depoimentos dos líderes das áreas estratégicas das unidades em que foi desenvolvida a pesquisa, tendo como base a seguinte questão:

Os empregados nesta empresa são percebidos e tratados como seres humanos ou como força de trabalho?

Este enfoque está mudando. 
Hoje, a tratativa é mais como ser humano, inclusive, com o pessoal terceirizado.
Antes era como força de trabalho. A responsabilidade social tem se manifestado 
através do cumprimento dos direitos trabalhistas, o tratamento adequado no que 
se refere às relações saudáveis e atitudes democráticas no gerenciamento.

Outro líder comenta:

A empresa não trata o colaborador como força de trabalho. 
Os gestores têm uma preocupação com o todo. 
O colaborador é visto como ser humano. Alguns gestores com mais habilidade, 
outros não. Alguns com mais empenho, outros não.

De outro líder da unidade, ouvimos o seguinte depoimento:

Hoje já existe a compreensão de que as pessoas são seres humanos e isto está se 
ampliando, inclusive, com o pessoal terceirizado

Concluídas as explanações dos líderes sobre o assunto abordado, vejamos agora a percepção dos demais participantes da pesquisa sobre este mesmo questionamento. A grande maioria compreende que o empregado é visto como força de trabalho, como ilustram as falas a seguir:

A cobrança é muita. É preciso buscar uma forma de facilitar o trabalho,
somos robotizados. . . hoje isto está assim aqui.

 

Somos vistos mais como uma força de trabalho. O planejamento estratégico, 
as metas já vêm traçadas. Estas metas são desdobradas e precisamos acatá-las, 
não são negociadas.

 

O colaborador é visto mais como força de trabalho. 
Até mesmo através da promoção dos programas de Saúde, Qualidade de Vida e 
Meio Ambiente pela empresa, observa-se uma prática coercitiva quanto à 
participação do empregado.


Citamos trechos de outras falas de empregados de diversos setores da área pesquisada:

Somos tratados como força de trabalho. 
Não existe a preocupação do gestor em envolver as pessoas. 
Não há valorização das pessoas como seres humanos. 
Considerar o ser humano é gerar participação, é não centralizar. 
É preciso envolver as pessoas nos projetos e nos processos e não considerá-los 
como coadjuvantes. É preciso saber tratar como ser humano. 


O jargão é força de trabalho, mas, na prática o ser humano é considerado. 
Porém, muitas vezes, os líderes são voltados para as tarefas, 
não há uma proximidade com os liderados.
Já foi muito mecânico, mas, hoje a mentalidade mudou um pouco. 
Antes o perfil de gestão era militar, mas, ainda tem resquícios da gestão 
militar. Existem pessoas que não acordaram, estão míopes, com atitudes obsoletas,
gestão permeada por sistema de feudos

Como uma força de trabalho. 
O empregado é percebido como um número, isto é bem claro quando a pessoa é 
desligada da empresa por qualquer motivo.

E também a condição emocional não é observada, não existe um sistema focando 
as questões humanas. Quando reclamamos sobre a carga de trabalho, muitas vezes 
é dito que somos privilegiados, que lá fora tem muita gente querendo trabalhar 
[...] 

Temos uma carga de trabalho muito alta. Estamos sempre aprendendo e fazendo
diante das novas demandas de trabalho que nos surge. 

Nós que somos da área de serviços precisamos prestar bons serviços. 
Não percebo o cuidado humano da gerência com o indivíduo que produz, 
porque talvez ele não tenha tempo para isto. 
Porque assim como o nosso trabalho aumentou – o dele também. 
A prática usual na área não é de preocupar-se com a parte humana. 
Tem gestores super-humanos, enquanto para outros, a pessoa é um mero colaborador.
Considero que estes gestores não estão preparados para gerir pessoas,
são autoritários, não são transparentes, falta-lhes abertura ao diálogo com o 
colaborador.

Podemos perceber que o aspecto repetidamente abordado por estes últimos entrevistados, envolve essencialmente os estilos de liderança e condução de equipes, enfatizando a realização de tarefas, o cumprimento das metas e obtenção dos resultados. É importante salientar que, na visão e ação explicitadas nos discursos dos entrevistados, o aspecto humano não está sendo colocado no mesmo nível da tarefa.

Vemos, portanto, que o grande desafio no processo de liderança é buscar o equilíbrio no desenvolvimento desses aspectos, suprindo, de forma integrada, as necessidades das pessoas. É isto que o ser humano anseia no ambiente produtivo. 

Entendemos que os empregados devem ser tratados como seres em evolução constante e como cocriadores de bem-estar e riquezas e não como recursos disponíveis para o mero cumprimento de tarefas.

A interdependência mútua entre líderes e liderados é inevitável, assim como a interdependência entre empresa e empregados. Neste sentido, se o empregado é tratado como uma força de trabalho poderá ser gerada a necessidade de se defender contra o poder destrutivo da hostilidade potencial existente na relação de trabalho. Este problema encontra suas raízes na natureza dual das organizações. 

Finalizo trazendo ponderações sobre a consciência da necessidade de criação de organizações que se constituam em um lugar de trabalho que funcione para todos. Mesmo diante do mundo ágil, incerto e complexo, essa concepção de ambiência de trabalho, verá as pessoas e os processos organizacionais de maneira mais ampla e sistêmica, permitindo a todos os envolvidos reconhecerem que as abordagens e interações fazem parte de um todo inter-relacionado e o principal foco será o comprometimento com a integridade de todos os participantes do universo organizacional. 

Jacqueline Cerqueira

HolosDHO

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Jacqueline Cerqueira

Consultora Educacional e de RH | Docente do Ensino Superior | Mestrado em Desenvolvimento Humano | Fundadora da Holos DHO.

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A humanização na gestão de pessoas, é o título e tema central de um trabalho acadêmico que está sendo aperfeiçoado e direcionado para a publicação de um livro.  Independentemente de ter sido recomendado pela banca examinadora,  é um tema que estou vivenciando, lidando e questionando desde o início da minha carreira na área de Recursos Humanos. 

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