SEU CURSO É O MELHOR DO ENADE OU É O MENOS PIOR?

Alexandre Nicolini (cienciaeacao.net) e Reinaldo Viana (dadoseducacionais.com.br)

No artigo anterior, verificamos – não sem certa surpresa – que os melhores cursos de Matemática em 2014, os que se laurearam com a nota 5 no ENADE, não teriam tirado nota 2 em Medicina em 2016. Explicamos que esta discrepância se dá em função do conceito ser atribuído não como resultado direto do número de acertos dos estudantes de um determinado curso, mas sim como o afastamento positivo ou negativo em relação à Média Brasil do curso em questão. O primeiro artigo está aqui no link abaixo:

 O ENADE é uma corrida! Em que posição você está?

Nesse artigo que começa agora, podemos verificar no gráfico abaixo a distribuição dos conceitos ENADE para o curso de Administração, o maior em oferta no país, cuja média foi 41,7% de acertos, uma média alta no histórico desse curso. Perceba que em 1.770 cursos no país, 1.750 apresentaram desempenho situado entre 30% e 60% de acertos na prova. Ou seja, ao contrário do que muitos pensam, a diferença entre o pior e o melhor é uma faixa estreita que ocupa apenas 1/3 da escala possível, o que torna plenamente possível o avanço consistente dos conceitos da sua IES com diagnóstico e planejamento das ações.

Perceba também que no gráfico apresentado acima procuramos destacar o momento exato em que os conceitos mudam (barras verticais) e a quantidade de cursos em cada faixa de conceito (área hachurada entre as barras). O que deve ser enfocado aqui é a imensa quantidade de cursos classificados no conceito 3, exatamente 778 cursos (2/5 do total) que mal conseguiram acertar 46% do ENADE. São os cursos que menos se afastaram da média nacional.

Perceba agora a tabela abaixo, extraída dos microdados disponibilizados pelo INEP. Ela está ordenada pelo conceito contínuo e mostra o exato momento em que a faixa do conceito deixa de ser 2 para começar a ser 3. Tendo em mente que esta foi a edição mais fácil do exame, repare que o desempenho dos estudantes no ENADE de forma geral (MGC) está muito próximo a 40%, e apenas centésimos separaram uma IES que amargou o 2 da outra que alcançou o 3.

Se nós a compararmos com a próxima tabela, na divisa do conceito 3 com o conceito 4, vamos descobrir que entre o Instituto Federal de Minas Gerais, o melhor 3, e a Faculdade Metodista de Santa Maria, o pior 3, espremem-se 778 cursos em apenas 6 pontos percentuais que se esforçam para provar um desempenho mediano à sociedade brasileira.

Muitas IES respiram aliviadas quando recebem o conceito 3, mas não podemos esquecer o que ele significa para o INEP: um curso que oferece o “padrão mínimo de qualidade”. Significa que este curso não sofrerá os rigores de um ajustamento de conduta, mas torna-se apenas mais um numa multidão que disputa um número cada vez menor de candidatos. Entretanto, o desempenho dos cursos que tiram 3 aponta para uma verdade dura: a prova do ENADE mostra que os egressos, a razão de existir do ensino superior, carregam todas as deficiências do seu processo formativo.

De acordo com a tabela abaixo, vamos verificar que os mesmos 6 pontos percentuais separam a última IES que celebrou o 4 das festejadas com o 5, mas apenas 257 cursos dividem este espaço mais nobre. Nas faixas superiores, a prevalência de Universidades aumenta em detrimento de Centros Universitários e Faculdades, e o desempenho das universidades federais se destaca. Também é digno de nota o desempenho das universidades comunitárias e confessionais frente às privadas com fins lucrativos.

Vamos finalizando nossa análise com as 89 IES que se localizam num espaço privilegiado, que é a localização mais à direita do gráfico que abriu este artigo – a faixa do 5. Por mais que elas procurem destacar este feito, é importante refletirmos o seguinte: primeiro, a distância que separa o melhor 2 do pior 5 é de 12 pontos em 100, ou seja, melhores e piores estão incomodamente próximos; segundo, a grandessíssima maioria das IES que comemoram o 5 mal conseguiram acertar 50% do Exame. Se transportássemos este cenário para a sala de aula, isso significaria que a turma é fraca, e os melhores estudantes só passaram – raspando – depois da prova final.

Assustado? Imagine na conversa seguinte, na próxima quarta-feira, quando chegarmos na terceira edição do ENADE Drops! Vamos tratar de Formação Geral versus Conhecimento Específico.

Compartilhe, provoque, debata com os envolvidos na sua IES. Dúvidas, comentários, sugestões? Escreva para nós!

Bruno Nascimento V. Cunha

Coordenador de curso | Faculdade Canção Nova

6 a

Excelente artigo Nicolini. Não somente por desdobrar e desmistificar os resultados do ENADE, como tambem trazer em drops um formato muito interessante. Parabéns. Quanto (tempo, esforço, treinamento) seria necessário investir em um curso para subir as notas e ter melhores resultados? Obrigado!

Muito bom mestre isso prova que o ensino no país tem resultado por baixo basta 50% de conhecimento para ter notas de avaliações máximas.

Benny de Almeida

Membro do Banco de Avaliadores do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior - BASis. no INEP

6 a

Gostei dessa parceria (Nicolini e Renaldo) acredito que teremos uma grande contribuição nessa área. Parabéns.

Adriana de Lima Reis Araújo

Professora Adjunta na Universidade Federal do Maranhão

6 a

Meu querido amigo Nicolini muito feliz em poder ter um pouco mais de suas ideias compartilhadas agora no "atacado". Como dissestes acima, num país de dimensões continentais n este em que vivemos, esta via digital nos aproxima um pouco. Onde ensino somos 5 no ENADE, temos o desafio de manter e sobretudo ensinar o estudante a aprender e incentivar o significado, descoberta proposito, desenvolvimento de atitudes e vivência de valores. Que o ENADE certamente não avalia. Sigamos!

..comemorar o 5 sabendo que ainda tem muito a melhorar. Parabéns !!.. compartilhando.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos