Seu pensamento sobre terceiro setor está errado.

Seu pensamento sobre terceiro setor está errado.

O estágio de maturidade do terceiro setor varia muito entre os países. Nos EUA, temos um volume de doações de cerca de 2% do GPD, enquanto no Brasil esse percentual é de apenas 0.2%. Mas mesmo com essa discrepância, temos algo em comum entre países mais e menos maduros. O errado entendimento o papel e a importância do terceiro setor. 

Se existe algo que precisa mudar globalmente é a percepção sobre esse papel, a forma de gestão e o valor do terceiro setor na resolução de problemas sociais. Isso inclui a participação de empresas com fins lucrativos nesse ecossistema, permitindo investimentos em tecnologia e processos para aumentar o tamanho da torta que é alocada para a redução das desigualdades.

Eu, como empreendedor do terceiro setor, fundei a Abrace uma Causa, empresa que, por meio de tecnologia, tenta criar um ecossistema mais conveniente para o engajamento, mais transparente, inovador e dinâmico. Acreditamos que remodelar esse ecossistema é fundamental para aproximar pessoas e empresas de causas sociais. Não adianta falar em cultura de doação sem um ecossistema pronto para tal. A cultura de doação é o a ponta do iceberg.

Topamos esse desafio. Temos um modelo baseado no lucro para sustentar os riscos e os investimentos feitos para que essas mudanças possam ocorrer no longo prazo. Mas confesso que ainda somos mal interpretados por muitas pessoas.

Vimos avanços incríveis nos setores de mobilidade urbana, imobiliário, financeiro, de bens de consumo etc, porém o terceiro setor, pela sua essência não lucrativa, ficou para trás. 

Durante 4 anos, dediquei minha vida a tornar o processo de doção das pessoas físicas com abatimento no imposto de renda, em um processo 100% digital, seguro e transparente. Investimos milhões de reais para destravar um mercado de R$ 6.5 bilhões/ano para as instituições sem fins lucrativos. Algo que dificilmente seria feito sem expectativa de retorno financeiro. Desses R$ 6.5 bilhões, atualmente, menos de 2% é aproveitado. Isso porque há falta de informação e de segurança. Sem tecnologia não vai. 

Frequentemente, somos questionados sobre nossa remuneração, como se fosse um crime cobrar um % sobre uma doação, por exemplo. Ainda temos como ídolos quem cria um produto que é uma febre de vendas, mas não necessariamente ajuda qualquer pessoa. Nosso modelo de sucesso profissional são os empresários que criaram empresas multibilionárias e viram unicórnios. Porém, criar uma empresa que vai ajudar pessoas e que vai cobrar por isso é oportunismo, quase um crime. 

Precisamos entender que o terceiro setor tem as mesmas demandas do setor privado. Precisa investimentos em gestão e marketing, planos de longo prazo, atrair e reter talentos, tomar riscos, inovar e crescer. Precisamos aumentar o tamanho da torta. 0.2% do produto interno bruto não é razoável para uma indústria que está tentando resolver problemas sociais.

E nesse ponto temos um grande obstáculo. As pessoas precisam ter mais visibilidade das entregas do terceiro setor. Nós que atuamos nele, sabemos de sua importância vital para país. A cada nova instituição que conheço tenho mais orgulho de fazer o que faço. São os verdadeiros empreendedores desse país. Normalmente, fazem milagres com orçamentos ridiculamente pequenos, desproporcionais as suas entregas. Infelizmente, a mídia não dá visibilidade para o lado legal do terceiro setor. Prefere dar destaque para uma minoria não é séria e denigre o setor.

Os Meus ídolos são esses verdadeiros líderes que passam por cima de todas essas adversidades, inspiram e atraem pessoas para suas missões, são firmes e não deixam a peteca cair. 

Em seu TED Talk, Dan Pallotta dá um panorama bem fundamentado sobre essas questões. Um recorte de sua fala que retrata bem esse entendimento errado é:

"So in the for-profit sector, the more value you produce, the more money you can make. But we don't like nonprofits to use money to incentivize people to produce more in social service. We have a visceral reaction to the idea that anyone would make very much money helping other people. Interestingly, we don't have a visceral reaction to the notion that people would make a lot of money not helping other people. You know, you want to make 50 million dollars selling violent video games to kids, go for it. We'll put you on the cover of Wired magazine. But you want to make half a million dollars trying to cure kids of malaria, and you're considered a parasite yourself."

Infelizmente, vivemos em país com uma brutal diferença social. Muitas oportunidades para uns e pouquíssimas para outros. Independente de não termos escolhido essa situação, já nascemos com ela instaurada, somos responsáveis por tentar mudar, cada um do seu jeito. O país é de todos nós, nós é que vamos mudar essa realidade. 

Lagar tudo e trabalhar para ajudar diretamente a resolver essa situação não é para todos. Empreender no Brasil é muito difícil, mas ser um empreendedor social é ainda mais. Por isso, ajude sempre que puder com seu tempo e dinheiro quem topou essa briga.


Espero que essa aura de solidariedade que estamos vendo nesse momento de crise perdure e que tenhamos evoluído como sociedade para um novo patamar. Esse é o NOVO NORMAL que queremos e que devemos buscar. Se ele vai ser em home-office ou presencial, sinceramente, pouco importa. O que realmente importa é termos um nível mais elevado de consciência sobre nosso papel.



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    Muita gente me pergunta o que esto fazendo da vida..

    2 comentários

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