Sexta-Feira Santa
O período da semana santa sempre me fascinou. Vivendo em um país de maioria católica é natural que nossa rotina seja perpassada pelos ritos e processos religiosos.
Natal, Carnaval e Páscoa seguem um calendário rígido, no qual acompanhamos de uma maneira quase institucional a caminhada de jesus em nosso mundo.
Aquele que é chamado de Emmanuel, o Deus conosco, se coloca junto de nós, um parceiro amoroso, que ouso dizer, mal compreendido até pelos mais devotos cristãos.
Para a maioria das pessoas, o Natal se destaca como a parte mais preciosa desta caminhada, onde lembramos que ainda existe uma luz, que o amor e solidariedade não podem ser evitados nem esquecidos.
Pessoalmente, tenho uma ligação visceral com o período conhecido como Semana Santa. Interessante o fato de considerarmos uma semana como santa, nós que só vivenciamos o pecado, mas concordo que observar e acompanhar a jornada de Jesus nesta semana tão especial nos traz um vislumbre de Sua Santidade.
A exaltação do sofrimento ganha destaque na sexta-feira, onde Jesus foi crucificado. Gerações se juntam em procissões, chorando e lamentando a morte de Deus, aguardando com uma dor preciosa, acalentada no coração, pelo domingo, onde a Páscoa e a Ressureição explodem em alegria, tapetes de flores e ovos de chocolate.
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Mas nesta sexta me descobri refletindo o porque deste choro. Afinal, o que temos que lamentar?
A noção de sacrifício é equivocada. Jesus é Deus, nada muda isso. Ele não sacrifica, Ele oferece. Tudo é Dele, e nada pode ser tirado Dele. E Ele se doa, o tempo todo e principalmente neste tempo. Sua caminhada pela terra, junto a companheiros que se mostram tão humanos, tão falhos, mas tão esplendorosos, só reforça Sua divindade.
Três anos de pregação para nós são poucos dias, mas se tornam o período de aprendizado mais importante da história. Tudo que precisamos saber sobre Jesus ocorreu nestes três anos. Se formos tentar compreender a magnitude de Seu ministério levaremos infinitas vidas apenas para aceitar que o infinito ainda nos aguarda. Com Ele a lógica do tempo foi invertida, pois Deus não habita o território o tempo, Ele o contorna, em um abraço de criador.
Naquela sexta-feira onde Jesus consumou seu propósito, a maior sensação não era de dor, mas sim de expectativa, tal como quando vamos receber um presente tão esperado. O Céu chorou, a dor de um Pai em ver até que ponto teve que chegar para que nos pudéssemos nos achegar a Ele. Mas o Filho, em suas últimas palavras, não lamentava. Em um brado de louvor, um Filho orgulhoso de seus feitos, se entrega em obediência ao Pai, e com isso entrega toda a humanidade, como o maior presente que poderia oferecer àquele que tanto ama.
A morte já não tem mais poder, a dor subjugada pela Sua vontade, o inimigo definitivamente derrotado. Isso não foi um sacrifício, foi uma estratégia de guerra, e Jesus mais que vitorioso, generoso em nos considerar vencedores como Ele, rasgou todas nossas amarras de ignorância. Agora verdadeiramente podemos ver.
Hoje não é dia de choro, é dia de celebrar essa nossa nova realidade. Dia de nos prepararmos para essa nova caminhada, que se revelará no domingo em que Ele surpreendeu o mundo com um túmulo vazio.