Sim, haverá demanda reprimida.
O provável final da pandemia, previsto para o final de 2021, causará um fenômeno social bastante interessante, senão por sua capacidade de mobilização das massas, por seus efeitos na macroeconomia.
O isolamento continuado por contínuos meses (com regras bastante rígidas de permanência em um mesmo ambiente) devem gerar o efeito de demanda reprimida em diversos segmentos, o que implica, naturalmente, numa elevação do faturamento das empresas que vencerão a crise sanitária.
A demanda reprimida é um dos aspectos mais estudados da economia mundial contemporânea e seus efeitos estão diretamente associados ao comportamento social sendo, basicamente, o represamento coletivo do desejo de consumo em um ou mais segmentos específicos, convertido em ação por conta de um cenário socioeconômico favorável.
No caso do Brasil, três aspectos fundamentam o fenômeno que, pela primeira vez em 30 anos deve atingir quase todos os segmentos da economia:
A taxa de juros na casa dos dois por cento ao ano torna palatável o financiamento de longo prazo para automóveis, eletrodomésticos e imóveis. A perspectiva de obter o bem durável com financiamentos de longo prazo - e com pouca variação nas parcelas - é um poderoso condutor de consumo.
A mesma taxa SELIC na casa dos dois por cento ao ano força o retorno do capital - antes investido em instituições financeiras e agora pouco premiado. A tendência aponta para a busca de novos ativos no portfólio de investimento e isso inclui imóveis, ações e o retroinvestimento em negócios.
O ambiente de restrição a que foram submetidos os brasileiros empregados, autônomos ou empresários durante a crise sanitária cria um efeito psicológico favorável ao consumo, que passa a simbolizar libertação: a vida, enfim, continuará.
Há, no entanto, um preocupante contraste social na trilha do país nesse momento: o desemprego, fantasma das economias modernas.
Há, ainda, a inércia de um governo que já deveria ter tomado o pulso da situação produtiva e posto em voga um plano de retomada econômica consistente. O ministro Guedes ainda apanha mais do que bate e, ao que parece, deve estar de saída.
Tais fatores podem fazer da demanda reprimida (não o início de uma era virtuosa) mas apenas um pico de aceleração de consumo, mergulhando o país em um marasmo econômico meses a frente.
O fim da pandemia se aproxima e com ele virá um novo tempo no qual será impossível para a gestão Bolsonaro camuflar resultados e esconder a inércia que é sua marca registrada.
E algo além se verá...
O Brasil irá cobrar de si mesmo o que insistia não ver antes do Corona Vírus.