A sincronização do tempo na empresa e o paradigma top-down de produtividade

Uma das principais missões na posição de CEO é a organização do caos. Em uma scale up o ambiente já é naturalmente desorganizado que tende constantemente ao caos, e, por isso, essa atribuição torna-se ainda mais relevante. "Let chaos reign, then rein in chaos", máxima de Andy Groove que todo CEO deveria tatuar no braço, é um lema para mim na Involves. O diagrama a seguir traz o framework atual (2019) da gestão semanal do tempo da Involves, uma ferramenta simples mas excepcional que sincroniza o nosso tempo:

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Antes de prosseguirmos, uma ressalva: quase tudo o que lemos sobre produtividade remete ao referencial individual. Como ser um profissional altamente produtivo, gerir seu tempo visando atingir o maior potencial de impacto, work-life balance, domínio da ansiedade, minimização de riscos de burnout. Os temas mais comuns são a divisão ótima de tempo para o seu papel dentro da organização, a criação de blocos de tempo respeitando as prioridades da sua posição, como lidar com e-mails, o urgente vs. importante, sem contar com a recente moda das miracle mornings. A produtividade do ponto de vista individual é super importante. O First Round traz um compilado de 6 artigos com essa abordagem para quem quiser aprofundar.

Aqui neste artigo, partimos do referencial da visão do todo. Focamos na gestão do tempo da empresa, depois dos times e finalmente dos indivíduos. Por isso, o paradigma top-down. Analogamente, um músico extremamente dedicado, com um metrônomo natural no cérebro, afinação e ritmo perfeitos, jamais conseguiria um bom resultado coletivo se os colegas de banda enxergarem e executarem os tempos de outra maneira. A música será desastrosa. O pressuposto é que precisamos organizar o todo, para que as partes se adaptem e se auto-organizem na mesma frequência. Na metáfora da natureza, nosso tempo é dividido entre dias e noites, e quatro estações do ano, porque respeitamos o ritmo do sistema solar. A organização do todo organiza (e delimita) as suas partes.

O contexto do mercado muitas vezes também dita esse ritmo. O CEO da Arco Educação, Ari de Sá Neto, comenta que adota a gestão do tempo e dos objetivos em um calendário anual. Decisão natural, em decorrência do calendário escolar também ser anual. Outro exemplo é uma vinícola, que precisa organizar seu tempo com base no ciclo da uva. Se da plantação à colheita de uma determinada espécie o intervalo for de quatro anos, a gestão precisa organizar a empresa da mesma forma. Em um negócio early stage de tecnologia, o nível de incertezas e mudanças é tão rápido, que o contexto exige uma gestão do tempo muito mais curta, de poucas semanas.

Na Involves já temos um negócio consistente e maturidade para enxergar e antecipar mudanças do mercado (o que, diga-se de passagem, é outra importante atribuição de um CEO, de acordo com esse artigo da HBR). Para gestão dos objetivos e consequentemente do tempo, uso muito a metáfora do oceano. Do navio, conseguimos enxergar até a linha do horizonte - nossa visão de futuro de mercado. A visão mais distante e menos clara se concretiza em diretrizes de longo prazo. Nosso sonho grande está além do horizonte. E a visão mais próxima e nítida se traduz nos Company OKR, com cadência semestral. Também adotamos um ou dois company OKR com cadência trimestral, por serem mais experimentais e relacionados à inovação - com menor grau de certeza e maior de mudança. Assim, organizamos atualmente o tempo por semestres, da seguinte forma:

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Alguns benefícios que percebo, como CEO, ao levar esse framework embaixo do braço:

  • Agilidade: no primeiro dia do semestre, a empresa inteira já está rodando o foco do novo ciclo, pois o planejamento aconteceu antes disso.
  • Organização e maior tranquilidade: trazer visão antecipada de picos de demanda, sobretudo à liderança 
  • Colaboração: os ritos mais importantes são construídos a muitas mãos. Sem organizar o tempo seria impossível reunir todas as pessoas importantes nos momentos certos de planejamento.
  • Cadência: a sistematização do tempo garante a cadência correta do planejamento para a empresa, o que aumenta as chances de corrigir o rumo. Não somos levados pela inércia da execução.

A visão semanal, apresentada no diagrama no início desse artigo, tem propósitos similares. É um framework, mas não pode simplesmente ser replicado para qualquer outro contexto de negócio sem uma mínima adaptação. Por exemplo: aqui na Involves temos a distinção clara dos papéis de gerentes e coordenadores - e os ritos do framework precisam garantir a fluidez na comunicação entre esses públicos. É preciso adapta-lo ao contexto da sua empresa.

Destaco como ganhos que tivemos ao adotar o paradigma top-down da gestão do tempo semanal:

  • Comunicação: perceba que neste formato a comunicação sobe e desce toda semana.
  • Cadência: o ano tem 52 semanas. Com esse framework, temos 52 chances de corrigir nosso rumo.
  • Sincronização: cada indivíduo consegue planejar sua agenda de forma a não chocar com agendas inter relacionadas de seus stakeholders.
  • Tempo livre: a agenda prevê white spaces para capacitações (segundas-feiras) e tempo livre na sexta-feira, que normalmente é utilizado para conclusão da semana e planejamento da seguinte pelos líderes. Ninguém precisa desmarcar uma reunião importante porque participará de um treinamento interno.
  • Agenda externa: alguns papéis, principalmente em C-Level, precisam dedicar seu tempo com stakeholders fora da empresa. Terças e quartas, no nosso framework, favorecem a este papel.
  • Multidisciplinaridade: projetos que envolvem pessoas de muitas áreas, principalmente relacionados aos Company OKR, tem seus ritos realizados semanalmente em momentos diferentes. Se você participa de 2 OKRs diferentes com certeza poderá participar dos dois ritos, pois acontecem em momentos distintos.
  • Manter a unicidade / atalhos: alguns ritos desconsideram hierarquias. Às segundas temos a afinação, em que toda empresa participa no auditório ou remotamente. Como CEO, tenho pautas que posso levar para as pontas com eficácia, evitando o problema do telefone sem fio das hierarquias.

Com isso, todos na empresa giram em torno da mesma fogueira, no ritmo do mesmo tambor - inclusive eu, é claro! Em um próximo artigo pretendo abordar a dinâmica da agenda semanal do meu papel como CEO.

Thiago Schütz

CEO | Advogado de Empresas de Tecnologia, Inovação e Investimentos.

2 a

Apenas registrando que hoje, depois de 3 anos da publicação, voltei a usar esse artigo como subsídio, como já fiz no passado. Cabe um update um dia né André Krummenauer? Abs.

Cassiano Casagrande ★

CEO | Estruturação Comercial | Vendas Consultivas | Treinamentos | Social Selling

3 a

Boa André!

Jose Felipe, CMX

Marketing | E-commerce | Trade Marketing | Digital | Inteligência de Mercado | Publicidade | Desenvolvimento de estratégias focadas na jornada do consumidor

3 a

Muito interessante esse fluxo para organizações que já desenvolveram a maturidade de mercado, como você mesmo mostra. Além das rotinas de okr colocam outro framework ou metodologia de aplicação nos times? Como um fluxo PDCA por exemplo? Parabéns pelo texto aguardando os próximos. Abs

Tânia Flores

Executive Assistant | Supporting C-Level na Softplan Planejamento e Sistemas

5 a

Sensacional o texto, obrigada por compartilhar conosco!

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