Sobre Autoconhecimento e Controle

Sobre Autoconhecimento e Controle

Desde sempre, sou vista como uma pessoa reservada. Me lembro dos comentários das pessoas (tios, tias, vizinhos) dizendo que eu parecia madura para a minha idade. Eu, na verdade, me percebo como uma pessoa do tipo IN (introversão). Isso não faz de mim uma pessoa tímida, não é isso, mas alguém que necessita de aprofundamento em tudo o que faz, inclusive em mim mesma. Tal característica me confere competências como: boa capacidade de análise, organização e facilidade de me entregar ao meu autoconhecimento.

Não que eu seja a pessoa mais bem resolvida do mundo, ao contrário, sou eternamente um ser em construção. Mas creio que me ajuda nesta evolução e principalmente, a valorizar esse caminho de desenvolvimento.

Demorei um pouco, mas percebi também que essa caraterística vem acompanhada da necessidade de ter tudo planejado, estruturado, sob CONTROLE.

Por isso, escolhi esse tema, usando os meus próprios exemplos, para o meu primeiro texto nesta aventura do mundo digital. Quem me conhece, sabe o quanto tem sido difícil me render a esse meio, mas vamos lá.  

Os últimos 16 anos da minha vida foram muito intensos e cheios de mudanças, com planejamento, é claro.

Pois bem, me casei, ascendi na carreira que escolhi, tive filhos e decidi que eu seria a mãe e referência para eles, para isso, deixei a carreira bem sucedida, iniciei um caminho solo, peguei um atalho para realizar o sonho de morar fora do Brasil, acompanhando o marido em uma “aventura” de dois anos e meio morando na Alemanha. Voltei não querendo voltar e agora, aqui estou retomando o caminho que deixei quando peguei aquele atalho que me levou para a Alemanha. Isso tudo, sem contar os detalhes e obstáculos que surgiram ao longo da jornada.Cada um desses acontecimentos, gerou uma crise, momentos de tensão, indecisão, medo, stress, contrariedade e por aí vai.

E todas as vezes, o que ficava claro, era que quanto mais eu sabia de mim, quanto mais conhecia minhas forças e fraquezas, o que eu queria e o que não queria, o que ainda cabia na minha vida e o que não tinha mais espaço, mais fácil era decidir, mais tranquilo abrir mão de algo sem a sensação de que deixei para trás, de que não terminei.

E cada vez que a mudança se efetivava, ou não, após muito pensar, analisar, repensar, chorar, transpirar, pois decidir não é fácil, eu pensava: Que lições tirar disso tudo? O que eu aprendi?

 O casamento aconteceu de acordo com o planejado, assim também foi com os filhos. Esses acontecimentos, me trouxeram muitas alegrias, muitas realizações e muitas delícias também. Mas mesmo tendo sido uma escolha, não quer dizer que não houve perdas.

A maternidade fez nascer de mim, um outro ser, é verdade, mas fez nascer em mim uma outra pessoa. Me lembro como se fosse hoje, que nas duas vezes em que pari, foi como se tivessem roubado minha identidade, já não sabia mais quem era eu. Algumas coisas que foram embora, tinham mesmo que ir, outras ainda estou procurando e tem aquelas que vieram de presente.

Ser mãe, me tornou uma pessoa mais sensível. Tive que desenvolver competências como solidariedade, empatia, maior preocupação com o próximo, altruísmo. Me identifiquei com a Antroposofia, que chegou a mim por causa dos meus filhos e hoje é um orientador na minha vida. Antes mesmo de me casar pensava: vou me organizar para quando tiver filhos, poder parar de trabalhar e ficar com eles. Sempre tive muita certeza que queria ser uma mãe realmente presente, queria ter a experiência da maternidade por completo. Sempre reconheci em mim, a característica de fazer tudo por completo, creio que esse desejo é reflexo disso. Pois bem, há 10 anos atrás, com a vinda do segundo filho a hora chegou. Mesmo assim, não foi fácil. A decisão só foi efetivada, após um colapso doméstico, mas enfim, deixei uma carreira promissora, um bom pacote de remuneração, independência financeira, o status, o cartão de visitas, trabalhar em um negócio que gostava muito, os amigos e colegas de trabalho, a troca diária, a rotina ...

O que aprendi ao abrir mão de tudo isso?

Que a interdependência faz parte da parceria do casamento, que o status e o cartão de visitas só alimentam a sua vaidade e não te pertencem. Que posso viver com menos do que eu imaginava. Que eu gosto muito de estar na quietude do meu lar, dos meus pensamentos e que isso não é um defeito. Realizei que a troca profissional com outras pessoas também me faz falta, mas que posso suprir isso através de encontros informais, cursos, palestras.

Constatei que ter a possibilidade de participar do crescimento dos meus filhos, de ter lembranças de momentos corriqueiros da vida cotidiana, mas que aquecem o coração, ouvir as novidades do dia a cada viagem de volta para casa após a escola, me fazem sentir que vale a pena e que esse tempo não volta, pois a infância é uma só.  A vida profissional, essa sim, pode ser retomada a qualquer tempo, de um jeito diferente ou do ponto onde parou, mas há sempre uma possibilidade.

Durante os últimos anos da minha vida corporativa, sempre pensava o quão bom seria poder ter flexibilidade de horário, fazer as coisas do meu jeito, não ter patrão nem empregados. Quando deixei a empresa me vi diante dessa possibilidade, comecei bem tímida, confesso que mais por falta de coragem. A primeira oportunidade que tive, me deu a flexibilidade tão sonhada, mas não o fazer do meu jeito e nem a vida sem patrão. Mas fui feliz assim.

 Até que a vida me deu um dos meus maiores presentes, a oportunidade de viver dois anos e meio em outro país. Deixar para trás, família, amigos, meu país, minha casa, meu trabalho. Foi como se estivesse nascendo de novo, já com alguma experiência, mas ainda assustador.

A adaptação não foi tão difícil como eu imaginei, nem por isso foi fácil, pois além de me adaptar, era responsável pela adaptação e bem estar de duas crianças que levei para essa jornada. Me descobri mais resiliente e adaptável do que imaginava ser. Mais destemida e corajosa também. Me peguei criando estratégias e pensamentos positivos como nunca tinha me percebido antes.  

Além de ter feito essas descobertas sobre mim, ainda fui agraciada com o conhecimento de culturas tão diferentes, pessoas de todo o mundo que passaram e outras que ainda permanecem na minha vida e que me ensinaram muito, me transformaram em uma cidadã de verdade.

Importante lembrar que, tudo isso aconteceu dentro do planejado. Tenho que dizer que eu e meu marido, somos bons nisso, planejar e cumprir os nossos planos. No entanto, como sempre me dizia uma querida terapeuta: “nós, podemos dar o passo par, mas é a vida quem dá o passo ímpar”. E a vida deu esse passo e veio me mostrar que NÃO TEMOS O CONTROLE, e me disse isso através de algo realmente incontrolável, por qualquer ser que vive na terra: a FINITUDE DA VIDA.

Sim, a vida acaba. Não sabemos onde, quando, porque, mas essa é a verdade inexorável. E foi essa constatação que me trouxe de volta. Esse sem dúvida, foi um dos momentos mais difíceis que passei em minha vida. Senti como se tivessem me arrancado do sonho, me tirado dos trilhos. Como assim o meu plano foi desfeito, seu fim antecipado? Estava tudo indo tão bem. Como assim? Nem tinha certeza se queria voltar.

Voltei para o Brasil, com a minha bagagem literalmente mais cheia do que quando fui. Aprendendo que podemos e devemos planejar, traçar rotas, estabelecer metas, mas termos resiliência, sabedoria e serenidade suficientes para entender que não temos o controle. E quando a vida der o passo ímpar, só nos cabe aceitar, agradecer, confiar e entender para então retomar o caminho.

Sabe aquele atalho onde eu parei antes de ir para a Alemanha?

Então, é de lá que estou retomando. O que mudou?

O caminho a ser percorrido e a pessoa que vai percorrer esse caminho, sem dúvida, são diferentes.

Se reconhecer, crescer e se transformar é doloroso, mas valioso ao mesmo tempo. Estou a cada dia mais convencida de que AUTOCONHECIMENTO é o que nos permite lidar com as adversidades que a vida vai colocar em nosso caminho.  Se conectar, nos ajuda a encontrar o caminho para uma vida mais centrada, serena, feliz e fluida.

Te convido a fazer uma mini autobriografia, como essa que fiz aqui. Pegue um período da sua vida e escreva, de preferência, um desses que você correu tanto que nem conseguiu ver o que fez e porque fez. Conte para você sua história e tente identificar o que você aprendeu, o que deixou para trás, mas gostaria de resgatar e do que você desapegou. E de tudo o que ficou, o que ainda cabe e o que não cabe mais na sua vida. Coloque também, quais as competências que você desenvolveu ou ainda, aquelas que você já tinha, mas nem se dava conta. Isso vai te ajudar a perceber como você tem lidado com os seus relacionamentos, com o seu trabalho, com os desafios do dia-a-dia, se você tem repetido padrões de comportamento que não funcionam mais, se não está se boicotando ou ainda negligenciando algo. Pode te ajudar a entender, de onde vem suas insatisfações. Elas tem fundamento, estão no interno ou no externo?

Mergulho em você mesmo, mergulhe nas suas águas mais profundas. Você terá a oportunidade de descobrir quantos tesouros estão escondidos, esperando para serem explorados. Essas descobertas poderão funcionar como uma bússola, quando o vento soprar em uma direção diferente daquela que você planejou inicialmente.

Rosana Marino

Professora de Yoga e Voluntária no Projeto 50 Viver Bem

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Adorei seu depoimento, inspirador e nos faz acreditar que o caminho é o autoconhecimento. Adoreii trabalhar com vc, embora tenha sido rápido.

Jose Carlos Tinoco Soares

Doutor em Direito / Palestrante / Especialista em Marcas e Patentes / Escritor

4 a

ANDREIA lemos atentamente todo o seu depoimento, ou seja, o relato de toda uma vida. Vivida !!! porque repleta de sucessos. Sucessos obtidos pelo seu SER como é para conosco, para com a família e notadamente para com seu marido e filhos maravilhosos. Somos testemunhas de todos esses aconteci mentos e dos quais, em muitas oportunidades, compartilhamos. Sim compartilhamos, por sem duvida, em toda essa família que se lhe pertence, visto que vimos acompanhando com toda a alegria e satisfa fação o franco desenvolvimento do Jean, o seu verdadeiro alicerce que é Você, o crescimento e desenvolvimento espetacular da Letícia em todos os sentidos intelectuais, artísticos e esportivos e por que não vislumbrar o DAVID que se continuar como vem ocorrendo será considerado o melhor jogador de futebol. Por derradeiro afirmamos que ao ler acuradamente o seu depoimento ficamos totalmente emocionados pela grandeza do mesmo, razão porque apregoamos em altas vozes quye temos o MAIOR ORGULHO em termos como netos o JEAN e VOCÊ e como bisnetos a LETICIA E O DAVID. josecarlostinocosoares

Suzana Piorino Maria

Orientação de Carreira/ Avaliação de Perfil/ Coaching/ RH

4 a

Muito bom vc compartilhar suas brilhantes reflexões! Bravo! Com certeza vai inspirar muitos!

Suzana Piorino Maria

Orientação de Carreira/ Avaliação de Perfil/ Coaching/ RH

4 a

Uma profissional séria e competente! Orgulho de ser sua amiga e ter compartilhado de tanta serenidade e foco! Bravo Andréa!

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