Sobre conexões humanas
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Sobre conexões humanas

Há algum tempo que boa parte das nossas interações e conexões ocorrem por meio de plataformas digitais. Por mais íntima que seja sua relação com uma pessoa, é muito fácil dizer que vocês interagem a maior parte do tempo por meio de aplicativos como WhatsApp, Facebook, Instagram ou LinkedIn, para citar os mais comuns.

A facilidade das interações digitais nos ajudam a romper muitas barreiras, tanto na vida pessoal como nos negócios, e acredito que não caiba citar exemplos aqui de tão comum que se tornou utilizar a internet para solucionar os mais diferentes problemas do nosso cotidiano.

Estamos na era da inteligência: inteligência nos negócios, inteligência artificial, televisores inteligentes, telefones inteligentes e talvez isso esteja nos fazendo delegar a inteligência para os seres (ainda) não pensantes e deixando de lado aquilo que mais nos diferencia que são nossas características humanas. O que direi a seguir já não é exatamente uma novidade, mas o que irá nos diferenciar em uma sociedade ou em um mercado de trabalho tomado por máquinas inteligentes, processos automatizados e robôs, é justamente o fato de não agirmos como tais.

Feita essa introdução, comento sobre o que me motivou a escrever esse texto. Trata-se de algumas reações à atualização de emprego (ou da falta dele) de uma conexão no LinkedIn.

Faz parte da minha rotina navegar cerca de 10 minutos por essa rede social ao menos uma vez ao dia em busca, principalmente, de atualizações sobre meus contatos e novidades sobre a minha área de atuação. Numa dessas navegações me deparo com a seguinte atualização (ocultei algumas informações da pessoa como forma de evitar qualquer constrangimento ou exposição desnecessária):

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Um usuário mais ou menos acostumado a utilizar LinkedIn ou com alguma experiência no mercado corporativo sabe bem o que significa “In Career Transition” ou “Prospecting Opportunities”. A tradução disso para o português claro é “estou sem emprego e estou buscando por um novo”.

O grande problema é que o LinkedIn, muito inteligente em alguns pontos aplica algumas pegadinhas em seus usuários mais desatentos. Quando você altera seu cargo e o autoriza a divulgar essa mudança aos seus contatos a mensagem padrão para sua rede é “parabenize fulano pelo seu novo cargo” ou algo similar. Isto posto, eis o constrangimento...

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Uma enxurrada de “parabéns” intercalada de “você merece” direcionados à uma pessoa que está sem emprego. Como acredito que a rede de contatos dessa pessoa não está repleta de inimigos que querem o seu mal, a conclusão é simples e triste: muitos de nós entramos no automático.


Algumas linhas acima citei sobre qual seria nosso diferencial em um mundo tão moderno e automatizado que seria justamente não se comportar como máquinas. O exemplo acima nos mostra justamente o contrário (e não é a primeira vez que me deparo com absurdos como esse). Para quem é programador a situação acima pode facilmente ser definida por um IF...THEN...ELSE

IF Linkedin me avisou que meu contato tem um cargo novo

THEN dou os parabéns

ELSE sigo ignorando

Nos caminhos que escolhi para a minha carreira me tornei um gestor de pessoas dentro da área de TI e com isso entendi que muitas vezes alguns minutos de atenção, uma palavra sincera, uma conversa interessada trazem mais resultado que frases feitas e palavras bonitas copiadas de algum autor importante que você leu ontem. Parar para ouvir um problema pessoal de um colega de trabalho ainda que você nada possa fazer efetivamente para ajudar (ouvi-lo já é uma grande ajuda) muitas vezes gera mais engajamento que planos “infalíveis” de carreira.

Participando de um curso que falava sobre Inteligência Artificial, relembrei o conceito do teste de Turing que testa a capacidade de uma máquina de reproduzir o comportamento inteligente equivalente ao do ser humano, mas situações como essa me fazem pensar que em alguns casos, nós seres humanos é que passamos a imitar o comportamento pré-programado de máquinas, apenas seguindo instruções rígidas.

Achei muito interessante a coluna do Tiago Belotte da Vida Simples onde ele fala sobre seu entendimento a respeito da transformação digital: “Transformação digital é sobre pessoas que encontraram sentido em mergulharem num novo mundo para continuarem criando conexões e afetos”.

Não se trata de demonizar as plataformas digitais, as soluções tecnológicas modernas ou a inteligência artificial. Trata-se de não permitir que elas ditem o nosso comportamento, ao invés de nós direcionarmos a evolução tecnológica de forma que as soluções existentes e que estão por vir possam permitir que sejamos ainda mais humanos.



Fernando Delago

Engenheiro de Dados Sênior na Aubay Portugal | Pipeline de Dados e Insights | Problem Solver

4 a

Ótimo texto e reflexão. Parabéns, meu camarada.

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