Sobre o amor em excesso nas suas obras
Saudações!
Creio que muitos devem ter notado minha predileção por obras da ficção, especialmente o gênero da fantasia, ainda mais especificamente os trabalhos de J.R.R.Tolkien.
Me tornei fã dos trabalhos dele no inicio deste milênio, à partir do momento que assisti ao filme A Sociedade do Anel, uma adaptação ousada do trabalho de maior renome do autor: O Senhor dos Anéis. Digo que ela foi ousada pois, boa parte das adaptações realizadas de livros tendem sempre a pecar por ora omitir trechos importantes do livro, como também incluir personagens e tramas paralelas afim de encantar a audiência, como foi o caso desta adaptação que encantou e também trouxe uma certa discórdia para os fãs do trabalho escrito por Tolkien - vide o fato que o filho do autor não vendeu e até o presente momento nem demonstrou interesse em negociar os direitos da obra do seu pai para futuras adaptações.
Mas o que venho apresentar neste artigo tem como base uma das passagens de uma obra póstuma, O Silmarillion, mais precisamente o capítulo “De Tuor e da Queda de Gondolin”.
Vamos contextualizar, Gondolin era uma cidade belíssima, que fora criada pelo rei elfo Turgon durante a primeira era, muito antes da história de O Senhor dos Anéis, ela foi criada oculta dentro de um vale cercado por montanhas, onde somente poucas pessoas tinham acesso, impossibilitando que o temível mal se abatesse naquele reino.
Gondolin
Tuor era descendente de um humano que lutou e salvou o rei Turgon, este humano estava predestinado a grandes feitos e por isso foi guiado pelo senhor dos mares Ulmo, uma especie de Poseidon da mitologia Tolkieniana, que ordenou que ele fosse até Turgon alertá-lo sobre os perigos que ele corria se permanecesse em seu belo e oculto reino.
Ulmo conversa com Tuor sobre sua missão até Gondolin.
A passagem que eu mais gosto e que após ela irei relacioná-la dentro do contexto profissional:
“Não tenhas, porém, amor em excesso pela obra de tuas mãos e pelas invenções de teu coração. Lembra-te de que a verdadeira esperança dos noldor está no oeste e vem do Mar.” Entretanto, Turgon fora dominado pelo orgulho, e Gondolin se tornara bela como uma lembrança da Tirion élfica.
Nesta passagem o rei Turgon recebe a mensagem de alerta de Tuor, para que ele abandonasse Gondolin e fugisse juntamente com seu povo para um local mais seguro, no caso a oeste, pois lá haveria ajuda e todo o suporte para ele e seu povo. Porém Turgon foi orgulhoso e disse que não sairia e abandonaria sua obra, selando assim o seu destino.
Não irei dar spoiler, sendo um estraga-prazer falando o que vai acontecer, pois recomendo a quem se interessar em saber o que houve, pode pesquisar e ler este magnífico livro de Tolkien.
Agora voltando ao contexto profissional, muitas vezes nos envolvemos em diversos projetos ao longo de nossa vida, muitas vezes em um nível tão elevado que imaginamos ele como sendo o nosso ápice, a nossa menina dos olhos ou porque não nossa galinha dos ovos de ouro.
Talvez isso se deva ao fato de que queremos ser lembrados pelos nossos feitos, dos projetos que tivemos envolvimento, sabermos que de alguma forma fizemos a diferença em nossas vidas, ou que mudamos o mundo em que estamos vivendo, mesmo que por um breve período.
Porém, essa nossa vontade de querermos gravar nosso nome para a eternidade pode nos tornar cegos, limitando nossa capacidade de desenvolvimento, fazendo com que fiquemos limitados e acomodados, pois...
Por que vou desejar me desenvolver se eu já estou muito bem onde cheguei?
A estagnação por conta do fato de, que em nossas mentes, termos chegado ao ápice é venenosa, lentamente vai degradando nosso desenvolvimento, turvando nossa visão e impedindo nosso crescimento.
Sendo assim, podemos adaptar esta citação para:
“Portanto, não tenhamos amor em excesso pelas obras de nossas mãos e pelas invenções de nossos corações. Lembra-te que o futuro não jazes enquanto contempla sentado os seus feitos e suas conquistas.”